A família de Manuel Corrêa de Souza era originária de Santana do Parnaíba, hoje parte da Grande São Paulo, de onde saíra, provavelmente, na terceira ou quarta década do século XVIII em direção a Carrancas, sul da Capitania de Minas Gerais. Eram descendentes do flamengo Cornélio de Arzão, cuja biografia está descrita em duas postagens neste blog. Em Carrancas a família Corrêa se adaptou muito bem, onde, provavelmente, no início, tenha se dedicado à prospecção de ouro. Com o passar do tempo, este precioso metal escasseou na região e os faiscadores se dedicaram aos negócios e à atividade agro-pecuária, como ademais todos os paulistas que para aí migraram. A história de seus antepassados está descrita na postagem O Legado de Cornélio de Arzão.
Manuel teve vários irmãos que permaneceram em Carrancas e nas imediações e até hoje seus descendentes podem ali ser encontrados. Mas, Manuel estava insatisfeito com seus poucos ganhos. Não tinha terras, contava com poucos recursos materiais e havia se casado, em 1780, na Matriz de Sant'Ana de Lavras do Funil, sede da freguesia, sessenta e cinco quilômetros a noroeste de Carrancas. Precisava sustentar sua família, agora composta pela esposa, três filhos e quatro escravos, mão de obra indispensável para qualquer família de classe média de então. Assim, como era de hábito naqueles duros tempos, Manuel Corrêa de Souza solicitou, e foi atendido, uma carta de sesmaria ao governador da capitania, localizada no inóspito sertão do Campo Grande, região à esquerda do Alto Rio São Francisco. Essas terras haviam sido tomadas, há pouco menos de três décadas, pela Coroa portuguesa dos índios caiapós que nelas habitavam, de onde foram expulsos em sucessivas expedições de conquista, e os quilombos aí existentes haviam sido destruídos, em particular o maior de todos, o Quilombo do Ambrósio. O autor desta façanha foi o aventureiro paulista, descendente de bandeirantes, Bartolomeu Bueno do Prado, conterrâneo e amigo da família de Manuel.
Vejam no link abaixo um pequeno vídeo da praça da Matriz de N. S. da Conceição, em Carrancas (MG), onde foi batizado Manuel Corrêa de Souza. Em seguida, fotos da Matriz de N. S. da Conceição e da Matriz de Sant'Ana de Lavras do Funil, onde se casou em 1780.
Assim que recebeu sua carta de sesmaria do governador da Capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses, Manuel Corrêa de Souza, esposa, três filhos, e seus poucos agregados e escravos, se puseram em marcha.
Cabe aqui uma pequena nota sobre o governador da Capitania das Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses, autoridade que doou a sesmaria a Manuel Corrêa de Souza. A doação ocorreu em 1788, um ano antes da descoberta, pela Coroa portuguesa, da Conjuração Mineira. Foi ele eternizado (no sentido negativo da palavra) com o pseudônimo, nada honroso, de "Fanfarrão Minésio", nos versos imortais de Tomás Antônio Gonzaga, em suas Cartas Chilenas. Era um homem duro, cruel, inamistoso, sociável apenas com seus amigos de farra, gente de péssimo conceito moral, em noitadas escandalosas pelas tabernas de Vila Rica, pouco afeito à hospitalidade que já se fazia tradição na Capitania das Minas Gerais. A população detestava suas maneiras grosseiras de criticar e agredir a todos, notadamente aos membros da elite econômica e intelectual, de quem invejava o poder, a cultura, a sabedoria e o fino trato. Ao mesmo tempo, era um homem que gostava de se autopromover e contar vantagens sobre suas qualidades pessoais, gabando-se de seu suposto (e mentiroso) vasto círculo de amigos na Corte e sua capacidade de administrar. Daí seu apelido de "fanfarrão". Outro motivo pelo qual granjeou grande antipatia por parte dos moradores da Capitania se deu em decorrência do rigor com que fazia cobrar os impostos: 1- o quinto de todo o ouro ou diamantes que ia direto para o Rei; 2- as entradas, uma espécie de imposto de circulação sobre todas as mercadorias que circulavam pela capitania; 3- e o dízimo, outro imposto destinado ao governo que repassava uma parte para a Igreja.
Retornando a Manuel Corrêa de Souza, feitas as despedidas familiares, deixando muitas saudades e carregando grande emoção, pois todos da grande jornada sabiam que não mais retornariam para os seus, tomaram da Picada de Goiás, em cavalos, mulas e carros de bois. Levavam consigo, além de juntas de bois para conduzir os carros, algumas vacas que serviriam como futuras matrizes de sua boiada. Provavelmente, levavam também alguns cães da família, galinhas poedeiras, galo e, possivelmente, gatos e outros animais domésticos. Podemos imaginar essa grande aventura como uma espécie de Arca de Noé terrestre e tupiniquim, demandando o sertão do Campo Grande. Deixavam para trás toda uma longa história, verdadeira epopeia familiar, que remonta a quase mil anos, desde a Península Ibérica até os confins da Terra de Vera Cruz, que fora conhecida também como Terra dos Papagaios, e, posteriormente, Brasil. Deixavam um passado de lutas, tristezas, triunfos e derrotas, e encaravam o futuro incerto, duro e perigoso. E fizeram história.
Manuel teve vários irmãos que permaneceram em Carrancas e nas imediações e até hoje seus descendentes podem ali ser encontrados. Mas, Manuel estava insatisfeito com seus poucos ganhos. Não tinha terras, contava com poucos recursos materiais e havia se casado, em 1780, na Matriz de Sant'Ana de Lavras do Funil, sede da freguesia, sessenta e cinco quilômetros a noroeste de Carrancas. Precisava sustentar sua família, agora composta pela esposa, três filhos e quatro escravos, mão de obra indispensável para qualquer família de classe média de então. Assim, como era de hábito naqueles duros tempos, Manuel Corrêa de Souza solicitou, e foi atendido, uma carta de sesmaria ao governador da capitania, localizada no inóspito sertão do Campo Grande, região à esquerda do Alto Rio São Francisco. Essas terras haviam sido tomadas, há pouco menos de três décadas, pela Coroa portuguesa dos índios caiapós que nelas habitavam, de onde foram expulsos em sucessivas expedições de conquista, e os quilombos aí existentes haviam sido destruídos, em particular o maior de todos, o Quilombo do Ambrósio. O autor desta façanha foi o aventureiro paulista, descendente de bandeirantes, Bartolomeu Bueno do Prado, conterrâneo e amigo da família de Manuel.
Vejam no link abaixo um pequeno vídeo da praça da Matriz de N. S. da Conceição, em Carrancas (MG), onde foi batizado Manuel Corrêa de Souza. Em seguida, fotos da Matriz de N. S. da Conceição e da Matriz de Sant'Ana de Lavras do Funil, onde se casou em 1780.
Carrancas, vista aérea. Encravada na Serra da Mantiqueira, a cidade, de menos de 4 mil habitantes, ainda respira um bucólico ar colonial. |
Matriz de N. S. Conceição de Carrancas, onde foi batizado Manuel Corrêa de Souza, em 1758. |
Matriz de N.S. Conceição de Carrancas. Interior do templo. |
Pia batismal onde foi batizado Manuel Corrêa de Souza,
em 1758, na Matriz de N.S. Conceição de Carrancas.
Matriz de Sant'Ana em Lavras, construída em 1750. Onde se casou Manuel Corrêa de Souza, em 1780. |
Altar da Matriz de Sant'Ana, em Lavras. |
Livro de registros de casamentos da Matriz de Sant'Ana, de Lavras, onde está registrado o casamento de Manuel Corrêa de Souza, assinado pelo padre Ignacio Xavier Bucanoff. |
Estado de conservação do Livro de Registros de Casamentos, onde consta o matrimônio de Manuel Corrêa de Souza com Maria Andreza de Jesus. |
Certidão de Casamento, cópia do registro original, de Manuel Corrêa de Souza e Maria Andreza de Jesus. |
Assim que recebeu sua carta de sesmaria do governador da Capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses, Manuel Corrêa de Souza, esposa, três filhos, e seus poucos agregados e escravos, se puseram em marcha.
Cabe aqui uma pequena nota sobre o governador da Capitania das Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses, autoridade que doou a sesmaria a Manuel Corrêa de Souza. A doação ocorreu em 1788, um ano antes da descoberta, pela Coroa portuguesa, da Conjuração Mineira. Foi ele eternizado (no sentido negativo da palavra) com o pseudônimo, nada honroso, de "Fanfarrão Minésio", nos versos imortais de Tomás Antônio Gonzaga, em suas Cartas Chilenas. Era um homem duro, cruel, inamistoso, sociável apenas com seus amigos de farra, gente de péssimo conceito moral, em noitadas escandalosas pelas tabernas de Vila Rica, pouco afeito à hospitalidade que já se fazia tradição na Capitania das Minas Gerais. A população detestava suas maneiras grosseiras de criticar e agredir a todos, notadamente aos membros da elite econômica e intelectual, de quem invejava o poder, a cultura, a sabedoria e o fino trato. Ao mesmo tempo, era um homem que gostava de se autopromover e contar vantagens sobre suas qualidades pessoais, gabando-se de seu suposto (e mentiroso) vasto círculo de amigos na Corte e sua capacidade de administrar. Daí seu apelido de "fanfarrão". Outro motivo pelo qual granjeou grande antipatia por parte dos moradores da Capitania se deu em decorrência do rigor com que fazia cobrar os impostos: 1- o quinto de todo o ouro ou diamantes que ia direto para o Rei; 2- as entradas, uma espécie de imposto de circulação sobre todas as mercadorias que circulavam pela capitania; 3- e o dízimo, outro imposto destinado ao governo que repassava uma parte para a Igreja.
