Árvore de Oliveira, no jardim de Getsêmani, nas cercanias de Jerusalém. Esta árvore da figura teria nascido nos tempos de Jesus de Nazaré. Símbolo emblemático da família Oliveira. |
“No
princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as
trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas... Então
Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os
peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os
répteis que rastejam sobre a terra’. E Deus criou o homem à sua imagem; à
imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. E Deus os abençoou e
lhes disse: ‘Sejam fecundos, multipliquem-se, encham e submetam a terra;
dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam
sobre a terra”. ... (Gn. 1 1-28).
Michelangelo Buonarrotti. Criador e Criatura. Teto da Capela Sistina, Vaticano. |
Corria
o décimo quarto século antes da Era Cristã (1440 a.C.), segundo a Bíblia
Sagrada, e o décimo segundo século (1250 a.C.) segundo exegetas que interpretaram
estudos arqueológicos comparativos com os relatos bíblicos. Os hebreus haviam
fugido do Egito numa das maiores epopeias de todos os tempos, chamada Êxodo.
Os
hebreus permaneceram por um tempo, também discutível, em terra egípcia (450
anos de acordo com a Bíblia e 250 anos de acordo com estudos arqueológicos). Foram,
inicialmente, bem recebidos, desde quando José levou seus irmãos para o Egito
e, posteriormente, seu pai Jacó (Israel), em decorrência da fome que grassava
na terra de Canaã. Esta boa recepção, acredita-se, tenha sido decorrente do
fato de que os Hicsos dominavam o Egito há algum tempo, sendo este também um
povo semita, como os hebreus. Entretanto, com a derrota e posterior expulsão
dos Hicsos do Egito, os faraós da XVIII dinastia, ou seja, Tutmés III, Amenotep
II, Set I e, ainda, Ramsés II, passaram a oprimir terrivelmente os hebreus,
tornando-os escravos dos egípcios.
Liderados
por Moisés e seu irmão Aarão, escolhidos por Deus (Javé) para guiar seu povo de
volta para Canaã, após autorização do faraó, calcula-se que aproximadamente 600
mil hebreus empreenderam esta aventura que mudou o rumo da História. Mas o
faraó se arrependeu de tal autorização ao perceber que perderia a melhor mão de
obra escrava que seu reino possuía. Mandou seu exército recapturar os hebreus,
mas já era tarde. Os hebreus atravessaram o Mar Vermelho, em episódio que a
moderna arqueologia explica ter ocorrido por que eles utilizaram um itinerário
que passava por terras secas próximas a lagoas junto ao Mar Vermelho, próximas
ao delta do rio Nilo. Logo após sua
travessia, Deus que, segundo a Bíblia, ordenara às águas que se separassem para
que seu povo eleito pudesse atravessar o mar a salvo, e quando o último hebreu
se encontrava já em território do outro lado do mar, em terra firme, o exército
egípcio, que vinha em seus calcanhares, com milhares de soldados de infantaria
e outros tantos em seus velozes carros de guerra, foi apanhado de surpresa com
a ordem de Javé que mandou as águas retornarem ao seu antigo leito. Todos os
egípcios morreram afogados.
Por
quarenta anos os hebreus vagaram pelo deserto do Sinai, passando por episódios
que selaram a sua aliança com Javé, entremeados por episódios de fome, sede,
desespero, desejo de voltar ao Egito, considerado a terra onde corria o leite e
o mel, em decorrência da fertilidade do rio Nilo, culto e sacrifício em
holocausto a deuses pagãos, numa clara afronta aos princípios da sua antiga
religião monoteísta e da crença em Javé. Muitas vezes, os infiéis que não
ouviam nem confiavam em Moisés e Aarão foram punidos por Javé com a morte, geralmente
um raio que caia do céu sobre o incrédulo ou rebelde.
Moisés
foi escolhido por Javé como o seu portavoz, o líder que conduziria seu povo
para a Terra Prometida, em Canaã. No alto do Monte Sinai, Moisés recebeu de
Deus os princípios pelos quais seu povo deveria se guiar e que, gravados por
Ele em duas pedras, as Tábuas da Lei,
configuraram o que até hoje conhecemos como os 10 Mandamentos da Lei de Deus.
Após
a aliança com Deus, este ordenou a Moisés e a Aarão que dividissem seu povo em
doze tribos, correspondentes aos doze filhos de Jacó (Israel), o último dos
patriarcas (os anteriores foram seu pai Isaac e seu avô Abrahão, que, segundo
estudos arqueológicos, comparados à exegese bíblica, viveram entre 1950 a 1650
a. C).
Jacó,
um dos patriarcas bíblicos, genearca de todas as linhagens do povo hebreu, teve
treze filhos, mas, em decorrência da sociedade patriarcal hebraica, contam
apenas os doze homens. De sua primeira esposa Lia teve os seguintes, com as
respectivas significações de cada nome:
1. Rúben (que significa eis um filho),
2. Simeão (escuta),
3. Levi (apego),
4. Judá (louvor),
5. Issacar (alugado,
ou recompensa),
6. Zebulon (habitação).
Lia também lhe deu uma filha que foi chamada Diná (justificada).
Com
sua serva Zilpa, Jacó teve:
7. Gade (boa sorte),
8. Aser (feliz).
Com
sua segunda esposa Raquel, Jacó teve os filhos:
9. José (Ele tirou,
ou possa Ele acrescentar);
como José morreu no Egito (seus despojos foram levados para Canaã, pelo
seu povo e sepultados em uma tumba no deserto), suas terras foram distribuídas
aos seus filhos Manassés e Efraim.
Jacó considerava seus netos como
verdadeiros filhos, assim, é que, na verdade, houve 13 tribos e não doze (as de
Manassés e Efraim, pela tradição, são consideradas uma só, ou duas meio-tribos).
10.
Mais
tarde Raquel teve outro filho, Benjamim (filho da minha mão direita): ela morreu no parto.
Com
sua serva Bila, Jacó teve:
11.
Dã (justiça),
12.
Naftali
(luta).
Ao
adentraram a terra de Canaã, por ordem de Deus, estas doze tribos já estavam
bem constituídas e deram origem ao povo hebreu, como o conhecemos hoje.
Por
sorteio, conduzido pelos irmãos Moisés e Aarão, a cada uma das doze tribos
coube um território, maior ou menor, de acordo com a riqueza e uberdade do solo
e o tamanho da população de cada tribo. Para tal, Javé havia determinado a
Moisés um recenseamento das populações de todas as tribos, detalhadamente
descrito na Bíblia, em Números 1 1-34.
As doze tribos de Israel. Fonte: Rogerson, John. Atlas of the Bible. Vol. I. Madrid. Ed. del Prado, 1996. pg. 29. |
Apesar dessa irmandade, estudos
históricos, arqueológicos e antropológicos, revelam que havia diferenças
culturais e de costumes entre essas tribos. Tanto que, após a morte do rei
Salomão, houve o cisma entre o reino do norte, Reino de Israel, e o reino do
sul, Reino de Judá. De comum entre eles havia sua origem semita, a língua, a
religião e muitos traços culturais e de costumes. Desde os tempos do exílio no
Egito, onde viviam nas férteis terras do Delta do Nilo, os filhos de Jacó
haviam se multiplicado enormemente, mantendo cada uma sua individualidade
cultural, a ponto de se identificarem entre si como tribos separadas. Jacó
também morreu em idade bastante avançada no Egito e seus restos mortais, assim
como os de seu filho José, foram exumados e transportados para serem sepultados
em Canaã. Antes de morrer, ele abençoou a todos os seus filhos e prenunciou o
destino que os aguardava no futuro.
