domingo, 14 de outubro de 2012

Retratos de família: por que este blog?

       

     Todos temos saudades de nossos antepassados, assim como de nossos parentes vivos, particularmente daqueles que compartilham conosco de nossa existência, mas estão há muito fisicamente distanciados. Para preencher essa lacuna em nossa vida, minha e de meus familiares, criamos este blog com a finalidade principal de trocar informações, fotos, textos escritos por quem se interessar, visando matar as saudades que são muitas. Sabemos que certas distâncias são insuperáveis, que certos encontros são improváveis, que certos diálogos são quase impossíveis. Mas aqui, esperamos ter um espaço para nos comunicarmos com nossos queridos familiares, para lembrar e homenagear todos aqueles que fizeram ou fazem parte de nossas vidas. Aqueles de quem nunca nos esqueceremos. Breves históricos de vidas, estórias, fotos, vídeos, depoimentos, poemas, crônicas, genealogias, comentários sobre o contexto histórico em que viveram ou vivem. Enfim, uma grande e saudosa viagem no tempo. Esperamos que todos os nossos amigos e familiares gostem e abracem esta ideia, que visa a aproximação e o (re)conhecimento de quem somos, quem fomos, de onde viemos, o que pensamos ou pensávamos. Esta é uma forma de preservação da memória de nossa família para as gerações atuais e vindouras, que, de outra forma, desconheceriam todo esse passado. 


Para melhor expressarmos o que temos em mente, transcrevemos aqui um belo texto de João Camilo de Oliveira Torres, em seu clássico "História de Minas Gerais - 1o. Vol." (Belo Horizonte. Difusão Panamericana do Livro, 1961, p. 22):

"E se a História mineira é importante para o conhecimento da História Geral do Brasil, não o é menos, obviamente, para o conhecimento de Minas Gerais."

"Poderá parecer tautologia, ou repetição descabida, mas na verdade, impõe-se aos mineiros o conhecimento da História de Minas. Não por ser bela, movimentada, cheia de lances magníficos de epopeia – hoje não cuidamos muito dessas coisas, nem os poetas escrevem epopeias. Mas, pelo fato de não ser possível construir o futuro sem conhecimento do passado. A realidade coletiva é essencialmente histórica e as ações humanas, fundadas numa substância que permanece, que se confunde com o próprio ser humano, passível de modificações. O homem pode transformar-se: eis a grande verdade. Mas ele não poderá transforma-se sem se conhecer. E, enquanto não alcançamos a verdade contida nos documentos e registrada em nossas maneiras de viver, de agir, de pensar e de sentir os nossos atos serão confusos e atordoados, esgrimindo contra o vácuo, como lembrava São Paulo. E a História pode ser uma libertação das forças do passado, que pesam cegamente sobre nós, neste tétrico governo dos mortos de que nos fala Augusto Comte – como a psicanálise revolvendo os abismos inconscientes nos livra de fantasmas de nosso passado pessoal, assim a História pode, revendo os refolhos do passado coletivo, exorcizar as figuras tenebrosas que, ocultamente, assombram as nossas noites."

"Se pretendemos um futuro construído segundo nossas esperanças, importa conhecer o passado e, por meio deste conhecimento, deslindar o que é bom e o que é mau em nossa natureza. Saber o que somos para saber o que podemos ser." 

Continua Oliveira Torres em sua descrição da importância do conhecimento de nossa história para a melhor construção de nosso presente e de nosso futuro (pp. 44-47):

'...Muito bem o disse, aliás, o saudoso mestre mineiro, Lúcio José dos Santos, no limiar de sua obra clássica sobre a Inconfidência:'

'De fato, não será inexato dizer que no passado reside a nossa força. O futuro é incerto. Sobre ele não temos autoridade suficientemente precisa e definida, se ignoramos os acontecimentos que já se foram, porque são estes a fonte daquele.'

"O presente foge diante de nós como uma sombra ligeira. Só o passado nos pertence; nele é que verdadeiramente vivemos. No passado se encontram as raízes das nossas afeições; dele procedem as luzes de nosso espírito; dele correm as fontes de sabedoria que nos é dado alcançar na terra."

'Nascidos para uma existência precária, de um instante apenas na série imensa dos séculos, nada compreenderíamos do que realmente somos e menos ainda nos poderíamos compenetrar do que devemos ser, se nos desinteressássemos do passado, não procurássemos desvendar os seus arcanos, rememorar os seus acontecimentos e deduzir a lição que eles encerra.'

'Os acontecimentos que vão surgir no futuro são a consequência lógica dos que já se vão perdendo na caligem do passado. E nem nos seria dado penetrar as trevas do primeiro, sem que com as do segundo se não tivesse já acostumado a nossa vista. É verdade, pois, que os mortos governam os vivos. O Cristianismo é o grande mestre desta verdade, colocando como base a afirmação da culpa original. Também a ciência nos diz que, na sua pessoa o homem engrandece ou degrada a si e aos seus descendentes.'

'O Cristianismo vai mais longe, admitindo entre os mortos e os vivos uma comunhão de interesses e uma reciprocidade de benefícios; concepção consoladora esta em que os mortos não são apenas figuras vãs e sem realidade objetiva. Sombras apagadas flutuando na memória fugidia dos vivos.'

'Em virtude desta correlação entre os fatos passados e os acontecimentos por vir, desta solidariedade estreita entre os homens, que já se forma e os que vão surgir na terra, é sempre útil e proveitoso reviver o passado, expor aos olhos do presente as glórias antigas, contar às gerações que passam os feitos dos nossos maiores e dizer-lhes quantos sacrifícios, quantas lágrimas, quantas lutas custou aos nossos pais a pátria livre que nos legaram'.

(Lúcio José dos Santos. Inconfidência Mineira. São Paulo, 1927).

"Ademais, a ação do passado fixa gestos e atitudes - a situação presente é construída pelas linhas de força do passado. Da mesma forma pela qual o indivíduo conserva a marca de todas as suas experiências, assim as coletividades; o estudo da História explica porque agimos assim hoje, por que somos assim hoje e, não, de outro modo. E toda política desligada da consciência da historicidade do homem, do homem como produto da História, termina sendo uma construção vazia e inconsistente, um edifício sem ligações com a realidade, como certas soluções arquitetônicas de extravagantes linhas, em moda, certa época, quando víamos mesquitas árabes ou castelos medievais metidos entre chalés normandos e falsos coloniais. Uma política inspirada na História será sempre a política “natural” e se o legado do passado nos trouxe males que devemos afastar, importa que, psicanaliticamente, os conheçamos, para exorcizar-lhes os fantasmas."

Sábias palavras! É necessário que se diga algo mais para que respeitemos o passado de nossa pátria? O passado de nossas famílias se confunde com o passado de nossa cidade, de nosso estado e de nossa nação. Como pessoas, participamos do microcosmos da história. Estamos continuamente a fazer história. É preciso que nossos antepassados sejam conhecidos também como participantes dessa grande história, desse macrocosmos contínuo, perene e eterno. Ao nos recusarmos a conhecer nossa história estamos nos condenando também, no futuro, ao esquecimento. Para que não percamos o bonde da história, mister se faz mergulhar no passado de nossos ancestrais. Podemos extrair daí grandes ensinamentos. 

Somente sabendo quem somos e fomos é que poderemos saber como seremos no futuro. Uma boa viagem para todos!