Retornando a Manuel Corrêa de Souza, feitas as despedidas familiares, deixando muitas saudades e carregando grande emoção, pois todos da grande jornada sabiam que não mais retornariam para os seus, tomaram da Picada de Goiás, em cavalos, mulas e carros de bois. Levavam consigo, além de juntas de bois para conduzir os carros, algumas vacas que serviriam como futuras matrizes de sua boiada. Provavelmente, levavam também alguns cães da família, galinhas poedeiras, galo e, possivelmente, gatos e outros animais domésticos. Podemos imaginar essa grande aventura como uma espécie de Arca de Noé terrestre e tupiniquim, demandando o sertão do Campo Grande. Deixavam para trás toda uma longa história, verdadeira epopeia familiar, que remonta a quase mil anos, desde a Península Ibérica até os confins da Terra de Vera Cruz, que fora conhecida também como Terra dos Papagaios, e, posteriormente, Brasil. Deixavam um passado de lutas, tristezas, triunfos e derrotas, e encaravam o futuro incerto, duro e perigoso. E fizeram história.
Antes de prosseguir no relato da verdadeira
aventura desses pioneiros por terras incógnitas, vamos descrever quais itinerários haviam disponíveis
para os viajantes daqueles tempos. Foi uma questão muito discutida entre
historiadores se houve apenas uma Picada de Goiás ou se foram várias. Hoje há
um consenso (ver Renger, Friedrich E. A
origem histórica das estradas reais nas Minas Setecentistas. In: Resende,
Maria Efigênia Lage e Villalta, Luiz Carlos. História de Minas Gerais. As Minas Setecentistas. Belo Horizonte.
Editora Autêntica, 2007, p.127-137.
Em função da imensidão do território das Minas Gerais e das suas múltiplas interconexões com as Capitanias de Goiás, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, não seria possível apenas uma picada, pois, do contrário, os descaminhos do ouro e diamantes, a fuga dos impostos e dos quintos, seriam muito difíceis para os traficantes e sonegadores, que representavam a maioria da população, inclusive de reinóis ou portugueses.
Assim é, que, havia diversas picadas, a mais importante delas, saindo da Borda do Campo (atual Barbacena), era uma continuidade do Caminho Novo, para o Rio de Janeiro (este construído por Garcia Paes Leme, o filho de Fernão Dias Paes, em 1698), e era reconhecido como um dos ramos da Estrada Real. Esta picada que demandava a Capitania de Goiás, onde havia sido descoberto muito ouro, era de importância capital para a Coroa portuguesa, que exigia o controle rigoroso da cobrança dos quintos e, depois, da capitação (as pessoas pagavam elevados impostos, em forma de ouro em pó ou em barras, de acordo com o número de escravos que havia em suas lavras). Foi denominada de “Picadão dos Guayases” e, depois, Picada de Goiás. Partia da Borda do Campo, atual Barbacena, encruzilhada que se comunicava com o Caminho Novo, vindo do Rio de Janeiro, saía da Comarca de Villa Rica e passava para a Comarca do Rio das Mortes, alcançava São João Del-Rei, onde fazia a conexão com o Caminho Velho, para São Paulo, prosseguia até São José Del-Rei (atual Tiradentes), se dirigia para noroeste (a sudoeste da atual cidade de Oliveira), passava por povoados como Santiago e São João Batista e alcançava o Tamanduá (atual Itapecerica). Mais acima, chegava ao povoado de Bambuí e logo transpunha as águas do rio São Francisco, bem abaixo da barra do rio Bambuí. Podia atravessar este rio na chamada Passagem das Perdizes, ou se dirigia para o sudoeste, evitando a Serra da Canastra e o rio Bambuí, e voltava a tomar rumo noroeste entrando em território da Capitania de Goiás, conhecido como da Farinha Podre (hoje Triângulo Mineiro), a leste da atual cidade de Araxá. Daí ela tomava duas direções: a primeira continuava em sua marcha para noroeste, penetrando cada vez mais na Capitania de Goiás.
A outra, tomava a direção nordeste, passando por detrás da Serra da Canastra e demandando Paracatu, onde havia sido descoberto ouro em 1744, e era ponto importante de conexão para o norte de Goiás e para o norte e nordeste da Capitania de Minas Gerais, consequentemente caminho para a Bahia. Esta picada foi construída entre 1736/38, seguindo trilhas indígenas centenárias, senão milenárias. Os responsáveis pela obra, que não passava de alargamento da trilha indígena já existente, estabelecimento de serviços de balsas e canoas para atravessar as vias fluviais e, construção a cada três léguas de uma pousada para os viajantes, foram Francisco Rodrigues Gondim e Manoel Rodrigues Gondim. A distância entre seus pontos extremos, Vila Boa de Goiás e a cidade do Rio de Janeiro, perfazia um total de 266 léguas, ou 1596 quilômetros. Os corajosos que se dispusessem a tal empreitada enfrentavam uma verdadeira aventura. Este trecho era mais seguro, em função da destruição, ou expulsão, de tribos de índios hostis e de quilombolas nas proximidades do trajeto.
Em função da imensidão do território das Minas Gerais e das suas múltiplas interconexões com as Capitanias de Goiás, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, não seria possível apenas uma picada, pois, do contrário, os descaminhos do ouro e diamantes, a fuga dos impostos e dos quintos, seriam muito difíceis para os traficantes e sonegadores, que representavam a maioria da população, inclusive de reinóis ou portugueses.
Assim é, que, havia diversas picadas, a mais importante delas, saindo da Borda do Campo (atual Barbacena), era uma continuidade do Caminho Novo, para o Rio de Janeiro (este construído por Garcia Paes Leme, o filho de Fernão Dias Paes, em 1698), e era reconhecido como um dos ramos da Estrada Real. Esta picada que demandava a Capitania de Goiás, onde havia sido descoberto muito ouro, era de importância capital para a Coroa portuguesa, que exigia o controle rigoroso da cobrança dos quintos e, depois, da capitação (as pessoas pagavam elevados impostos, em forma de ouro em pó ou em barras, de acordo com o número de escravos que havia em suas lavras). Foi denominada de “Picadão dos Guayases” e, depois, Picada de Goiás. Partia da Borda do Campo, atual Barbacena, encruzilhada que se comunicava com o Caminho Novo, vindo do Rio de Janeiro, saía da Comarca de Villa Rica e passava para a Comarca do Rio das Mortes, alcançava São João Del-Rei, onde fazia a conexão com o Caminho Velho, para São Paulo, prosseguia até São José Del-Rei (atual Tiradentes), se dirigia para noroeste (a sudoeste da atual cidade de Oliveira), passava por povoados como Santiago e São João Batista e alcançava o Tamanduá (atual Itapecerica). Mais acima, chegava ao povoado de Bambuí e logo transpunha as águas do rio São Francisco, bem abaixo da barra do rio Bambuí. Podia atravessar este rio na chamada Passagem das Perdizes, ou se dirigia para o sudoeste, evitando a Serra da Canastra e o rio Bambuí, e voltava a tomar rumo noroeste entrando em território da Capitania de Goiás, conhecido como da Farinha Podre (hoje Triângulo Mineiro), a leste da atual cidade de Araxá. Daí ela tomava duas direções: a primeira continuava em sua marcha para noroeste, penetrando cada vez mais na Capitania de Goiás.
A outra, tomava a direção nordeste, passando por detrás da Serra da Canastra e demandando Paracatu, onde havia sido descoberto ouro em 1744, e era ponto importante de conexão para o norte de Goiás e para o norte e nordeste da Capitania de Minas Gerais, consequentemente caminho para a Bahia. Esta picada foi construída entre 1736/38, seguindo trilhas indígenas centenárias, senão milenárias. Os responsáveis pela obra, que não passava de alargamento da trilha indígena já existente, estabelecimento de serviços de balsas e canoas para atravessar as vias fluviais e, construção a cada três léguas de uma pousada para os viajantes, foram Francisco Rodrigues Gondim e Manoel Rodrigues Gondim. A distância entre seus pontos extremos, Vila Boa de Goiás e a cidade do Rio de Janeiro, perfazia um total de 266 léguas, ou 1596 quilômetros. Os corajosos que se dispusessem a tal empreitada enfrentavam uma verdadeira aventura. Este trecho era mais seguro, em função da destruição, ou expulsão, de tribos de índios hostis e de quilombolas nas proximidades do trajeto.
Outra picada alternativa tornava-se necessária
dada a intensidade das trocas comerciais entre a Vila de Pitangui e a Vila de
Paracatu, controle fiscal e policial sobre a região diamantífera do
Indaiá-Abaeté, transporte rápido de tropas e mercadorias atalho que comunicasse
a Vila do Pitangui com a Vila de Paracatu, ambas territórios auríferos. Além do
mais, a Coroa tinha necessidade de povoar a região do Campo Grande, a oeste do
rio São Francisco, com a finalidade de recolher mais tributos, o imposto do
quinto de seus colonos e exploradores. Coube a empreitada para a construção de
tal variante a Domingos de Brito, que fez um consórcio entre vários amigos para
essa obra, entre eles Manoel Pinto e Luís Aires. Em troca, receberiam sesmarias
e direitos de pedágio nas passagens fluviais de todo o trajeto. Como este
atalho atravessasse o rio São Francisco pela Passagem do Piraquara, ficou
conhecida como Picada de Goiás-variante Piraquara. Atravessava os territórios
das atuais cidades de Dores do Indaiá (passava exatamente onde hoje é o centro
de Dores – bairro Cerrado, Escola Normal, Praça São Sebastião), Estrela do
Indaiá, Serra da Saudade, e podia se bifurcar: uma picada ia em direção a São
Gotardo, Tiros e subia para Paracatu, a outra picada se dirigia ao Quartel
Geral, Abaeté, margeava o lado esquerdo do rio São Francisco, até tomar direção
noroeste e chegar a Paracatu. Domingos de Brito, seus sócios e muitos outros
sesmeiros, ao tentar se estabelecer na região, foram violentamente atacados
pelos índios caiapós (da nação tapuia) e pelos quilombolas, que também assaltavam e matavam nas
fazendas. Os que restaram vivos, entre eles o próprio Domingos abandonaram as
terras, de forma que não são considerados os moradores pioneiros do território. Suas terras foram consideradas devolutas pela Coroa e foram divididas em novas sesmarias, desta vez bem menores, que foram entregues a novos aventureiros destemidos que se dispuseram a enfrentar o sertão bravio.