Os territórios
de cada um dos membros das tribos hebraicas estão representados na figura
abaixo. Apenas Levi não recebeu um território físico. Seus descendentes, os
levitas, foram designados como sacerdotes, responsáveis pelos cuidados,
manutenção e transporte do Tabernáculo, um templo religioso construído numa
tenda portátil que podia ser levado para onde as tribos dos filhos de Jacó
fossem e pela Arca da Aliança. Foram também, determinadas por Javé, o formato, as
cores e a composição de seus materiais, ainda no deserto do Sinai.
As doze tribos de Israel. |
Levi também
teve diversos filhos, mas os que têm maior representatividade na Bíblia são:
Gershon (Gerson, que deu origem à linhagem dos gersonitas), Kohat (Coat ou Caat,
que deu origem à linhagem dos coatitas), Merari (que deu origem à linhagem dos
meraritas). Cabia aos gersonitas o transporte das tendas, cortinas, telas,
cordas e carros de boi do tabernáculo (Num 4 24-26; 7 7-8). Cabia aos coatitas
o transporte da Arca da Aliança e dos móveis sagrados (Num 4 4-12; 7 7-9).
Cabia aos meraritas o transporte dos polos, placas, soquetes, pilares e barras
do tabernáculo, individualmente, carregadas nas mãos (Num 3 36-37; 4 29-36).
Levi e seus descendentes até Samuel, os levitas. |
Coat também
teve diversos filhos, entre eles Amram, Hebron, Uzziel e Izhar (Isar). Amram
teve três filhos: Moisés, Aarão e Miriam, portanto, estes dois fundamentais
personagens bíblicos eram levitas. Isar teve, entre outros filhos, Korah (ou
Corá, ou Coré). Assim, Corá era primo em primeiro grau de Moisés e Aarão.
As demais
tribos mantiveram-se com os mesmos direitos e obrigações, determinados nos
ensinamentos da Torá, composta dos cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco.
Entretanto, dada a numerosa descendência de certas tribos, estas puderam gozar
de certa superioridade política.
Do ponto de
vista antropológico, arqueológico e historiográfico, os estudiosos têm alguma
divergência com o que nos diz a Torá hebraica ou a Bíblia cristã. Algumas
teorias sugerem que somente certas tribos saíram do Egito e se estabeleceram em
Canaã, quando se encontraram com outras tribos hebraicas autóctones. Havia
entre elas tal semelhança linguistica, cultural e racial que passaram a
conviver pacificamente entre si. Isso muito facilitou a conquista de Canaã
pelos hebreus, com suas dezenas de cidades-estado e pequenos reinos
independentes, gerando uma grande cooperação entre as tribos. Por outro lado,
se depararam com vizinhos Cananeus, Filisteus, Moabitas, Edomitas e outros
povos que nada tinham a ver com as raízes étnicas dos
hebreus. Diferentemente do relato bíblico, as tribos do Êxodo que mais se
destacaram, foram as de Judá, Levi, Simeão, Benjamim e as meio-tribos de Efraim
e Manassés. Também não foram encontradas evidências arqueológicas da passagem
de uma massa humana de mais de 600 mil pessoas durante quarenta anos no deserto
do Sinai. Assim, ficamos com a tradição oral hebraica que, após o exílio na
Babilônia no VI século a.C., foi transformado em texto, escrito por diversos
autores diferentes, no qual vamos nos basear em nosso presente relato.
As conquistas de Josué. Fonte: Rogerson, John. Atlas of the Bible. Vol. I. Madrid. Ed. del Prado, 1996. pg. 28. |
Moisés liderou as doze tribos dos hebreus pelo deserto da
Península do Sinai e, após sua morte, Josué continuou a liderá-los na conquista
de Canaã. A tomada de Jericó tornou-se o paradigma da conquista hebraica de
Canaã. Para que a conquista de todo o vasto território fosse feita de forma
ordenada e mantendo uma unidade racial e religiosa, as terras foram divididas
entre as doze tribos. Cada tribo auxiliava as outras nesta conquista.
Interessa-nos, nesta nossa abordagem, que a tribo de Efraim foi designada para
ocupar posições na região central, que incluía as cidades, então importantes,
de Silo (ou Siló), Gilgal, Betel e Ramá, vinculadas à história dos patriarcas
Abraão, Isaac e Jacó.
Primeiro Livro de Samuel. |
Foi de uma dessas pequenas cidades do território de
Efraim que surgiu um dos mais importantes profetas bíblicos: Samuel. Vejamos o
que nos diz o livro sagrado hebreu, a Torá, e o cristão, a Bíblia, no Primeiro
Livro de Samuel (1 1-28):
Javé atende o pedido do povo - 1Havia um homem de Ramataim, um
sufita da região montanhosa de Efraim, que se chamava Elcana, filho de Jeroam,
filho de Eliú, filho de Toú, filho de Suf. Era um efraimita. 2Elcana
tinha duas mulheres: uma se chamava Ana e a outra Fenena. Fenena tinha filhos;
Ana, porém, não tinha nenhum. 3Todos os anos, Elcana subia de sua
cidade para Silo, a fim de adorar e oferecer sacrifícios a Javé dos exércitos.
Em Silo, estavam Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli, que eram sacerdotes de
Javé.
4No dia em que oferecia sacrifícios, Elcana repartia
porções para sua mulher Fenena e para todos os filhos e filhas dela. 5Embora
tivesse maior amor por Ana, Elcana lhe dava apenas uma porção, porque Javé a
tornara estéril. 6Com humilhações, Fenena irritava Ana, a quem Javé
tinha deixado estéril. 7Isso acontecia todos os anos; e sempre que
eles subiam ao santuário de Javé, Fenena ofendia Ana. E Ana começava a chorar e
ficava sem comer. 8Elcana, seu marido, lhe perguntava: “Ana, por que
você fica chorando e não come nada? Por que você está triste? Por acaso, eu não
sou melhor para você do que dez filhos?”
9Depois de terem comido e bebido em silo, Ana se levantou
e se apresentou diante de Javé. O sacerdote Eli estava sentado em sua cadeira
junto à porta do santuário de Javé. 10Cheia de amargura, Ana rezou a
Javé, chorou muito, 11e fez uma promessa, dizendo: “Javé dos
exércitos, se quiseres dar atenção à miséria da tua serva e te lembrares de
mim, e não te esqueceres da tua serva, e lhe deres um filho homem, então eu o
consagrarei a Javé por todos os dias de sua vida, e a navalha não passará sobre
a cabeça dele”.
12 Como Ana continuasse rezando a Javé, Eli observava os
lábios dela. 13Ana apenas murmurava: seus lábios se moviam, mas não
dava para ouvir o que ela dizia. Por isso, Eli pensou que ela estivesse
embriagada. 14Então Eli perguntou: “Até quando você vai ficar
embriagada? Acabe primeiro com essa bebedeira!” 15Ana, porém,
respondeu: “Não, meu senhor. Eu sou uma mulher que sofre; não bebi vinho, nem
bebida forte. Eu estava apenas me desafogando diante de Javé. 16Não
pense que esta sua serva seja vadia. Falei até agora, porque estou muito triste
e aflita”. 17Então lhe disse Eli: “Vá em paz. Que o Deus de Israel
conceda o que você lhe pediu”. 18Ana respondeu: “Que esta sua serva
possa encontrar sempre o seu favor”. Ana foi embora, comeu, e já não parecia a
mesma de antes.