Uma terceira variante da Picada de Goiás (alguns
autores não a consideram uma picada que possa receber este nome) partia de
Sabará, tomava a direção noroeste, margeava o rio Paraopeba até sua barra no
rio São Francisco e se unia à variante do Piraquara em direção a Paracatu.
Retomemos a história de Manuel Corrêa de Souza. Entraram todos, ele, sua família, escravos, e sua bicharada, em território da
Comarca do Rio das Mortes, passaram por São João Del-Rei, no território ao sul
da atual cidade de Oliveira, chegaram ao povoado do Tamanduá (atual
Itapecerica) e se dirigiram para o norte até chegar a Pitangui, na Comarca de
Sabará. Foram dias de jornada estafante, acordando de madrugada, iniciando a
jornada por volta das 4 horas da manhã e a interrompendo antes do meio-dia, a
fim de um bom descanso, recuperação das energias corporais e para recomeçar
tudo de novo na madrugada seguinte.
Percorria-se, naqueles tempos, uma média de três e meia léguas por dia, dependendo das condições físicas dos viajantes e dos animais, mantendo uma marcha sem interrupções. Geralmente, as paradas para descanso e uma boa noite de sono se davam em ranchos, que eram taperas de sapé, na beira da picada, próximas a leitos d'água. Geralmente havia uma outra tapera próxima, com seu morador, que vendia as "iguarias" possíveis naquele fim-de-mundo: mandioca, milho, a carne disponível (quando havia), o que pudesse ser encontrado de comestível na região, uma caça (como tatu, já que carne de paca ou capivara era um luxo para poucos) ou peixe.
Percorria-se, naqueles tempos, uma média de três e meia léguas por dia, dependendo das condições físicas dos viajantes e dos animais, mantendo uma marcha sem interrupções. Geralmente, as paradas para descanso e uma boa noite de sono se davam em ranchos, que eram taperas de sapé, na beira da picada, próximas a leitos d'água. Geralmente havia uma outra tapera próxima, com seu morador, que vendia as "iguarias" possíveis naquele fim-de-mundo: mandioca, milho, a carne disponível (quando havia), o que pudesse ser encontrado de comestível na região, uma caça (como tatu, já que carne de paca ou capivara era um luxo para poucos) ou peixe.
É
possível que Manuel Corrêa de Souza já tivesse tomado conhecimento das agruras
pelas quais passavam os que se aventurassem por aqueles ermos. Tanto é que
Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Caminhos e Fronteiras - Edição
Ilustrada (Rio de Janeiro. Livraria José Olympio Editora, 1957), à página
65, descreve como era a rotina diária de quem percorria as diversas picadas das
Minas Gerais:
"Ainda em outubro de 1717, quando percorreu a capitania em demanda
das minas, D. Pedro de Almeida e Portugal encontrou quem lhe oferecesse, sem
hesitar, antes com o mais vivo empenho, 'humas poucas formigas', acompanhando
meio macaco. O macaco, explicou-lhe o obsequioso hospedeiro, era a caça mais
mimosa daqueles matos, e as formigas, depois de convenientemente tostadas ao
fogo, comparavam-se à melhor manteiga de Flandres. (Diário da jornada que fes o
Exmo. Senhor Dom Pedro desde o Rio de Janeiro athé a Cidade de São
Paulo)".
Depois
de uma estafante jornada, de muitos dias, chegava-se a Pitangui, então o centro
polarizador e colonizador de toda a região a noroeste de seu território. Em Pitangui
era costume toda caravana estacionar por alguns dias, para reabastecimento,
efetuar um longo repouso, assistir aos ofícios religiosos e manter contato com
a civilização.
Após
alguns dias, pé na estrada novamente, melhor dizendo, pé na picada.
Nesta
etapa, o terreno era menos difícil: campos ondulados e o cerrado imenso, com
algumas faixas aqui e acolá de mata fechada. Entretanto, não eram grandes obstáculos.
Afinal, a Picada vinha sendo muito utilizada pelos viajantes que aproveitavam o
período da estiagem para seus grandes deslocamentos.
A
Passagem do Piraquara, quando se atravessava o rio São Francisco, na atual
fronteira dos municípios de Bom Despacho e Dores do Indaiá, não era um problema
muito sério nessa época do ano. No período chuvoso, toda a região se tornava
um imenso lago, com vários quilômetros de comprimento e de três a cinco
quilômetros de largura. O grande mar interior corria paralelo e muito próximo
ao rio São Francisco, quando as águas deste extravasavam de seu leito e
alagavam tudo. Durante quatro ou cinco meses a tarefa de transpor essa passagem
era uma aventura traiçoeira. O furor das águas do rio impedia, com frequência,
a sua realização. Incontáveis foram os acidentes fatais ali ocorridos durante
décadas. Havia um barqueiro que fazia o transporte das pessoas e uma balsa para
o transporte dos animais, das cargas e dos carros de bois. Havia também pousada e venda que oferecia os produtos mais necessitados pelos viajantes.
Após a transposição, passava-se por terras da
Fazenda Santa Fé, do Capitão Amaro da Costa Guimarães que, desde 1765, já
morava naquele local, tendo obtido sua carta de sesmaria em 1785, após vinte
anos de residência ali e exploração do terreno. Pelo menos, é o que consta em
sua carta de solicitação da sesmaria, que lhe foi concedida. A ele e a seus
três irmãos, que também haviam solicitado suas cartas de sesmarias. Eram os
mais antigos sesmeiros da região. O Capitão Amaro e seus irmãos haviam se
mudado para o território a leste da Serra da Saudade na mesma época. Haviam
partido de Itaverava (ou Itaberaba), quando o ouro começou a escassear na
região. Cada qual havia recebido sua carta de sesmaria e se estabelecido nas terras que lhes couberam. As
propriedades dos irmãos ficavam além da de Amaro.
Conforme descrito pelo prof. Waldemar de Almeida Barbosa em seu Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, de 1985, p.120, Amaro tinha sua sesmaria entre o rio São Francisco, o ribeirão das Antas e ribeirão do Jorge do Meio. A sesmaria de João ficava além da de Amaro, a partir do ribeirão das Antas. A de José era mais adiante, além do ribeirão dos Porcos, na região do Morro do Palhano, um cocoruto, separado, mas próximo da Serra da Saudade, mas que se destaca lindamente na paisagem. Esta propriedade ia até o sopé da serra, incluindo parte do atual município de Estrela do Indaiá. A de Joaquim foi por ele escolhida entre as terras de João e de José, no território que ia até a ponta da serra do Indaiá, no que é hoje o município de Serra da Saudade.
Conforme descrito pelo prof. Waldemar de Almeida Barbosa em seu Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, de 1985, p.120, Amaro tinha sua sesmaria entre o rio São Francisco, o ribeirão das Antas e ribeirão do Jorge do Meio. A sesmaria de João ficava além da de Amaro, a partir do ribeirão das Antas. A de José era mais adiante, além do ribeirão dos Porcos, na região do Morro do Palhano, um cocoruto, separado, mas próximo da Serra da Saudade, mas que se destaca lindamente na paisagem. Esta propriedade ia até o sopé da serra, incluindo parte do atual município de Estrela do Indaiá. A de Joaquim foi por ele escolhida entre as terras de João e de José, no território que ia até a ponta da serra do Indaiá, no que é hoje o município de Serra da Saudade.
O Capitão Amaro era um homem simples e receptivo
aos seus pares fazendeiros, hospedando-os em sua propriedade, a Fazenda Santa
Fé. Era simples, mas muito rico. Sua riqueza era mais proveniente dos garimpos
de diamante que mantinha no rio Indaiá. O fazendeiros mantinham contatos
periódicos uns com os outros, bem como com os demais sesmeiros que foram
chegando. Assim, quando Manuel Corrêa de Souza ali arribou, o Capitão não lhe
deu um tratamento diferente dos demais.
A marcha continuava, os viajantes transpuseram os
ribeirões dos Porcos e dos Patos, até que chegaram ao seu destino final. Sua
sesmaria ficava próxima a um incipiente povoado, no alto de uma colina com uma
vista deslumbrante de 360 graus, em plena Picada de Goiás, variante do
Piraquara. Chamava-se o povoado de Rancho da Boa Vista. Os moradores eram
alguns brancos que haviam vasculhado a região em busca do ouro e diamantes,
negros remanescentes do Arraial dos Porcos, destruído pelas enchentes do
período chuvoso e até alguns quilombolas desgarrados.
Olhando-se para o oeste, descortinava-se a vista monumental da Serra da Saudade e, para a esquerda, sua continuidade, a Serra da Marcela, irmãs gêmeas e partes inseparáveis da Serra da Canastra. Para o nordeste a serra continuava por dezenas de quilômetros até ir se reduzindo de tamanho e terminar na Barra do Rio Abaeté, em sua junção com o rio São Francisco. Uma região maravilhosa, apesar de todos os problemas existentes. Manuel Corrêa de Souza deve ter pensado com seus botões que, afinal, valera a pena tanto esforço. Um esforço quase sobre-humano.
Olhando-se para o oeste, descortinava-se a vista monumental da Serra da Saudade e, para a esquerda, sua continuidade, a Serra da Marcela, irmãs gêmeas e partes inseparáveis da Serra da Canastra. Para o nordeste a serra continuava por dezenas de quilômetros até ir se reduzindo de tamanho e terminar na Barra do Rio Abaeté, em sua junção com o rio São Francisco. Uma região maravilhosa, apesar de todos os problemas existentes. Manuel Corrêa de Souza deve ter pensado com seus botões que, afinal, valera a pena tanto esforço. Um esforço quase sobre-humano.
Ao chegar à sua sesmaria, o Correinha, como logo
passou a ser chamado, percebeu que não teria um trabalho fácil pela frente.
Tendo levado mulher, três filhos e três escravos, como já dissemos, pois sua
situação financeira não era das melhores, observando as suaves colinas e
campinas a perder de vista para o leste, para o sul e para o norte, já que para
o oeste se deparava com a vista magnífica do imponente paredão azulado da Serra
da Saudade, percebeu o tamanho e a enormidade do sacrifício que a nova vida lhe
reservava. Mas, era um homem determinado. Assim que colocou suas coisas em um
barraco de pau-a-pique, de taipa e coberto de sapé, abrigou seus animais, iniciou a sua faina diária.
Começou construindo lentamente a sede de sua fazenda, doravante chamada de Fazenda dos Patos, bem próxima ao
Ribeirão dos Patos e do Córrego das Condutas, numa região de clima mais ameno e
agradável do que em outras paragens próximas. Não era comum, nesta região, a construção separada das moradias dos senhores e dos escravos, como muito bem descrito por Gilberto Freyre em seu clássico Casa Grande e Senzala. Os moradores do Campo Grande construíam quartos para seus escravos em suas próprias casas, geralmente no primeiro pavimento, ou porão, numa convivência muito próxima, quase que como uma grande família. As terras do Correinha tinham três léguas de quadra, tamanho padrão de todas as sesmarias naquela
região. Era muito chão para ser cuidado. Mas ele não teve receio e enfrentou a
parada.
Os riscos eram muitos. Apesar de os índios caiapós, pertencentes à grande etnia tapuia, assim como os quilombolas do Quilombo do Ambrósio, terem sido
expulsos da região há bem uns trinta anos (em 1759/60 o Capitão-Mor Bartolomeu
Bueno do Prado empreendera a batalha final dizimando os quilombos do Campo
Grande, entre eles o do Ambrósio), ainda havia ameaça de quilombolas
desgarrados, bem como índios, que frequentemente assaltavam fazendas e
viajantes da Picada de Goiás, assassinando os homens e seus familiares, estuprando
as mulheres e roubando tudo o que fosse possível de ser carregado.
Para complicar a situação, haviam sido descobertos diamantes na região dos rios Indaiá e Abaeté, na década de 30 do século XVIII. A notícia havia sido mantida em sigilo pelos descobridores a fim de que se locupletassem rapidamente e também pela Coroa portuguesa. A ela não interessava que a boa nova se espalhasse pelo mundo e que, assim como havia ocorrido com o ouro, pudesse ser prejudicada com os descaminhos dessas pedras mágicas. A notícia se espalhou somente na década de 70 do mesmo século. Isso provocou uma verdadeira corrida para o local de aventureiros de todo tipo, do Brasil e d’além mar. O relato da descoberta das cobiçadas pedras nessa região correra pela Europa como um raio e, em pouco tempo, o território sofreu uma invasão em tudo semelhante à que ocorrera quase cem anos antes, quando se dera a conhecer a descoberta do ouro na Casa do Casca, próximo a Caeté, e no vale do Tripuí, em Vila Rica, e em Mariana. Assim como ocorreria nos Estados Unidos da América do Norte, quando, em 1848, se descobriu ouro na Califórnia. O fato acarretaria uma verdadeira catástrofe humana, social e ambiental.
A muito custo, a Coroa portuguesa estava começando a controlar a bandidagem que imperava em toda a região desses dois rios, afluentes do São Francisco. A fundação do Arraial do Espírito Santo (Quartel Geral), ainda na década de 80 do século XVIII, para onde foram designados alguns soldados que ficaram aquartelados, deveu-se basicamente à necessidade da criação de um posto de fiscalização, com o propósito de evitar o desvio e contrabando de ouro e diamantes. Mal sabia a Corte portuguesa que seus próprios oficiais e soldados, bem como até as autoridades governamentais em Vila Rica, se davam ao bel-prazer de traficarem e contrabandearem as cobiçadas pedras. Assim, a violência campeava pela bela e remota região que parecia ter sido esquecida por Deus e pela Corte. Na verdade, a Coroa se via impotente para impedir os descaminhos do ouro e diamantes tal era a quantidade de picadas e caminhos alternativos construídos pelos garimpeiros, faiscadores, aventureiros e bandidos. Era também impressionante a criatividade dos contrabandistas para esconder as pedras e o ouro em pó, alguns escondidos até em potes de farinha e em saltos de botas.
Para complicar a situação, haviam sido descobertos diamantes na região dos rios Indaiá e Abaeté, na década de 30 do século XVIII. A notícia havia sido mantida em sigilo pelos descobridores a fim de que se locupletassem rapidamente e também pela Coroa portuguesa. A ela não interessava que a boa nova se espalhasse pelo mundo e que, assim como havia ocorrido com o ouro, pudesse ser prejudicada com os descaminhos dessas pedras mágicas. A notícia se espalhou somente na década de 70 do mesmo século. Isso provocou uma verdadeira corrida para o local de aventureiros de todo tipo, do Brasil e d’além mar. O relato da descoberta das cobiçadas pedras nessa região correra pela Europa como um raio e, em pouco tempo, o território sofreu uma invasão em tudo semelhante à que ocorrera quase cem anos antes, quando se dera a conhecer a descoberta do ouro na Casa do Casca, próximo a Caeté, e no vale do Tripuí, em Vila Rica, e em Mariana. Assim como ocorreria nos Estados Unidos da América do Norte, quando, em 1848, se descobriu ouro na Califórnia. O fato acarretaria uma verdadeira catástrofe humana, social e ambiental.
A muito custo, a Coroa portuguesa estava começando a controlar a bandidagem que imperava em toda a região desses dois rios, afluentes do São Francisco. A fundação do Arraial do Espírito Santo (Quartel Geral), ainda na década de 80 do século XVIII, para onde foram designados alguns soldados que ficaram aquartelados, deveu-se basicamente à necessidade da criação de um posto de fiscalização, com o propósito de evitar o desvio e contrabando de ouro e diamantes. Mal sabia a Corte portuguesa que seus próprios oficiais e soldados, bem como até as autoridades governamentais em Vila Rica, se davam ao bel-prazer de traficarem e contrabandearem as cobiçadas pedras. Assim, a violência campeava pela bela e remota região que parecia ter sido esquecida por Deus e pela Corte. Na verdade, a Coroa se via impotente para impedir os descaminhos do ouro e diamantes tal era a quantidade de picadas e caminhos alternativos construídos pelos garimpeiros, faiscadores, aventureiros e bandidos. Era também impressionante a criatividade dos contrabandistas para esconder as pedras e o ouro em pó, alguns escondidos até em potes de farinha e em saltos de botas.
A região já contava com uma boa quantidade de
sesmeiros. Segundo o prof. Waldemar de Almeida Barbosa, em outra obra,
intitulada Dores do Indaiá do Passado,
1964, p.18/19, podemos citar os seguintes proprietários e moradores (há
referência a outros moradores, o próprio prof. Waldemar Barbosa falava em 39
sesmeiros originais, porém não há referência de todos):
1-Manoel da Costa Mascarenhas recebeu sua sesmaria em 1790, no ribeirão
dos Patos, comprando a fazenda de Custódio Vieira Lanhoso (um dos membros do
consórcio construtor da Picada de Goiás). Sua fazenda recebeu o nome de Bom
Jardim.
2-Alferes Manoel Batista Gomes, que se tornara famoso com a descoberta
do “diamante do Abaeté” (que, segundo alguns, fora encontrado próximo ao rio
Indaiá, nos socavões da Serra da Saudade, pelo seu filho Antônio Gomes Batista).
Após uma suposta viagem dele para Portugal a fim de reivindicar para si, junto
à Coroa, a descoberta do diamante (que tinha sido dele usurpado por um
sacerdote de Pitangui, chamado Anastácio), voltou com o título de Tesoureiro da
Intendência de Sabará. Ele se assentou com seus filhos, Manoel Gomes Batista e
Antônio Gomes Batista, nas fazendas do Capim Branco do Campo Alegre, ali também
se fixando Francisco da Silva e Ana Batista de Santo Inácio. A fazenda,
posteriormente, seria denominada de Fazenda das Gerais. Era um homem muito
influente na região, principalmente pelas suas ligações com o garimpo de
diamantes.
3-Antônio Pereira de Castro, na Fazenda do Japão.
4-Teodósio Cardoso de Aguiar, Manoel Martins (no local chamado o
Saltador), Manoel Antônio Gomes e Inês Clara de Jesus, todos assentaram suas
fazendas no ribeirão dos Veados.
5-Manoel Joaquim de Souza, na Fazenda Gerais Velho.
6-José Gomes de Moura, na Fazenda Barra do Japão.
7-Joaquim Pereira de Castro, na Fazenda Espírito Santo, além do
ribeirão dos Veados.
8-João Soares da Silveira, com sua fazenda entre o morro do Esgalgado e
o ribeirão do Tatu.
9-José Monteiro, com fazenda entre o ribeirão dos Patos, o rio São
Francisco e ribeirão dos Veados.
10-Manoel Pereira da Silveira, com fazenda entre o ribeirão do Tatu e o
ribeirão do Japão.
11-Antônio Francisco Xavier, com fazenda entre o ribeirão dos Veados e
o rio São Francisco.