19Levantaram-se de madrugada, adoraram a Javé e voltaram
para casa. Chegando em Ramá, Elcana se uniu à sua mulher Ana, e Javé se lembrou
dela. 20Ana ficou grávida e, no tempo certo, deu à luz um filho, e
lhe deu o nome de Samuel, dizendo: “Eu o pedi a Javé”. 21Um ano
depois, seu marido Elcana subiu com toda a família para oferecer a Javé o
sacrifício anual e cumprir a promessa. 22Ana, porém, não foi junto.
Ela disse ao marido: “Quando o menino for desmamado, então eu o levarei para
apresentá-lo a Javé, e ele vai ficar lá para sempre”. 23Seu marido
Elcana respondeu: “Faça o que achar melhor e espere até que ele seja desmamado.
E Javé permita que você possa cumprir a promessa”. Desse modo, Ana ficou em
casa e criou o menino até o desmamar.
24Logo que o desmamou, o levou até o santuário de Javé em
Silo, com um bezerro de três anos, quarenta e cinco quilos de farinha e
quarenta e cinco litros de vinho. O menino era ainda muito pequeno. 25Eles
imolaram o bezerro e levaram o menino a Eli. 26Ana disse: “Desculpe,
senhor. Eu sou aquela mulher que esteve aqui junto ao senhor, rezando a Javé. 27O
que eu pedia era este menino, e Javé atendeu o meu pedido. 28Agora,
eu o entrego a Javé por toda a vida, para que pertença a ele.” E se prostraram
diante de Javé.
Esta cidade a que nos referimos, e descrita na Torá e na Bíblia, como Ramataim, ou Ramá, terra natal do pai de Samuel, Elcana, tem um histórico até hoje não exatamente bem esclarecido, ficando muito próxima a Jerusalém.
Mapa bíblico de Israel. |
Segundo o Atlas Bíblico (ver a referência do site ao final deste post), esta cidade teria o nome nos tempos bíblicos de Ramathaim-zophin (Ramataim-Sofim), que significaria, em hebraico, “Ramataim dos Sofitas”. Esta é a mesma opinião de John Rogerson em sua bela obra em dois volumes, Atlas of the Bible, traduzido em português como Bíblia – Os Caminhos de Deus, Vol. II. Madrid. Edições del Prado, 1996, pg. 168. Este local também é referido como Ramah (Ramá). Zophin (Sofim) é, talvez, uma corruptela do nome Zuph (Suf), o distrito onde nasceu Samuel (Samuel 1 9 5). Essas informações podem ser obtidas no Holman Bible Dictionary, (ver as referências ao acessar o site ao final deste post).
Localização de Ramataim-Zofim, no território de Efraim. |
Tanto Ramá quanto Suf seriam uma única e mesma localidade. Seu nome derivaria do fato de que estava assentada sobre duas colinas. Situava-se próxima a Silo, Betel, Guilgal e Mispá, todas importantes localidades do território de Benjamim, no período bíblico que compreende o final da era dos Juízes e de todo o período de Reis. Samuel, que residia em Ramá, participava, todos os anos, com sua função de Juiz, em todas essas cidades aqui referidas. Foi pelo poder de sua intervenção espiritual que Javé permitiu aos Israelitas vencer os Filisteus. Ver também no excelente site israelense, Bible History, cuja referência encontra-se ao final deste post.
Foi também em Ramá que os anciãos do povo Israelita fizeram uma petição a Samuel para que lhes desse um rei, a fim de que, unidos e fortalecidos por uma única liderança, pudessem sair vitoriosos nas inúmeras batalhas contra o Gentio. Assim, é que o primeiro rei dos hebreus, Saul, foi aclamado pelo povo e ungido por Samuel, após um sorteio (Samuel 1 10-17).
Ramataim-Zofim (Ramá), depois Arimatéia, e atual Ramalah, na Cisjordânia. Alguns a situam em Rantis, também na Cisjordânia. |
Outras
cidades que poderiam ser a Ramataim bíblica seriam:
a-
Beit Rima, uma cidade que ocupa uma colina a 20,9 quilômetros nordeste de Lydda
(Diospolis), 19,3 quilômetros a oeste de Silo, e a mesma distância nordeste de
Betel. Esta hipótese é baseada em G. A. Smith, Historical Geography of the Holy Land, pg. 254, e Buhl, Geographic des Alten Palestina, pg. 170
(ver o site do Atlas Bíblico
relacionado acima);b- Ramallah (Ramala), uma grande e próspera cidade, na atual Cisjordânia, que ocupa uma posição elevada, e representa um importante sítio arqueológico. Fica a 12,8 quilômetros ao norte de Jerusalém, 4,8 quilômetros a oeste de Betel, e 19,3 quilômetros a sudoeste de Silo. O nome significa “a colina” ou “lugar alto de Deus”, e pode ser o lugar elevado da cidade onde Saul encontrou Samuel. Várias citações bíblicas apontam nesta direção (Atlas Bíblico, op. cit);
c- Algumas opiniões apontam para Ramleh, uma localidade a 3,2 quilômetros sudoeste de Lydda, na planície de Sharon. Entretanto, esta hipótese foi eliminada, já que este povoado não existia antes do período da colonização árabe (Atlas Bíblico, op. cit).
Segundo Petrus Comestor (circa 1100-1179 a.D.), em sua Historia Scholastica, Cap. CLXXX: De sepultura Domini, a cidade de Ramataim foi identificada como a Arimatéia do Novo Testamento (ver as referências nos sites que se encontram ao final deste post).
Ramataim-Zofim (Ramá), depois Arimatéia e atual Ramalah (Rantis?). |
Mas, os leitores devem estar se perguntando por que tanto detalhamento na descrição de uma localidade bíblica. Que importância teria esse conhecimento para a tarefa a qual nos propusemos? A resposta é simples: pelo fato de que foi na Ramataim bíblica que surgiu a família Oliveira, espalhada hoje pelos quatro cantos do planeta.
V. Osipov. Levi. |
Não existem evidências científicas cabais de tal
afirmação. Essa é uma antiga tradição hebraica para a origem do sobrenome
Oliveira. Tradição essa que era transmitida oralmente em função das incontáveis
perseguições a que o povo judeu foi submetido no decorrer da História. Era
muito perigoso, na Baixa Idade Média (1200-1500 a.D.), no Renascimento e até o
século XVIII, a descrição, por escrito, e com documentação legal, dessa
genealogia pelos óbvios riscos a que os membros dessas famílias estavam
expostos. Foram inúmeros os casos de sofrimentos, perseguições, pogroms e
holocaustos a que os Oliveira foram submetidos no decorrer dos séculos na
Europa. Assim, era mais seguro manter a tradição oral do que apresentar
documentos que evidenciassem a origem hebraica dessas famílias.
De acordo com essa tradição oral hebraica, os
Oliveira pertencem à tribo de Levi, são, portanto, levitas. Como tal, e sabendo
que a genealogia de Levi, filho de Jacó (Israel), neto de Isaac e bisneto de
Abraão, é conhecida, podemos seguramente, baseados na tradição bíblica,
retroceder a genealogia dos Oliveira até Adão e Eva. Isto mesmo, o Adão e a Eva
do Paraíso, o Adão e a Eva do Gênesis, o primeiro homem e a primeira mulher a
existir na face da terra. Evidentemente, sabemos que a Bíblia, ou a Torá, não
são livros de História, de Arquelogia, ou de Antropologia. Não são livros de
ciência. Sabemos que o livro sagrado utiliza uma linguagem metafórica. As
pessoas ali referidas são símbolos de uma época, ou de gerações, de princípios,
de crenças, de uma religiosidade que foi transmitida de geração para geração.
Nada pode ser levado ao pé da letra, do contrário estaríamos a incorrer em
gravíssimos erros históricos. Mas, é reconfortante saber que há uma tradição
oral, que entre os séculos VIII a VI a. C., foi transcrita para o pergaminho e
o papiro, e que nos chegou até os dias atuais sob a forma do Antigo Testamento
e do Novo Testamento, este de origem cristã. É uma forma de resgatarmos nosso
passado, passa-lo a limpo, conhecer nossas origens e compreender como e por que
somos o que somos hoje em dia.
A genealogia bíblica dos levitas encontra-se no quadro abaixo, tendo os nomes dos personagens à esquerda, e o seu presumível tempo histórico relacionado à direita.
Genealogia dos levitas até Adão, segundo a tradição bíblica. |
Genealogia de Levi até o primeiro século da era cristã. Fonte: Steve Rudd (www.bible.com/maps). |
Os levitas, consequentemente o clã dos Oliveira, que, evidentemente, não tinham este nome naquela época, passaram por todos os períodos de glória e exultação que o povo Hebreu passou na Antiguidade. Mas também sofreu com as guerras, as lutas internas e fratricidas, o exílio na Assíria e, depois, na Babilônia, a volta para a terra de Canaã, por novas lutas internas, a dominação persa, grega e, por fim, romana. Foram séculos de alegrias e tristezas, de júbilo e muita dor, que terminou, por fim, com o exílio definitivo de sua santa terra amada, a Diáspora.
As cidades levitas, distribuidas entre diferentes tribos do povo de Israel. |
O Período dos Reis
Como vimos, antes do reinado de Saul, filho de Quis, não se podia definir uma nação israelita. As diversas tribos estavam unidas por laços étnicos e culturais, ora se aliando, ora batalhando entre si, em lutas fratricidas. A aliança entre elas era realizada em torno do Tabernáculo e da Arca da Aliança. Mas eram alianças precárias, tendo em vista as inúmeras ameaças dos inimigos externos. Fazia-se necessário a presença de um rei para unir todas as tribos em um só povo e guia-los, como ademais ocorria em todas as nações da Antiguidade. Os anciãos das diversas tribos se uniram e pediram a Samuel, já ancião, o último dos juízes, para que escolhesse seu rei. Este se opôs, inicialmente, dizendo que o único rei de Israel era Deus. Por fim, recebe um sinal divino que indica Saul, da tribo de Benjamim para governar seu povo, apesar da oposição de muitos.
Saul foi sagrado rei por volta do ano 1013 a.C. e reinou até o ano 1011 a.C. (existem diversas versões de estudiosos, historiadores e exegetas dos livros sagrados, que apontam datas diferentes). Segundo algumas fontes, teria 58 anos quando começou a governar. Inicialmente teve a simpatia de todas as tribos, mas, em decorrência de sua imaturidade, tirania, insucesso em algumas batalhas contra os Filisteus (venceu outras guerras contra outros povos, com glória) e, principalmente, por não obedecer a certos ritos religiosos, como ter matado um cordeiro para oferece-lo em holocausto a Javé (o que era permitido apenas aos sacerdotes), acabou por desencadear a revolta de grande parte de seu povo e de Samuel, bem idoso à época. Este, por ordem de Javé, proclama Davi, da tribo de Judá, um jovem pastor, o novo rei dos hebreus. Enciumado, Saul tenta matar Davi por diversas vezes, até que este se refugia entre os Filisteus. Desencadeia-se a guerra civil entre os hebreus. Tendo a oportunidade para matar Saul, Davi se recusa a tal e ganhou imensa popularidade entre todas as tribos. Saul acabou por suicidar-se após ter perdido importante batalha para os Filisteus e, imediatamente, Davi foi ungido por Samuel rei de Israel.
Império de Davi e distritos administrativos de Salomão. Fonte: Rogerson, John. Atlas of the Bible. Vol. I. Madrid. Ed. del Prado, 1996. pg. 32. |
Segundo o célebre arqueólogo americano Edwin Thiele, Davi teria nascido em 1040 a.C. e sua morte ocorreu em 970 a.C. Reinou sobre Judá de 1010 a 1003 a.C. e sobre o reino unificado de Israel de 1003 a 970 a.C. (Ver: Thiele, Edwin. The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, 1ª ed.; Nova York: Macmillan, 1951; 2ª ed.; Grand Rapids: Eerdmans, 1965; 3ª ed.; Grand Rapids: Zondervan/Kregel, 1983). Como ocorreu com a cronologia de Saul, existem também divergências quanto ao verdadeiro tempo histórico da vida e reinado de Davi. Não se pode falar em povo Hebreu ou Judeu antes de Davi. Foi ele o unificador de toda a nação, de todas as tribos e seu reinado foi um período de glória para o povo de Javé.
O filho de Davi, Salomão, o sucedeu no trono,
escolhido sucessor pelo próprio rei. Reinou entre 971 a 932 a.C., portanto, por
quarenta anos. Como seus dois antecessores no reinado, estas datas são
divergentes conforme diversos historiadores e exegetas. O reinado de Salomão,
diferentemente do de seu pai, Davi, caracterizou-se por um período de paz entre
os hebreus e seus vizinhos. Com isso pode dedicar-se à construção do Primeiro
Templo, obra que seu pai havia planejado, mas que as guerras haviam impedido. A
obra durou aproximadamente seis anos e foi iniciada assim que Salomão ascendeu
ao trono. O início de seu reinado foi caracterizado pela sua sabedoria e
prudência que se tornaram lendárias até os tempos atuais. Entretanto, dada sua
popularidade, mesmo entre povos estranhos a Israel, sua política de diplomacia
o levou a dezenas de casamentos (alguns autores falam em centenas, se não
milhares) com mulheres estrangeiras. Isso fez com que sua fé em Javé fosse
arrefecendo, levando-o a simpatizar com crenças estranhas ao povo hebreu.
O grau de descontentamento do povo com tal atitude
de seu rei foi de tamanha ordem que, mesmo antes de sua morte, houve uma cisão:
as tribos do norte, em número de dez, se separaram das remanescentes e fundaram
o Reino de Israel, cuja capital tornou-se a cidade de Samaria, englobando os
territórios da Galiléia do Norte e do Sul, Samaria e parte dos territórios dos
atuais Líbano e Síria, e, ao sul, o Reino de Judá, englobando os territórios
das tribos de Judá e Benjamim, cuja capital se manteve em Jerusalém.
O grande cisma dos povos hebreus. |
Roboão, filho de Salomão, tornou-se o rei de Judá e Jeroboão o rei de Israel. Do ponto de vista historiográfico, as tribos de Judá e Benjamim mantiveram-se quase completamente fundidas entre si. As referências a Benjamim desapareceram, apesar de suas principais cidades estarem em pleno território do Reino de Judá. Quanto às tribos do norte, alguns traços de individualidade ocorreram apenas na meia-tribo de Manassés. As demais também se fundiram entre si, não deixando traços de suas peculiaridades.
Acontecimentos após o cisma entre os hebreus. Fonte: Rogerson, John. Atlas of the Bible. Vol. I. Madrid. Ed. del Prado, 1996. pg. 33. |
O cisma, o exílio e o domínio de povos estrangeiros
O Reino de Israel, ao norte, foi invadido, no século VIII a.C., pelos assírios. Com a queda de Samaria houve o total desaparecimento do estado Israelita. Sua população foi deportada para a Assíria e distribuídos em locais diferentes de seu território. As dez tribos que o compunham desapareceram dos relatos bíblicos. Especula-se que os hebreus que sobreviveram à invasão e deportação se uniram a estrangeiros e abandonaram suas tradições.