12-Maria Gomes Teixeira, com fazenda entre o ribeirão dos Veados e o
ribeirão do Tatu.
13-Joaquim Rodrigues da Cunha, com fazenda no ponto chamado Macaúbas.
14-José de Oliveira Braga, com fazenda na Mata dos Ruas.
15-João Moreira dos Reis e José dos Santos Rodrigues, arremataram em
Pitangui o sítio da Boa Vista.
16-Antônio Joaquim Rodrigues, com fazenda na região entre os ribeirões
Jorge do Meio e Jorge Pequeno.
17-João Teixeira de Camargos, também com fazenda na região dos
ribeirões Jorge do Meio e Jorge Pequeno. Ele foi o guarda-mor do distrito do
Aterrado (atual cidade de Luz). Havia chegado à região através de Bambuí.
18-José Simões de Oliveira, na Fazenda do Mandassaia, nos limites da
propriedade do Capitão Amaro da Costa Guimarães. Ele também havia chegado por
Bambuí.
19-Manoel Rodrigues da Cunha, que assentou-se nos limites das terras de
Joaquim Rodrigues da Cunha.
20-Caetano Rodrigues Tavares, que estabeleceu-se na Fazenda dos Cocais,
tendo entrado também por Bambuí.
21-Manoel Lopes Vidal, que estabeleceu-se entre os ribeirões Jorge do
Meio e Jorge Pequeno. Ele viera da região do Paraopeba e passara por Bambuí.
22-Albino José Pinto Coelho, na Fazenda dos Cocais.
23-Elias Pinto Coelho, na Fazenda do Sobrado. Estes Pinto Coelho
descendiam de militares residentes em Pitangui.
24-Antônio de Souza Fernandes, também na Fazenda dos Cocais.
25-Manoel Lino Fiúza, sem referência do local assentado.
26-Manoel Alves Cirino, um dos fundadores da Fazenda Cachoeira, origem da família Oliveira de Dores do Indaiá.
27-Manoel Ribeiro, sem referência do local.
O prof. Waldemar Barbosa deixou de fora da lista o
Capitão Amaro da Costa Guimarães, da Fazenda Santa Fé, o mais antigo sesmeiro
da região, e seus três irmãos, João, José e Joaquim. Incluindo-os, no total,
são 31 sesmeiros relacionados oficialmente pelo grande historiador dorense.
Deixou de fora da lista também José de Sousa Coelho (Juca de Sousa), de Pitangui,
e Antônio Caetano da Silva Guimarães, citados por Carlos Cunha Corrêa como dois
dos fazendeiros que participaram da fundação do povoado. Sobre o primeiro, já
foi exaustivamente escrito pelo prof. Rubens Fiúza, que é um seu descendente, em
seus livros “O Diamante do Abaeté e Outros Contos” e “Do São Francisco ao
Indaiá”. Segundo Rubens Fiúza, ele seria proprietário da Fazenda Santiago,
junto à lagoa do Quartel Geral, onde se dedicava mais ao exercício da mineração
de diamantes e ao seu contrabando. Entretanto, o prof. Waldemar Barbosa não encontrou
qualquer documento que provasse ser ele o legítimo proprietário da Fazenda
Santiago. Sabe-se que ele foi membro da Câmara Municipal de Pitangui (camarista)
e tinha interesses na região de Dores do Indaiá. É possível que a afirmação de
Rubens Fiúza seja correta quanto a ser
ele um contrabandista de diamantes para o cartel judaico internacional com sede
em Amsterdã e Londres. Mas, a historiografia exige provas ou evidências fortes
e elas não existem. Fica a impressão de que muito da história sobre José de
Sousa Coelho (Juca de Sousa) seja mais uma estória, isto é, uma ficção baseada
em relatos orais. Os documentos nos quais Rubens Fiúza se baseou para fazer sua
longa digressão sobre este personagem não foram vistos por nenhum outro
historiador proeminente. Portanto, na dúvida, não podemos afirmar e nem
desconfirmar tais estórias. Aguardamos novas pesquisas para que novos fatos
venham à luz. Não sabemos, assim, como José de Sousa Coelho e Antônio Caetano
da Silva Guimarães participaram da fundação de Dores do Indaiá e de quais
propriedades tinham posse.
Dada a difícil situação em que os sesmeiros se
encontravam, a única solução possível para se verem livres da violência e dos
assaltos foi a da união de todo o grupo. Havia solidariedade entre eles, apesar
de pequenas rusgas, frutos de competição e falta de demarcação correta das
terras, ou pela inexistência dessa demarcação. Somente de tempos em tempos os
demarcadores oficiais, enviados pelo governador, chegavam ao local.
Assim, com o correr do tempo, com os filhos crescendo, com a falta de
assistência escolar para eles, falta de assistência médica e dentária, com a
religiosidade sem expressão pela carência de párocos, mesmo em trânsito,
inexistência de igrejas, falta de lazer que satisfizesse a esses excluídos da
civilização, o grupo de sesmeiros chegou à conclusão de que, mais que nunca,
era necessária a união de todos para a construção de um povoado, onde seus anseios pudessem ser atendidos. Começaram a se reunir periodicamente. Cada
reunião era feita em uma fazenda diferente, de forma que todos pudessem
participar de forma equilibrada. As coisas foram evoluindo, mas logo surgiram
divergências, pois cada um queria que o povoado fosse construído em terreno de
sua fazenda.
Para se entender melhor o que ocorria, temos que
nos reportar ao historiador pioneiro de Dores do Indaiá, João Sabino Ribeiro,
misto de funcionário público, jornalista, escritor e historiador, que, em 1905,
publicou no jornal “O Indaiá” o seu relato dos acontecimentos. Baseava-se na
tradição oral do povo de Dores do Indaiá, transmitida de geração para geração,
por mais de cem anos. O cronista conhecera pessoalmente descendentes próximos
dos sesmeiros iniciais, daí a importância e a credibilidade de tal relato. Esse
texto foi transcrito por Carlos Cunha Corrêa em sua obra “Serra da Saudade”,
publicado em 1948, às páginas 202/3. Aproveitamos a oportunidade, para também
transcrevermos essa preciosidade histórica, cuja credibilidade foi reconhecida por
diversos historiadores dessa região de Minas Gerais, entre eles o prof.
Waldemar de Almeida Barbosa. Assim João Sabino Ribeiro descreveu os
acontecimentos:
"Quando se escoava na roda do tempo, ao sumir-se nas dobras do passado o
século XVIII, habitavam estas pitorescas e ubérrimas plagas sertanejas do vale
do majestoso Rio S. Francisco, aquém da lendária Serra da Saudade, entre
outros, os seguintes fazendeiros – Cap. Amaro da Costa Guimarães, na fazenda de
Santa Fé; Manuel Gomes Batista, na fazenda dos Gerais; Cap. Elias Pinto Coelho,
na fazenda do Sobrado; e Manuel Corrêa de Souza, na fazenda dos Patos.
Cogitavam estes fazendeiros de fundar uma povoação onde pudessem ter mais
prontos os recursos da religião cristã e da medicina, elevando suas vistas ao
porvir e trazendo para este centro o melhoramento e o comércio; entretanto,
Manuel Gomes Batista pretendia que fosse na fazenda dos Gerais, ou nas suas
imediações nas cabeceiras do córrego do Capim Branco e córrego do Cemitério,
nome este proveniente de um cemitério hoje abandonado que, naqueles tempos, aí
existiu. O Cap. Elias Pinto Coelho também queria que fosse na sua fazenda do
Sobrado, ou nas cabeceiras do Córrego de N. Senhora, onde existiu também um
cemitério velho, abandonado, tendo apenas hoje, neste e naquele, umas cruzes
velhas que denotam seus lugares.
O Cap. Amaro da Costa Guimarães, por sua vez, também puxava para seu
lado querendo coloca-la no alto da CORIOCA, onde até hoje existem fragmentos de
telhas e sinais de buracos que fizeram para edificação da capela.
Manuel Corrêa de Souza, esforçando-se de comum acordo com outros, como
sejam – Te. Cel. Mariano Ferreira do Amaral, Cap. Antônio Alves de Sousa,
Antônio de Sousa Fernandes, irmãos, este pai e aquele tio do finado ajudante
Francisco de Sousa Fernandes, José de Sousa Rosa, Albino Pinto Coelho, Manuel
Lino Fiúza, Manuel Alves Cirino (da Cachoeira) e outros, combinaram e acordaram
em edificar neste lugar uma capela dedicada a Nossa Senhora das Dores, sendo a
mesma que existe hoje como Matriz. Para esse fim o dito Correinha separou um
canto da sua fazenda, dividindo-o com valos[27], um do lado do Nascente,
cabeceira do córrego das Condutas, e, da cabeceira desta
vertente, tirou outro valo em direção ao Poente, fechando-o na cabeceira de uma
vertente do córrego do Pacheco, limitando-o ao Norte e Poente
com outras fazendas..."
Estava
lançada a idéia original da criação do Arraial da Boa Vista e, alguns anos
depois, no início do século XIX, Arraial de Nossa Senhora das Dores da Serra da
Saudade do Indaiá. Não tardou muito para se tornar Arraial de Dores do Indaiá.
As primeiras reuniões para a fundação do povoado se deram por volta de 1798. Para
alguns o povoado teve início antes da construção da capela, mas, para o prof.
Waldemar Barbosa, a construção da capela dedicada a Nossa Senhora das Dores foi
iniciada antes do surgimento do povoado. Foi uma capelinha simples, de taipa e
sapé, para ser provisória, até que
tivessem mais recursos para construir uma melhor, mas atendia aos
reclamos do povo da região. Este relato do prof. Waldemar Barbosa é corroborado pelo grande escritor e historiador mineiro Augusto de Lima Júnior, em seu clássico A Capitania das Minas Gerais (Origens e Formação), Terceira Edição (Edição do Instituto de História, Letras e Arte, Belo Horizonte, 1965), quando nos dá um retrato da formação dos povoados, arraiais e das vilas mineiras: constrói-se, sempre, uma capela em primeiro lugar, que depois é promovida a igreja, em seguida, forma-se o povoado em sua volta.