No século VI a. C. foi a vez da queda de Jerusalém, mais exatamente, em 586 a.C., em decorrência da invasão do Reino de Judá pelo Reino da Babilônia. Nesta invasão houve a destruição do Primeiro Templo de Salomão, que marcou o início da Diáspora Judaica. Entretanto, apenas uma parte do povo de Judá foi deportado para a Babilônia, ficando a maior parte em seu país de origem, mantendo a união religiosa e étnica. Conjectura-se que esta união tenha sido decorrente das profecias do profeta Jeremias, que previu durar o exílio cerca de setenta anos. Enquanto esteve no exílio babilônico, os hebreus desenvolveram um sistema e um modo de vida religioso fora de sua terra, para assegurar a sobrevivência de seu povo como nação e sua identidade espiritual. Foi um ensaio de sobrevivência para novos exílios até que ocorreu a grande Diáspora do ano 70 d.C.
Com a invasão do Reino da Babilônia pelo Rei Ciro, da Pérsia, em 539 a.C., o povo hebreu seria libertado e mandado de volta para o Reino de Judá. A fé de seu povo o manteve coeso, intacto e fortalecido. Foi durante o exílio na Babilônia (586-538 a.C.) que o termo judeu surgiu pela primeira vez, referindo-se a todos os membros da tribo de Judá. Aproximadamente 50 mil judeus retornaram à Terra de Israel, liderados por Zerobabel, da dinastia de Davi. Cem anos depois, outro grupo de judeus, liderado por Esdras, o Escriba, também retornou. A religião do povo hebreu passou a ser chamada de judaísmo, com as características que conhecemos hoje, diferentes das práticas religiosas do Reino de Israel.
Rei Ciro, o Grande, da Pérsia. |
Nos quatro séculos seguintes, o povo hebreu viveu com certa autonomia, seja sob o domínio persa (538-333 a.C.), o domínio helenístico, após as conquistas de Alexandre, o Grande (332 a.C.), o domínio ptolemaico e selêucida (332-142 a.C.). A Terra de Israel continuou a ser governada pela teocracia judaica, inicialmente sob o domínio dos selêucidas, baseados na Síria.
Durante o período helenístico, os judeus foram proibidos de praticar o judaísmo e seu Templo foi profanado, numa tentativa dos gregos de impor sua cultura e seus costumes a todos os povos conquistados. Em 166 a.C. ocorreu uma revolta, liderada por Matatias, da dinastia sacerdotal dos Hasmoneus e, posteriormente, pelo seu filho Judá, o Macabeu. Em 164 a.C., os judeus entraram em Jerusalém e purificaram o Templo, fato que é comemorado até hoje no calendário judaico como a festa do Chanuká.
Durante todo o período entre o exílio babilônico e a Diáspora, os judeus mantiveram um forte sentido de união e resistência à dominação estrangeira. Tal força que uniu seu povo levou os judeus, mesmo após a invasão romana, a ser massacrados, à destruição do Segundo Templo de Salomão, e à expulsão dos remanescentes que permaneceram vivos. Essas catástrofes os levaram a manter a união entre si e a firmeza em sua crença pelos quatro cantos do mundo. Eles se espalharam pela Ásia, Europa e norte da África, criando uma verdadeira rede que manteve vivas suas tradições. Foi nesse período também que o termo “judeu”, significando um seguidor da religião judaica, superou o significado tribal pelo qual era conhecido. A partir daí, muitos estrangeiros, de origem não semítica, se declararam judeus. Através do povo hebreu e do judaísmo, a tradição da tribo de Judá se mantém até os tempos atuais.
No transcorrer do século I a.C. observou-se, cada vez mais, a intervenção romana, com o argumento de estabilizar politicamente toda a região. Pompeu, o grande general romano, em 63 a.C. conquistou a Judéia e anexou seu território ao domínio de Roma. Entre 63 a.C. a 6 d.C., a Judéia tornou-se um principado vassalo de Roma.
Herodes, o Grande, genro de Hircano II, foi nomeado rei da Judéia, em 40 a.C., por Otaviano e Marco Antônio. Foi concedido ao território judeu uma grande autonomia em seus assuntos internos. Neste período, houve a invasão dos Partos, que Herodes rechaçou e expulsou com a ajuda das legiões romanas. Em 37 a.C. Herodes tornou-se rei, de fato, após a conquista de Jerusalém. Ele foi um grande admirador da cultura greco-romana e estabeleceu um grande programa de construções, como as cidades de Cesaréia e Sebástia, as fortalezas de Heródio e Massada. Reformou o Templo, tornando-o uma das mais belas construções da Antiguidade. Com sua morte, o território foi dividido em três principados, entre seus filhos, Arquelau, Herodes Antipas e Filipe.
Em 6 d.C., a Judéia tornou-se uma província romana, sob a jurisdição parcial do governador da Síria. A administração da região passou a ser realizada por governadores romanos, chamados de prefeitos. Posteriormente, seriam chamados de procuradores. Arquelau foi chamado a Roma e partiu para o exílio.
À medida em que o poder de Roma oprimia os judeus, aumentou a insatisfação popular, o que levava periodicamente a revoltas. Em 66 d.C., ocorreu uma grande rebelião, que envolveu a maior parte da população. A revolta foi sufocada pelo general Vespasiano, que logo tornar-se-ia imperador de Roma, na sucessão traumática e sanguinária após a morte de Nero. Em 70 d.C., após novas rebeliões do povo judeu, o general Tito, filho de Vespasiano, que logo sucederia a seu pai como imperador de Roma, conquistou toda a Judéia com suas legiões, invadiu e arrasou a cidade de Jerusalém. Seu templo foi queimado e destruido, tendo grande parte de suas pedras atiradas, pelos soldados romanos, do alto das muralhas, criando uma cena dantesca que podemos ver até hoje. A política romana era de não deixar pedra sobre pedra a fim de não mais permitir o culto do judaísmo.
Os sobreviventes foram expulsos da Judéia, obrigados a se exilar na Europa, Ásia, norte da África. A Península Ibérica recebeu uma quantidade considerável de judeus, principalmente em decorrência de que a topografia e o clima serem muito semelhantes aos da Judéia. Este grande desastre humano recebeu o nome de Grande Diáspora, legado que o povo judeu carrega até os dias atuais.
A saga da família Oliveira
Durante o período da
ocupação romana da Judéia, mesmo antes da destruição do Segundo Templo de
Salomão, incontáveis famílias de judeus partiram para o exílio temendo o pior.
E o pior realmente aconteceu no ano 70 d.C. Não existem provas arqueológicas do
local de partida destas famílias rumo ao exílio. Pela antiga tradição hebraica,
sabe-se que, desde o primeiro exílio na Assíria, grupos inteiros de clãs
hebreus, provenientes de diversas tribos, partiram para a Europa Central, para
o oriente, norte da África e, milhares deles, para a Península Ibérica. Esta
era chamada de Sefarad, que, em
hebraico, significa Terra Prometida. Isso em função das semelhanças
geográficas, climáticas e da qualidade do solo com a terra de Canaã. Os Hebreus
mantinham boas relações comerciais e diplomáticas com os Fenícios, os maiores
navegadores e comerciantes da Antiguidade, se é que assim se pode chamar esta
convivência cultural e social entre estes povos no Oriente Próximo. Os portos
de Tiro e Sidon eram os principais pontos de partida dos barcos Fenícios que
singravam o Mar Mediterrâneo em todas as direções. Foram os Fenícios que
fundaram a colônia no norte da África, posteriormente chamada Cartago. Lá estabeleceram
um grande entreposto comercial de onde puderam ampliar suas rotas de navegação
e comércio com o sul da Europa e a Península Ibérica. Chegaram aos confins do
mundo conhecido de então: o Oceano Atlântico. Inúmeras lendas sobre estas
paragens desconhecidas são provenientes do período das grandes navegações
Fenícias. Novas ondas de emigração ocorreram após o retorno do exílio na
Babilônia, e também quando do domínio sírio, persa, grego e romano da Judéia.
Jope, atual Jaffa, parte da atual Tel-Aviv. Deste porto provavelmente partiram muitas famílias judaicas para o exílio, entre elas os futuros Benveniste e futuros Oliveira. |
Existem evidências
arqueológicas de que os Fenícios fundaram cidades como Gades (atual Cádiz), na Espanha.
Daí que os hebreus, oito séculos antes de Jesus Cristo, já migravam para estes
territórios. Aí, construíam suas sinagogas e seus objetos de culto religioso. Existem
diversas tumbas com inscrições em hebraico antigo em diversas regiões da Península
Ibérica. Existem inúmeras provas arqueológicas dessa afirmação em museus
espanhóis. Como vimos, essas migrações foram mais intensas após o retorno do
exílio na Assíria. É bem conhecida na Bíblia a história de Jonas, o profeta
hebreu da tribo de Zebulão, filho de Amitai, natural da cidade de Gete-Héfer,
do Reino de Israel, ao norte. Ele havia profetizado que, durante o reinado de
Jeroboão II (Reis II 14 25; Jonas 1 1), caso os assírios persistissem em sua
terrível crueldade e no grande derramamento de sangue do povo hebreu eles
sofreriam a ira Divina, se não se arrependessem em quarenta dias. Jonas foi
designado para ir a Nínive, capital da Assíria, para transmitir aos líderes dos
opressores de seu povo esta mensagem. Os assírios eram conhecidos pela prática
de decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios. Também
crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam
vivos.
Porto de Jope, atual Jaffa, Israel. |
Com receio de que lhe
ocorresse o mesmo, Jonas se acovardou e fugiu, em barco Fenício, rumo a Társis,
no sudoeste da Península Ibérica, atual região da Andaluzia. A distância de
Társis ao antigo porto hebreu de Jope (atual Tel Aviv) é de 3.500 quilômetros.
Era uma viagem cheia de riscos e surpresas, que, na época, durava várias semanas.
Durante a viagem de Jonas, segundo a Bíblia, ocorreu uma violenta tempestade.
Os marinheiros, ao tomar conhecimento de quem era Jonas e o motivo dele estar
ali, supersticiosos e com medo da vingança divina sobre eles, por estar
compactuando com o fugitivo, atiraram Jonas ao mar. Imediatamente, a tempestade
foi amainada, enquanto Jonas era engolido por um grande peixe. No relato bíblico,
ele ficou no estômago do peixe por três dias e três noites, quando se
arrependeu de sua atitude. Ao se arrepender, foi expelido (vomitado) pelo peixe
numa praia. Daí seguiu rumo a Nínive para cumprir sua missão designada por
Javé. No Livro de Jonas, os habitantes de Nínive e das cidades em seu entorno,
supersticiosos que eram, e com medo das divindades, mostraram-se também
arrependidos de seu comportamento sanguinário e violento. Fizeram jejum, se
vestiram com sacos rústicos como penitência e pararam com suas atrocidades.
Mas, Nínive não foi destruída e Jonas ficou desgostoso com tal situação. Foi
repreendido por Javé por isso. Aproximadamente, cem anos depois, Esdras liderou
outro grande grupo de hebreus em sua volta ao Reino de Israel.
As origens da
família Oliveira
Não sabemos o nome
original da família Oliveira, descendente da tribo de Levi. Sabemos que, entre
aqueles que se dirigiram para a Península Ibérica (judeus sefarditas, nome
proveniente de Sefarad), a Itália e o norte da África, os nomes mais adotados
foram: Olivarez, Oliva, Benveniste, Bienveniste, Benvenist e Del Medico. Entre
aqueles, dessa família, que se dirigiram à Europa Central e Oriental (judeus
ashkenasis, ou asquenazes, nome proveniente do hebraico medieval Ashkenaz, que
designava a palavra Alemanha), foram adotados os seguintes nomes: Epstein, Horowitz
e Segall.
Segundo a tradição hebraica, esta família levita era descendente de
Corá (Coré), filho de Yitzhar (Izar), filho de Coat (Qehat), filho de Levi. De
acordo com a Bíblia, Corá participou de uma rebelião contra Moisés e Aarão que
deixou marcas profundas em seus descendentes e desencadeou a ira de Javé. A
punição divina foi terrível, numa das passagens mais chocantes do Velho
Testamento. Como pode ser lido em Números 16 1-35, a rebelião contou com a
participação de Corá, Datã e Abiram, filhos de Eliab, e On, filho de Felet,
sendo Eliab e Felet filhos de Rúben. A eles se juntaram mais duzentos e
cinquenta homens, chefes da comunidade, membros do conselho, e pessoas de fama.
Transcrevemos um trecho desta passagem bíblica:
3Eles
se reuniram contra Moisés e Aarão, dizendo: “Chega! Todos os membros da
comunidade são consagrados, e Javé está no meio deles. Por que vocês dois se
colocam acima da comunidade de Javé?”. 4Quando ouviu isso, Moisés se
prostrou com o rosto no chão. 5Depois falou a Corá e aos outros que
estavam com ele: “Amanhã cedo Javé mostrará quem é dele e quem é o consagrado,
e ele o fará aproximar-se. Fará aproximar de si aquele que ele tiver escolhido.
6Façam o seguinte: peguem os incensórios, vocês e todos que os
seguem. 7Amanhã vocês acenderão neles o fogo e colocarão incenso
diante de Javé. Aquele que Javé escolher, esse será o consagrado. E, por ora,
chega, filhos de Levi!”
8Depois
Moisés disse a Corá: “Agora, escutem, filhos de Levi! 9O que é que
vocês estão querendo? O Deus de Israel separou-os da comunidade de Israel,
levando-os para perto dele, para vocês servirem no santuário de Javé e estarem
à disposição para servir à comunidade. 10Javé fez você e seus irmãos
levitas se aproximarem dele. Agora vocês querem também o sacerdócio? 11Vocês
e seus seguidores se revoltaram contra Javé! Quem é Aarão, para vocês
protestarem contra ele?”
A ira de Javé não tardou. Moisés solicitou a presença de Datã e Abiram
para deles pedir explicações de tão audacioso gesto, pois, há muito, Javé havia
dado a Aarão a função de ser o sumo sacerdote de seu povo. Ambos se recusaram a
comparecer, numa atitude de franco desafio e hostilidade a Moisés e ao
sumo-sacerdote. Moisés ficou furioso e se queixou a Javé que nunca havia feito
qualquer mal aos rebeldes. Moisés solicitou, então, para o dia seguinte, uma
reunião junto ao Tabernáculo de todas as tribos e intimou Corá a estar
presente.
A ira divina foi assim descrita (Números 16 20-24):
20Então
Javé falou a Moisés e Aarão: 21”Afastem-se desse grupo, porque vou
destruí-lo num instante”. 22Moisés e Aarão caíram com o rosto por
terra e suplicaram: “Deus, Deus dos espíritos de todos os seres vivos! Foi só
um que pecou, e tu vais ficar irritado contra todos?” 23Javé falou a
Moisés: 24”Diga às pessoas que se afastem das tendas de Corá, Datã e
Abiram”.