Como
vimos acima, no texto de João Sabino Ribeiro, cada um dos fazendeiros queria a
construção da capela e do povoado em suas terras, pois isso as valorizaria e eles
ficariam próximos do aglomerado. O Capitão Amaro começou a construir as
fundações de uma capela nos terrenos de sua Fazenda Santa Fé, próxima a um riacho (o córrego "da Matriz"),
afluente do São Francisco. Era ela dedicada a São Sebastião, padroeiro dos
mineradores de diamantes. Recusou-se, inicialmente, a colaborar com a
construção de qualquer coisa que não fosse em suas terras. E também não
concordava que N.S. das Dores fosse a padroeira.
Prevaleceu a opinião da maioria de que as terras que o Correinha insistentemente oferecia, isto é, um terreno na parte norte de sua Fazenda dos Patos, era o local mais adequado. Os motivos eram vários: ficava no topo de uma colina levemente ondulada, a seiscentos metros de altitude em relação ao nível do mar, acariciada por ventos suaves que aliviavam o calor forte da região, longe o necessário dos cursos d’água que traziam a inevitável praga dos mosquitos e suas doenças, como a malária, além das constantes inundações em épocas de chuvas copiosas, e, ao mesmo tempo, suficientemente próxima desses riachos que lhes poderiam oferecer a água requerida. A uma meia légua para o norte se encontrava o Ribeirão de Nossa Senhora e a menos de um quilômetro para o sul o Córrego das Condutas. Para completar, o local possuía uma vista privilegiada, de 360 graus, principalmente com o deslumbrante contorno azulado, para o oeste, da Serra da Saudade, já que o local escolhido ficava muito próximo ao antigo Rancho da Boa Vista, na Picada de Goiás-Piraquara. Era coisa de meia légua, quando muito.
Prevaleceu a opinião da maioria de que as terras que o Correinha insistentemente oferecia, isto é, um terreno na parte norte de sua Fazenda dos Patos, era o local mais adequado. Os motivos eram vários: ficava no topo de uma colina levemente ondulada, a seiscentos metros de altitude em relação ao nível do mar, acariciada por ventos suaves que aliviavam o calor forte da região, longe o necessário dos cursos d’água que traziam a inevitável praga dos mosquitos e suas doenças, como a malária, além das constantes inundações em épocas de chuvas copiosas, e, ao mesmo tempo, suficientemente próxima desses riachos que lhes poderiam oferecer a água requerida. A uma meia légua para o norte se encontrava o Ribeirão de Nossa Senhora e a menos de um quilômetro para o sul o Córrego das Condutas. Para completar, o local possuía uma vista privilegiada, de 360 graus, principalmente com o deslumbrante contorno azulado, para o oeste, da Serra da Saudade, já que o local escolhido ficava muito próximo ao antigo Rancho da Boa Vista, na Picada de Goiás-Piraquara. Era coisa de meia légua, quando muito.
Decidido
o local, Manuel Corrêa de Souza, não cabendo em si de contente, convocou seus
escravos para abrir uma vala de mais de mil metros de comprido, com dois metros
de profundidade e dois de largura, que circunscrevia a área do terreno doado,
como descrito por João Sabino Ribeiro. O local da igreja, futura Matriz, é hoje
exatamente onde se encontra a antiga Praça São Sebastião, atual Praça Alexandre
Lacerda. O Correinha contribuiu também financeiramente para essa construção,
apesar de sua situação não permitir maiores gastos. Os fazendeiros tinham muito
capital imobilizado em terras e gado, com pouco dinheiro disponível. Todos
ajudaram, na medida de suas possibilidades. O Rancho da Boa Vista ficava localizado aproximadamente onde hoje é o Bairro Juiz de Fora (antigo Cerrado).
Vista da Praça São Sebastião. Foto de autor desconhecido
e sem data. Provavelmente das duas primeiras décadas
do século XX.
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À
medida em que o arraial tomava forma, a 16 de julho de 1803, foi nomeado o
primeiro guarda-mor substituto das terras e águas do “distrito da Capela de
Nossa Senhora das Dores”, como relata o prof. Waldemar Barbosa. Portanto, a
mudança do padroeiro da Matriz somente ocorreu após essa data. O nome do
arraial já se consagrara como Arraial da Boa Vista.
Matriz de São Sebastião, Dores do Indaiá. Foto de autor
desconhecido e sem data. Foto obtida no mesmo dia
da anterior. À esquerda vê-se um dos fícus plantados
pelo Dr. Zacarias.
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A
construção da Matriz definitiva foi lenta, muito lenta, dadas as dificuldades
financeiras dos fazendeiros. Começou antes de 1808 e só foi terminar por volta de 1832. Para alguns, sua construção final, incluindo a sacristia, quase do mesmo tamanho da Matriz, e em seus fundos, terminou mesmo em meados do século XIX.
Carlos
Cunha Corrêa descobriu em Dores do Indaiá uma certidão de 1803 em que designa o
local como Arraial da Boa Vista. Já em 1807, o nome que consta em outra
certidão é Arraial da Boa Vista de Nossa Senhora das Dores. O mesmo autor
descobriu em um auto de penhora, de 1808, que o nome do arraial já havia mudado
para Arraial de Nossa Senhora das Dores.
Matriz de São Sebastião, 1928. Autor desconhecido.
Demolida em 1937 num ato de vandalismo
administrativo explícito. Foto do acervo da família Guimarães.
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A
atividade judiciária tivera início em 1800, quando Francisco José de Faria foi
nomeado para um cargo próximo ao de um juiz. As pendências mais simples eram
por ele resolvidas e as mais complexas na Comarca de Pitangui.
Matriz de São Sebastião. Foto de autor
desconhecido e sem data. A igreja
passava por reforma.
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Carlos
Cunha Corrêa também descobriu uma certidão de batismo, de 1853, mas que remontava
à data de 20 de outubro de 1813, em que a igreja era designada de Matriz de
Nossa Senhora das Dores. Como vemos, os nomes, tanto do arraial, quanto da
igreja, foram sofrendo modificações lentamente, no decorrer do tempo.
Matriz e Praça de São Sebastião em um dia festivo.
Foto de autor desconhecido e sem data.
Provavelmente das duas primeiras décadas do século XX.
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Como descrevemos acima, a construção da Matriz foi muito lenta em função das limitações financeiras dos sesmeiros. Rubens Fiúza relata que, com o tempo, o Capitão
Amaro, que havia se distanciado das responsabilidades da construção da igreja e
do arraial, voltou a colaborar financeiramente e sua ajuda foi decisiva para a
conclusão das obras. Colocou ele apenas uma exigência em troca de sua colaboração, a de que o novo templo fosse
dedicado a São Sebastião, patrono dos mineradores de diamantes, e não a Nossa
Senhora das Dores. Para não desagradar ao Capitão, e ficar bem com os
garimpeiros da região, chegou-se ao consenso de que a Matriz deveria mudar de
padroeiro, de Nossa Senhora das Dores para São Sebastião. Quanto à data em que
isso se deu é que são elas...
O certo é que, quando as obras da nova matriz já haviam sido iniciadas há algum tempo, com a colaboração financeira dos fazendeiros e com a mão de obra escrava, faleceu o Capitão Amaro, a primeiro de dezembro de 1816. A seu pedido, e com a concordância de todos os demais fazendeiros, seu corpo foi sepultado, com todas as solenidades fúnebres e pompas daqueles ermos, na presença de todos os seus pares, sob o assoalho da matriz em construção. Foi uma honra concedida a quem tanto contribuiu para o nascimento do arraial. Posteriormente, outro fundador também seria ali sepultado.
O certo é que, quando as obras da nova matriz já haviam sido iniciadas há algum tempo, com a colaboração financeira dos fazendeiros e com a mão de obra escrava, faleceu o Capitão Amaro, a primeiro de dezembro de 1816. A seu pedido, e com a concordância de todos os demais fazendeiros, seu corpo foi sepultado, com todas as solenidades fúnebres e pompas daqueles ermos, na presença de todos os seus pares, sob o assoalho da matriz em construção. Foi uma honra concedida a quem tanto contribuiu para o nascimento do arraial. Posteriormente, outro fundador também seria ali sepultado.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário,em Dores do Indaiá. S/d.
1905. Foto de autor desconhecido.
|
Logo
após iniciadas as obras, já em 1799, o arraial começou a tomar forma, com
pessoas das redondezas vindo para construir as suas moradas. Os mais poderosos
financeiramente foram construindo suas residências na praça defronte à Matriz. Juca
de Sousa construiu sua casa, em 1816 no número 30 da praça, em substituição à
antiga, de taipa e sapé. Ele a usava de vez em quando, ao passar por Dores, no
interregno de suas inúmeras tarefas. Esta casa existe até hoje, tendo sido
demolida apenas a parte de trás.
Em
1818 já havia um representante no arraial da Câmara da Vila de Pitangui. Era o
Padre Francisco de Sousa Coelho, filho de José de Sousa Coelho. Entretanto, ordenado
padre no Seminário de Mariana, ele exerceu o sacerdócio por aproximadamente
quatro anos, abandonando-o por absoluta falta de vocação. A partir daí
dedicar-se-ia à administração dos garimpos do pai, que eram diversos, a
atividades políticas e intelectuais e desempenhou algumas funções
administrativas. Segundo Rubens Fiúza, ele dedicou longo tempo à busca do
Tesouro do Ambrósio, mas não se sabe se esse tesouro é mais uma das lendas que
rondaram o Campo Grande. Morava na Fazenda do Santiago, que fora de seu pai
(persiste a dúvida quanto à verdadeira posse desta fazenda) e frequentemente
vinha a Dores do Indaiá, onde se hospedava na casa que o pai lhe deixou.