Assim foi feito, e Moisés avisou a todos da comunidade para se afastar
das tendas de Corá, Datã e Abirã. Os anciãos foram os primeiros a segui-lo,
depois toda a comunidade. Moisés falou, então, para todos, que se esses homens
morressem de morte natural, como ocorre com todo ser humano, seria um sinal
evidente de que ele, Moisés, não era o enviado de Javé. Mas se o chão sob os pés
deles se abrisse e todos os rebeldes fossem engolidos e descessem à mansão dos
mortos, então todo o povo de Israel saberia que ele era o enviado de Deus. Dito
e feito. Terminadas suas palavras, o chão se abriu tragando os rebeldes e todos
os duzentos e cinquenta homens que os seguiram. Enquanto os demais membros dos
hebreus fugiam espavoridos, com medo de também ser engolidos pela terra, um
raio de fogo acabou por consumir a todos (Números 16 26-35).
Sandro Botticelli. A punição de Corá, Datã e Abirã. Boticelli (1481). Afresco. 348,5 x 570 cm. Capela Sistina, Vaticano. |
Passado algum tempo, os descendentes de Corá, foram sendo readmitidos
nas cerimônias religiosas e se reintegrando aos ensinamentos hebraicos e se
mantiveram na obediência ao sumo sacerdote. Não há relato escrito, mas,
provavelmente, o trauma desse episódio perdurou por muito tempo entre eles. Some-se
a isto, a ocorrência das terríveis provações pelas quais passou o povo de
Israel, no decorrer dos séculos seguintes, pode-se imaginar o quanto esses
descendentes de Corá se sentiam e o grau de seu sofrimento e respeito pelas
autoridades de seu povo.
Capela Sistina, Vaticano. Ao lado da magnífica obra de Michelangelo, no teto, encontramos, nas laterais, afrescos de Botticelli. |
Esta mesma tradição, que localiza a origem dos descendentes de Corá na
cidade de Ramataim-Zofim, que, no primeiro século antes de Jesus Cristo, já no
período da dominação romana, havia mudado seu nome para Arimatéia, nos informa
que grande parte deste grupo fugiu da região, tomando de navios que partiram,
talvez, do porto de Jope (atual Jaffa, agora unida a Tel-Aviv), em direção à
Península Ibérica. Na ocasião, a Ibéria era uma província romana denominada
Hispania Romana. O motivo da escolha da Hispania Romana foi que, apesar de ser
membro do Império Romano, era uma região mais distante, tranquila e com menos
fluxo de tropas romanas que no Oriente Próximo. Várias dessas informações podem
ser obtidas no blog de Paulo Araujo: http://rambamm.blogspot.com.br/, ele
um brasileiro, judeu sefardita, residente no Rio de Janeiro.
O local escolhido foi a
cidade de Gerunda (atual Gironda, em catalão, Girona, em castelhano, e Gerona,
em português). Importante localidade a noroeste da Espanha, próxima à atual
Barcelona (antiga Tarraco), foi fundada pela tribo dos indigetes, pertencente
aos povos Iberos. Este nome, Gerunda, especula-se, significa “entre o
Undários”, nome que, na língua ibera significava “recebia o rio Oñar”. No
segundo século a.C. os romanos a conquistaram, ali estabelecendo um importante
posto militar na estrada por eles construída e chamada Via Heráclea,
posteriormente Via Augusta. Os judeus aí viveram em paz por vários séculos,
dedicando-se, principalmente ao cultivo da oliveira e à produção do óleo de
oliva, que foi a principal inspiração para sua futura mudança de nome. Após a
queda do Império Romano e o advento do reino visigótico, houve uma convivência
relativamente pacífica com este povo bárbaro que, rapidamente, assimilou a
cultura romana e a religião cristã. Em 711, ocorreu a invasão muçulmana na Península
Ibérica. Gerunda foi invadida em 715. Durante o domínio muçulmano esta família
era chamada de Mas o domínio
muçulmano, na Catalunha, pouco durou. Tropas franco-germânicas, da dinastia
Carolíngia, logo os expulsaram e mantiveram sua influência, na região, por
muitos séculos. Aí se situa, talvez, o início da cultura catalã, uma síntese
das culturas dos iberos, romanos, visigodos, muçulmanos e cristãos francos.
Hispania Romana |
Gerona (Gerunda romana e Girona em espanhol), próxima a Barcelona. Noroeste da Espanha. |
Vias romanas que passavam por Gerunda. |
No século XIII houve o
esplendor cultural da comunidade judaica de Gerona. Sua escola cabalística
representou importante papel, quando se destacou o rabino Nahmânides (o Bonastruc ça Porta, em catalão, cujo
nome judeu era Moixé ben Nahman), que tornou-se, posteriormente, o
Grão Rabino da Catalunha. A decadência da comunidade judaica começou no século
XIV, agravando-se com o pogrom de 1391, quando os judeus foram encerrados na Torre
Gironella, a fim de obriga-los a se converter ao cristianismo. O bairro judeu
de Gerona, o Call, é um dos mais bem conservados da Europa e hoje constitui uma
de suas atrações turísticas.
Gerona e o rio Onyar. Na região há a confluência dos rios Onyar, Ter, Galligants e Güel. Ponto estratégico das vias romanas para a Hispania Romana. |
Neste período a futura
família Oliveira tinha o nome de Benveniste. Percebendo a ameaça à sua sobrevivência,
em função das perseguições cristãs e, sobretudo, pelo advento da Inquisição na
região, antes que lhes acontecesse o pior, migraram para uma pequena comunidade
chamada Cávia, ou Oliva-Cávia, encrustada nas montanhas próxima a Burgos,
antiga capital de Castela. À época de sua migração, Burgos já estava em plena
decadência em função da mudança da capital para Toledo. Estava, portanto, longe
do grande movimento, do burburinho e das agitações religiosas que tanto ameaçavam
os judeus. Segundo relato do geógrafo árabe Al Idrisi, no século XII, Burgos
era uma cidade onde havia uma importante comunidade judaica. Algumas dessas famílias
judaicas tinham o sobrenome de Olivares ou Olivarez, que significa serem de
Oliva-Cávia.
Gerona. Muros da cidade velha. |
Gerona, bairro judeu, chamado El Call. Aqui provavelmente viveram os ancestrais dos Oliveira na Espanha. |
Em 1492, os judeus foram
expulsos da Espanha pelos reis católicos, Fernando e Isabel. Não havia outra
opção, a família Benveniste migrou, mais uma vez, para o norte de Portugal, na
região do Minho. Foi neste período que, para manter seus laços culturais e
familiares com seu antigo clã, da tribo de Levi, a família Benveniste resolveu
mudar de sobrenome utilizando um criptograma. A palavra Oliveira (inspirada em
suas atividades profissionais de comerciantes do óleo de oliva) contém as
consoantes da palavra Levi, ou Levy: oLiVeYra. Outra correlação é o fato de
serem descendentes de Yitzhar (Izar), isto é, eram Izaritas. A palavra Yitzhar,
em hebraico, está relacionada com o óleo de oliva, e a árvore da oliveira
produz o fruto de onde se extrai o azeite, que era usado na Antiguidade na unção
sacerdotal. Como os levitas eram os sacerdotes do povo hebreu, a palavra
oliveira veio bem a calhar. Assim, surgiu o sobrenome Oliveira.
Burgos, Espanha. Localização no mapa. Oliva-Cávia era um pequeno povoado desta cidade. |
Houve aqui uma engenhosa
e muito inteligente forma de se camuflar para fugir das perseguições. Além da
palavra oliveira conter o fonema das letras latinas, no qual os sons
representavam o som ou fonema do nome de sua família em hebraico Levy (L-V-Y). Nas
línguas semíticas (hebraico, aramaico, árabe e o amarico da Etiópia) não se
usavam vogais na palavra escrita, somente as consoantes. Esse estratagema linguístico
salvou a vida de milhares de judeus sefarditas das garras terríveis da Inquisição.