Casa construída por Francisco de Sousa Coelho, em 1830,
no número 48 da mesma praça.
Foto: Antônio Carlos Corrêa, 2015.
|
José
de Sousa Coelho (Juca de Sousa) faleceu subitamente em Pitangui, em 1819.
Francisco, em 1830, construiu uma casa para si, ao lado da do pai, no número 48
da praça, em Dores, casa esta que também se mantém preservada, belamente
restaurada. Em 1839 casou-se com uma descendente do Tiradentes e deixou grande
descendência em Dores.
Voltemos
a Manuel Corrêa de Souza. Sua propriedade, a Fazenda dos Patos, adquirida em
sesmaria, em 1790, foi sua por todo o tempo em que viveu. Era uma grande
propriedade. Carlos Cunha Corrêa, assim a descreve, em 1948, em seu “Serra da
Saudade” (p.173):
... confinava,
ao Norte, com a fazenda Santarém a partir do espigão divisório onde é hoje a Cruz do
Monte, no caminho da chácara que foi de João Joaquim de Faria e é
atualmente de Aprígio Porto; seguindo esse espigão e passando pelo Roncha
do Alto, perto onde morou Capim Seco, ia até frontear com um
cemitério velho, divisa de Engenho de Serra e seguia abrangendo o
que são hoje Condutas, Barra,
Pindaíbas; voltava pelo Ribeirão dos Porcos e, deixando este ribeirão,
tomava o rumo do Norte, atravessava o dos Patos e prosseguia pelo platô
que divide nascentes dos Condutas e Pacheco, passando pelo Rancho
da Boa Vista, até fechar no ponto inicial, na Cruz do Monte.
Sem dúvida, era uma bela propriedade, que lhe tomou todo
o tempo e dedicação em sua administração, além dos cuidados de sua família.
Entretanto, não se tornou um homem rico. Os fazendeiros daquela região, como já
vimos, eram pessoas de grande capital imobilizado em terras, gado, escravos e
casas. Não havia muito dinheiro disponível. Mesmo o Capitão Amaro, como é
descrito por Rubens Fiúza em “Do São Francisco ao Indaiá”, um dos homens mais
poderosos de toda a região, obtinha sua maior renda do garimpo de diamantes no
rio Indaiá. O gado não lhe rendia muito. Naqueles tempos uma cabeça de gado
custava dois mil réis, dinheiro com o qual não se poderia adquirir grande
coisa. Em Vila Rica ou São Paulo de Piratininga, havia muitas vestimentas femininas, sem luxo, que custavam mais de três mil réis.
Vivia o Capitão Amaro, durante algumas décadas, na sua Fazenda Santa Fé, de forma muito simples e despojada. Em 1800, ele recebeu o célebre cientista e político diamantinense Dr. José Vieira Couto em sua fazenda, quando este fazia um périplo por toda a região com a finalidade de levantamento geológico e mineralógico, a pedido do governador da capitania. Durou a estadia 15 dias, enquanto o cientista e seus homens aguardavam a tropa do Capitão Izidoro, que iria escoltá-los e protegê-los em sua grande jornada. Relata o Dr. Vieira Couto em suas memórias que a casa do Capitão Amaro era de uma simplicidade e rusticidade jamais vistas por ele. Não havia mesas e cadeiras. Todos se sentavam em troncos de árvores e comiam com os pratos nas mãos. Suas roupas eram dependuradas em pequenos galhos de árvores fincados nas paredes de taipa. As camas eram catres rústicos e os colchões recheados de palha de milho. Foi algum tempo depois que ele construiu a nova sede da fazenda, que se mantem até hoje, restaurada, um casarão com um número enorme de quartos.
Vivia o Capitão Amaro, durante algumas décadas, na sua Fazenda Santa Fé, de forma muito simples e despojada. Em 1800, ele recebeu o célebre cientista e político diamantinense Dr. José Vieira Couto em sua fazenda, quando este fazia um périplo por toda a região com a finalidade de levantamento geológico e mineralógico, a pedido do governador da capitania. Durou a estadia 15 dias, enquanto o cientista e seus homens aguardavam a tropa do Capitão Izidoro, que iria escoltá-los e protegê-los em sua grande jornada. Relata o Dr. Vieira Couto em suas memórias que a casa do Capitão Amaro era de uma simplicidade e rusticidade jamais vistas por ele. Não havia mesas e cadeiras. Todos se sentavam em troncos de árvores e comiam com os pratos nas mãos. Suas roupas eram dependuradas em pequenos galhos de árvores fincados nas paredes de taipa. As camas eram catres rústicos e os colchões recheados de palha de milho. Foi algum tempo depois que ele construiu a nova sede da fazenda, que se mantem até hoje, restaurada, um casarão com um número enorme de quartos.
Fazenda Santa Fé, antes da restauração. Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro. |
Fazenda Santa Fé, após a restauração.
Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro.
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Fazenda Santa Fé, após a restauração.
Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro.
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Fazenda Santa Fé, após a restauração.
Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro.
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Fazenda Santa Fé, após a restauração.
Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro.
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Fazenda Santa Fé, após a restauração.
Foto: Paulo Cesar Pinto Ribeiro.
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Não há relato de como vivia Manuel Corrêa de Souza, mas é
de se imaginar que sua vida fosse simples, porém sem essa rusticidade do
Capitão Amaro. Teve seis filhos legítimos: João Corrêa de Souza (1780-?),
Antônio Corrêa de Souza (1785-1865), de quem descendem o acadêmico Carlos Cunha
Corrêa e o autor destas linhas, Luiz Corrêa de Souza (1788-?), Manuel Corrêa de
Souza (1795-?), Tereza Corrêa de Souza (1797-?), Mariana (Ana) Corrêa de Souza (Rodrigues?)
(1800-?). Teve também três filhos bastardos com sua escrava Vicência: Inocêncio, Antônia e Joaquim. A todos alforriou antes de morrer.
A rotina da vida de Manuel Corrêa de Souza, e de todos os seus, é uma incógnita. Somente podemos especular como era a vida na Fazenda dos Patos, em Dores do Indaiá. Num exercício de imaginação, que reputamos de excelente qualidade literária, seu bisneto, o ilustre acadêmico Carlos Cunha Corrêa (mais uma vez nos socorremos em suas páginas camonianas), ao descrever no romance histórico póstumo Os Amores do Inconfidente (publicado por seus filhos e netos em Belo Horizonte, em 2000 - o livro foi escrito logo após o Serra da Saudade, isto é, entre 1948 e 1949), que retrata a vida de Eugênia, que fora amante de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, descreve suas peripécias e andanças pela região do Alto São Francisco, após fugir das tropas da Coroa portuguesa, que a perseguiam e desejavam executar o filho que ela tivera com o inconfidente, de nome João (João de Almeida Beltrão). Em Os Amores do Inconfidente, 2a. Parte (pp. 203-205), Carlos Cunha Corrêa, dedica um pequeno capítulo à passagem de Eugênia pela Fazenda dos Patos de Manuel Corrêa de Souza. Como se trata de um romance histórico, todo o sabor da narrativa encontra-se justamente no imaginário da vida naqueles ermos, naqueles duros tempos. Eugênia havia deixado a Fazenda Santa Fé, do Capitão Amaro, e se dirigido à Fazenda dos Patos, de Manuel Corrêa de Souza, em seu périplo para o Quartel Geral, onde já morava desde a prisão de Tiradentes, em 1789. O Quartel Geral foi sua morada clandestina e definitiva. Vamos ao que nos relata o Camões do Campo Grande:
Capítulo XII
"De Santa Fé ao Quartel Geral"
"Partindo de Santa Fé, tivemos que passar pela fazenda do Ribeirão dos Patos, de Manuel Corrêa de Souza, a fim de que pudesse o João entregar umas alfaias encomendadas para a Igreja de Nossa Senhora das Dores, em construção um tanto adiantada. Achei muito curiosa a casa do Sr. Corrêa. Não é um sobrado como o solar do Capitão amaro, mas tem um porão alto, pelo qual se passa para uma escada de madeira, que leva à parte de cima, residencial. Por dentro desse porão, passa um rego com bastante água, movendo um monjolo ali mesmo instalado. De sorte que da parte de cima, se ouve continuamente o ruído da água despejando no calabouço e o nhã-pã do monjolo, quando este está funcionando. Para fazer sono na gente, não há nada melhor. Pretendíamos prosseguir no mesmo dia, mas o Sr. Corrêa fez questão de que nos arranchássemos lá, porque no dia seguinte iria mostrar-nos as obras da igreja."
"Continuando jornada no dia seguinte, em companhia do Sr. Corrêa, pouco mais de meia légua andada, avistamos um lindo e espesso bosque, rodeado de campina e cerrado ralo. Neste ponto fomos como que saudados por um bando de pica-paus, surgido do buraco de um cupim. Comentou-se que aquilo não era saudação, mas denúncia, porque é o pássaro mais intrigante que há."
"-Ali - disse o Sr. Corrêa, apontando o bosque - será o futuro arraial de Nossa Senhora das Dores, em cuja igreja desejo sejam enterrados estes meus ossos. Aquele bosque chamava-se Rancho da Boa Vista, e o povo teima em chamá-lo agora Arraial da Boa Vista; mas há de ser mudado para nome de santo, de preferência Nossa Senhora das Dores, de quem sou devoto."