Burgos e sua catedral medieval. |
Muitos dos Benveniste
que migraram para Portugal, quando a Inquisição chegou ao país lusitano,
adotaram uma forma traduzida de seu sobrenome de família, a fim de disfarçar
sua origem judaica. A tradução de Benveniste para o português é bem vindo, e assim adotaram o sobrenome
de Benvindo. Esta família Benvindo, posteriormente, migrou para o Brasil,
principalmente para a região do Nordeste, tornando-se grandemente numerosa no
interior dos estados de Pernambuco e Bahia.
Burgos e suas fortalezas medievais. Cidade natal do lendário cavaleiro Cid, el Campeador, que lutou contra os mouros, motivo de romanceiros, livros e, na atualidade, de filmes. |
Segundo vários
historiadores, dentre os quais se destaca a profa. Anita Novinsky, uma das
maiores autoridades mundiais em estudos da Inquisição portuguesa, no primeiro século
após a descoberta do Brasil, calcula-se que a população judaica em nosso território
tenha atingido a impressionante cifra de 35% do total de habitantes. Aí se incluíam
os Oliveira, os Levi, os Levy, os Benveniste e os Antunes. Sua área de
concentração foi marcadamente no Nordeste.
Segundo o já citado Paulo
Araújo, em seu blog relacionado anteriormente, o fundador da família Oliveira,
em Portugal, foi o rabino Rabi Abraham Benveniste, nascido em 1433, na cidade de
Soria, província de Cáceres, no Reino de Castela. Era descendente direto do
Rabi Zerahiá bem-Its’haq ha-Levi, de Gerona, que viveu no século 12. Este era
chamado de há-Its’hari, ou de Itshari, já que sua genealogia remontava aos
filhos de Its’har, tio do profeta Moshe Rabenu. Ele fugiu da Espanha, com toda
sua família, antes do decreto de expulsão dos judeus, em 1492. Como eram de
Oliva-Cávia, eram conhecidos como Olivares ou Olivarez. Ao fugir da Espanha,
estabeleceu-se no sul da França. Seus descendentes, notadamente os que
residiram em Oliva-Cávia, se mudaram para Portugal e deram origem aos Oliveira.
Destes, algum tempo depois surgiram seus parentes (além dos que mantiveram o
sobrenome Benveniste): Oliveyra, Olivares, Olivera, Oliver, Oliveros, Olivetti
e Olivette.
Burgos, abadia de Santa Maria la Real de las Huelgas, fundada em 1180. |
Com a intensificação da
perseguição inquisitorial aos judeus, os originários de Oliva-Cávia tinham mais
facilidade, após o batismo forçado, em adotar um sobrenome que lembrasse suas
raízes judaicas.
Exemplos de outras famílias
judaicas que camuflaram seus antigos sobrenomes para palavras da língua portuguesa:
os Cohen, que significa sacerdote, adotaram o sobrenome Cunha; os Natan e Ben
Natan, de origem levita, o sobrenome Antunes ou Antunez; os Ben Moreh, que
significa filho do professor, os sobrenomes Moraes e Moreira; os Bem Menashe,
que significa filhos de Manassés, o sobrenome de Menezes; os Ben Meir, que
significa filhos dos iluminados ou dos sábios, os sobrenomes Meira e Meireles;
os Fares, da tribo de Judá, os Faria; os Bem Soher, que significa filho ou
descendente de comerciante ou de guardas, os Soeiro e Soares ou Suarez; os Bem Nun,
descendentes de membros da tribo de Efraim, os Nunes e Nuñez; os Bem Shimon, da tribo de
Simeão, os Ximenes, Ximenez, da Galícia,
e os Simões, de Portugal; os Guimarim, que significa estudantes e intérpretes
da Guemara, tratado religioso judaico, descendentes da tribo de Levi, nos
Guimarães; os Quirós, outra família levita, nos Queirós, Queiroz e Queiroga.
O sufixo ES ou EZ, que
esteve presente no sobrenome inicial dos Olivares, era utilizado para
identificar a descendência da família. Substituía a palavra hebraica ben, e do aramaico bar, cujo significado é filho
de. Significam a expressão hebraica Eretz Yisrael (Terra de Israel). Disso
derivou a expressão que se referia aos judeus como gente da nação, isto é, da
nação judaica.
Dentre os judeus,
convertidos à força para o cristianismo, os, assim chamados, cristãos-novos, de
origem ibérica, podemos citar:
Região do Minho, norte de Portugal. Ao sul fica a região do Douro. |
Castelo de Guimarães, Minho. A região foi o berço da nação portuguesa, no século XII. |
Praça das Oliveiras. Centro histórico de Guimarães.
A bibliografia
utilizada para o preparo deste texto encontra-se no blog:
Para
outras informações sobre a origem judaica da família Oliveira, podemos indicar
os seguintes links:
http://rambamm.blogspot.com.br/ Blog
de Paulo Araujo. Judeu
Sefaradita. Atuante em ensino Bíblico e palestrante nas áreas de Teologia
Própria e Homilética Básica, no Rio de Janeiro, Brasil.
O Atlas Bíblico pode ser acessado em:
Sobre a cidade de Ramataim-Zofim podem ser obtidas mais informações em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ramathaim-Zophim e http://www.infoplease.com/encyclopedia/society/ramathaim-zophim.html#ixzz2M8O3gRG9).
Para uma belíssima visita virtual à Capela Sistina, no Vaticano,
onde se encontram pinturas de Sandro Boticelli, uma delas intitulada A punição de Corá, Datã e Rabirã:
A região do Minho, Portugal:
http://www.youtube.com/watch?v=tNZ79H2h84I
Incrível a descrição detalhada sobre a história dos hebreus que muito me impressiona pois sou cristã adventista e tenho muito apreço pelo estudo da Bíblia. Qual não foi a minha surpresa ao procurar a genealogia do meu sobrenome Oliveira e descobrir em seu site que ela remonta aos Levitas,tribo que cuidava do Santuário, uma das doutrinas biblicas mais significativas que apontava para o Sacrifício de Jesus, o Cordeiro de Deus. Muito Obrigada por me ajudar a compreender as minhas origens. Ajudou -me a entender muita coisa sobre mim mesma, sobre meus interesses, sobre o que eu acredito!
ResponderExcluir***
ResponderExcluirAchei muito legal a história sobre a família de Oliveira, eu já venho estudando sobre o assunto faz alguns anos, inclusive pretendo passar 50 dias e Israel terra dos meus pais.
ResponderExcluirDe mais!!
ResponderExcluirSou cristã e tbm Oliveira .
Muito feliz por nascer neste País, onde eu posso louvar, falar e clamar o nome do meu Deus!!
JESUS CRISTO sem ser oprimida ou até mesmo morta.
OBGD SENHORR.
Parabéns, Dr. Antônio Carlos, por esse belo e grandioso trabalho sobre genealogia judaica!
ResponderExcluirEstava procurando alguém que não fizesse rodeios sobre um dos Patriarcas da Família Oliveira - só encontrava que era o Tio de Moisés, Yits'har, mas omitiam de qual dos filhos dele descenderiam os Oliveira. Como ele era o pai do Coré (Qorah), suspeitei que essa lacuna se devia por esse filho dele ter infernizado a vida de Moisés, se tornando um dos vilões da Bíblia. O bom genealogista, porém, não deve ocultar seus antepassados que tiveram uma má conduta. Se a Bíblia narrasse apenas a vida dos Santos, e somente suas boas obras, seria um livro maçante.