"E logo começamos a penetrar no bosque por uma ladeira suave, até atravessarmos um fio de água cristalina, que corria das cabeceiras do mesmo, formando o córrego das Condutas. Aqui algumas mulheres lavavam roupa. Então o Sr. Corrêa disse que aquela passagem, por onde transpúnhamos o fio de água, estava destinada a ser a Fonte do Povo, isto é, onde as mulheres virão buscar água, lavar roupa - e... lavar também a vida alheia, como é costume nestes lugares."
"- Não seria melhor - observou o João - que o arraial ficasse à margem de um córrego maior?"
"- É verdade - respondeu o Sr. Corrêa -, mas aqui a vista é linda e fica a igual distância das principais fazendas vizinhas. É também uma recordação das nossas caçadas de veados, pois foi sempre o ponto de espera, onde costumávamos abater essa caça."
"Subindo um puco, chegamos a uma clareira, onde haviam sido derrubadas muitas árvores e estavam sendo levantadas a igreja e as casas dos fazendeiros vizinhos. Eram poucos os operários que trabalhavam nas obras, porque, disse o Sr. Corrêa, os recursos para pagamento aos mesmos eram pequenos."
"Vejam, meninas, agora já foram derrubadas as árvores desse lindo bosque e em seu lugar foram construídas a igreja e casas desse bonito arraial de Nossa Senhora das Dores, que vocês conhecem, Despedindo-nos do Sr. Corrêa e viajando por uma vasta campina, aqui chegamos em meados de dezembro de 1807 e cá estamos até hoje."
"Eis aí, Carolina, a história bonita que você quis ouvir que aqui termina."
'-Não, vovó, temina não. E o caso que a Sra. prometeu contar daquele homem ruim que tinha nome de cachorro? Como é mesmo que se chamava?'
"- Ah, sim! É o caso de DOM MENECMA. Mas esse fica para amanhã."
O melhor exemplo da vida simples e sem luxo de Manuel Corrêa de Souza é seu próprio testamento, transcrito por Carlos Cunha Corrêa, em “Serra da Saudade” (p.173-5), que também aqui transcrevemos:
"Em nome de
Deus, Amém. Digo eu Manuel Corrêa de Souza, morador na minha fazenda do
Ribeirão dos Patos, freguesia de Nossa Senhora das Dores, Termo da Vila de
Pitangui, que estando são e no meu perfeito juízo e entendimento, determino
este meu testamento para disposição de minha fazenda e última vontade. Declaro
que sou natural de Freguesia de Santana de Lavras do Funil, Bispado de Mariana,
filho legítimo de José Corrêa de Arzam, já falecido, e de Francisca de Souza.
Declaro que sou casado com Maria Andreza de Jesus, de cujo matrimônio tenho
seis filhos, a saber: João, Antônio, Luiz, Manuel, Teresa e Ana. Todos estes
meus legítimos herdeiros igualmente a parte de bens que por meu falecimento
tocam à minha meação e assim mais uma neta de nome Rosa, filha legítima de
minha filha Mariana, cuja foi casada com Tomaz de Aquino Rodrigues, declaro que
disponho da minha terça pela forma seguinte: Ordeno que meu corpo seja envolto
em um hábito preto conforme a religião de São Francisco e sepultado dentro da
Matriz acompanhado pelo párocho ou outro qualquer sacerdote, o qual me dirá uma
missa de Corpo presente e lhe dará de esmola um mil e duzentos réis. Ordeno ao
meu testamenteiro que dê de esmola para as obras desta Matriz das Dores
quarenta mil réis. Declaro que nasceram três filhos da minha escrava Vicência,
cujos pardos, por nomes Inocêncio, Antônia e Joaquim, os quais libertei na ação
dos batismos e no mesmo assento me assinei e portanto ratificando o hei por
libertos do cativeiro. Declaro que deixo forras as minhas escravas a saber
Isabel, preta, Benguela e Madalena, parda, e também deixo forra Inácia, parda,
cuja filha da dita Madalena e assim mais liberto o meu escravo Miguel Benguela,
todas estas minhas disposições cabendo nas forças da minha terça. Declaro que
meu testamenteiro dará vinte e dous mil réis que devo à minha filha Teresa,
mulher de João Pinto e assim mais dará o meu testamenteiro de esmola a
Inocêncio pardo, cem mil réis, à Antônia cem mil réis, a Joaquim cem mil réis,
cujos pardos; e assim mais dará duzentos mil réis à Inácia, filha da dita
Madalena. No caso de não chegar a minha terça para cumprimento de minhas
disposições, entrarão em rateio em igual parte a fim de gozarem suas liberdades
e caso falte correndo três anos para satisfazerem o que não couber nas forças
da minha terça. Instituo por meus testamenteiros em primeiro lugar a meu filho
João Corrêa de Sousa, em segundo lugar a meu genro João Pinto de Andrade e em
terceiro lugar a meu genro Antônio Corrêa de Souza, àquele que aceitar esta
minha testamentaria deixo o prêmio de 100$000 e lhe ordeno o termo de dois anos
para dar uma só conta. Este é o meu testamento e disposição de minha última
vontade e quero que se cumpra como nele ordeno e vai escrito a meu rogo por
Antônio Martins de Souza e por mim somente assinado aos vinte e dois do mês de
outubro de mil oitocentos e trinta e dous. Manuel Corrêa de Sousa. Como
testemunha que este fiz e vi assinar Antônio Martins de Sousa”.
Para completar nossa história invulgar, descendente de suposto degredado judeu em uma linhagem, de imigrantes judeus (castelhano um e flamengo outro) em outras linhagens, estes casados com índias ou mamelucas, descendente de bandeirantes e sertanistas audazes, dos quais não se tem notícia de que tenham agido com atrocidade contra o gentio, descendente de prospectores de
ouro, entre eles o homem que oficialmente primeiro descobriu ouro nas
Minas Gerais, filho de migrantes de São Paulo para os Campos dos Cataguases e,
depois, ele próprio, um migrante para o Campo Grande, morreu Manuel Corrêa de
Souza, com dignidade, entre os seus. Em seu legado inclui-se a coparticipação na
fundação de uma cidade, na medida em que fez a doação do terreno para esse fim. Foi exemplo de
trabalho, esforço, dedicação, luta renhida em meio inóspito pela sobrevivência, empenho e amor pelo seu torrão. Deixou grande descendência.
Termino a biografia deste homem extraordinário transcrevendo, mais uma vez de Carlos Cunha Corrêa (p. 175), a certidão exarada quando de sua inumação:
Termino a biografia deste homem extraordinário transcrevendo, mais uma vez de Carlos Cunha Corrêa (p. 175), a certidão exarada quando de sua inumação:
“CERTIFICO que o falecido Manuel Corrêa de
Souza foi envolto em hábito preto, e sepultado dentro desta Matriz, acompanhado
por mim, e disse Missa de Corpo presente, e recebi do seu testamenteiro o
Tenente João Corrêa de Souza a esmola de mil e duzentos réis. Sendo certo que o
funeral do dito finado importou em vinte e outo mil e duzentos réis pagos pelo
dito testamenteiro conforme os documentos que me apresentou. O referido é
verdade, que afirmo in fide parochi. Dores, 6 de fevereiro
de 1838. João Batista de Aguiar, Vigº. Encomendado”. Reconhecimento: “Reconheço
a firma e letra supra ser da própria mão e punho do Vigário João
Batista de Aguiar, por pleno conhecimento que da mesma tenho em fé
do que me assino. Vila de Pitangui, 14 de fevereiro de 1838. Em testemunho (estava o
sinal público) de verdade Manuel Bahia da Rocha Junior”.
Manuel Corrêa de Souza e o Capitão Amaro foram os únicos fundadores de Dores do Indaiá a serem sepultados na Matriz de São Sebastião. Não deixou fortuna para seus
herdeiros, legou seu exemplo de fibra, luta e honradez. Seus restos mortais, assim como os do Capitão Amaro, foram destruídos quando da demolição da Matriz de São Sebastião, em 1937, pelo então prefeito de Dores do Indaiá, Cornélio Caetano. Um prenúncio dos tempos sem memória em que hoje vivemos.
O Capitão Amaro, em décadas recentes, foi homenageado quando a municipalidade de Dores do Indaiá deu seu nome a uma pequena rua da cidade. Quanto a Manuel Corrêa de Souza, nada. Nenhuma mísera viela ou beco da cidade recebeu seu nome. Um exemplo da gratidão (seria esse o termo correto?) de seu desmemoriado povo. Uma lástima!
***
Para quem se interessar por imagens da região onde viveu Manuel Corrêa de Souza sugiro ver o clip feito abaixo sobre o "Circuito Turístico Caminhos do Indaiá". É um belíssimo filme com tomadas da região ao sopé da Serra da Saudade, onde se instalaram os primeiros sesmeiros no último quartel do século XVIII, e criaram a hoje Dores do Indaiá (e outras cidades vizinhas). Um passeio imperdível!
http://www.youtube.com/watch?v=xMHsK9LuRZI
O Capitão Amaro, em décadas recentes, foi homenageado quando a municipalidade de Dores do Indaiá deu seu nome a uma pequena rua da cidade. Quanto a Manuel Corrêa de Souza, nada. Nenhuma mísera viela ou beco da cidade recebeu seu nome. Um exemplo da gratidão (seria esse o termo correto?) de seu desmemoriado povo. Uma lástima!
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Para quem se interessar por imagens da região onde viveu Manuel Corrêa de Souza sugiro ver o clip feito abaixo sobre o "Circuito Turístico Caminhos do Indaiá". É um belíssimo filme com tomadas da região ao sopé da Serra da Saudade, onde se instalaram os primeiros sesmeiros no último quartel do século XVIII, e criaram a hoje Dores do Indaiá (e outras cidades vizinhas). Um passeio imperdível!
http://www.youtube.com/watch?v=xMHsK9LuRZI