São Paulo. Matriz da Sé, em 1810. Fonte: Moura, Paulo Cursino. São Paulo de Outrora
(Evocações da Metrópole). 3a. Edição. São Paulo. Liv. Martins Editora S.A., 1954, p.24.
(Evocações da Metrópole). 3a. Edição. São Paulo. Liv. Martins Editora S.A., 1954, p.24.
Era o
ano de 1693 e o bandeirante Antônio Rodrigues de Arzão veio com sua expedição
em busca do ouro, penetrou no território montanhoso da Mantiqueira pela
passagem conhecida como garganta do Embaú, próxima à atual Passa Quatro. Percorreu o Caminho Velho, já conhecido
há muito pelos paulistas e tornado célebre pela grande bandeira de Fernão Dias
Pais. Esta grande bandeira percorreu este trajeto nos idos de 1674. Após o Embaú,
transpostos os principais obstáculos da Mantiqueira, Arzão penetrou nos Campos
dos Cataguases, ainda habitado pelos hostis índios caiapós. Estes haviam sido, em parte, expulsos da região por
bandeiras anteriores. Os Cataguases haviam se refugiado a noroeste do
território, numa região conhecida já há algum tempo como Campo Grande, a oeste do rio São Francisco. Esta é uma área de campinas onduladas, com matas mais ralas
que no litoral, entremeadas por montanhas, como a Serra da Canastra, onde hoje
é o território do Alto São Francisco e do Triângulo Mineiro. Os Cataguases aí
se estabeleceram, de onde seriam novamente expulsos algumas décadas depois, por
outros aventureiros. Eram índios temidos pelos bandeirantes devido à sua fama
de bravios e pelo canibalismo. Nesta região ao sul das Minas Gerais tinham o hábito de pintar seus corpos de argila
branca, daí serem chamados pelos paulistas de tatus brancos, já que moravam em
cavernas nas montanhas da região, logo ao sul da Mantiqueira.
Arzão
provavelmente se acampou no mesmo sítio onde estivera Fernão Dias Pais e seus
homens, um pouco a nordeste da atual Baependi, e a sudeste de Lavras, a fim de
descansar a tropa, se recuperar das fadigas da longa jornada e recolher
mantimentos para manter a grande aventura. Esse local logo se tornou um
povoado, em vista da uberdade da terra, quando os colonos cultivaram grandes
plantações e se dedicaram à criação de gado e outros animais que servissem de alimento e
transporte para os viajantes. Foram sendo construídos ranchos para abrigo da tropa. Mais tarde, esses ranchos deram origem a um povoado, fundado por um bandeirante
de Taubaté, Capitão Manoel Garcia Velho, por volta de 1701, malgrado o fato do ouro
ter se esgotado rapidamente na região. Chamou-se o povoado de Carrancas devido à conformação de algumas rochas nas montanhas vizinhas, duas delas voltadas uma para a outra, em forma de caras feias.
Pouco depois se descobriu ouro em Lavras do Funil, como era chamada esta outra povoação a noroeste de Carrancas. Lavras do Funil desenvolveu-se muito mais do que Carrancas. Ambas ficavam no Caminho Velho, que comunicava a Capitania de São Paulo com as Minas Gerais. Algumas décadas depois, Carrancas tornar-se-ia Freguesia, com a construção da capela, em seguida matriz, de Nossa Senhora da Conceição. Mais algumas décadas e esta freguesia seria transferida para Lavras do Funil, como veremos logo em seguida.
Arzão prosseguiu em sua marcha e ultrapassou a região que começava a ser desbravada, onde se situa hoje as cidades de Ouro Preto e Mariana e se dirigiu para o nordeste, para uma área denominada de Casa do Casca (próxima à atual Caeté), onde os rios e ribeirões são afluentes do Rio Doce.
Antônio Rodrigues de Arzão foi o primeiro descobridor oficial de ouro nas Minas Gerais, fato registrado pelas autoridades da Coroa portuguesa em Vitória, no Espírito Santo. Para Vitória ele se dirigiu ao sair do território mineiro, acossado pelos índios hostis e pelas doenças, como a malária. Levava consigo algumas amostras do cobiçado mineral. De sua tropa sobraram poucas pessoas, dizimadas pelas doenças ou mortas pelos índios. Suas pepitas, examinadas por especialistas e atestadas como sendo ouro de altíssima qualidade, foram divididas. Metade ficou com o governador que as enviou a Lisboa, onde seriam analisadas por especialistas mais credenciados e mostradas ao rei. A outra metade ficou consigo, que levou consigo de volta para São Paulo.
Confirmada em Lisboa a notícia de que os minerais eram ouro de alta qualidade, Arzão tornou-se, assim, oficialmente, o primeiro descobridor de ouro nas Minas Gerais. É verdade que Borba Gato quase vinte anos antes (1678) já havia descoberto o cobiçado metal, mas a notícia fora mantida em segredo, para não despertar a cobiça de aventureiros e atrair emissários da Coroa portuguesa. Mesmo porque Borba Gato estava envolvido na morte de D. Rodrigo de Castelo Branco (1684), o nobre espanhol que era emissário do rei de Portugal, com o fito de fiscalizar as minerações do Sul do Brasil e as, agora promissoras, novas minas descobertas ao norte da Capitania de São Vicente, território que depois seria a Capitania de Minas Gerais. Também se diz que Garcia Rodrigues Pais havia descoberto ouro em 1686, mas sem documentação. O historiador Antonil aponta que foi um mulato que descobriu ouro no serro do Tripuí (1693), próximo à futura Vila Rica, mas também sem documentação do fato. Outros historiadores, como Orville Derby apontam outros nomes, mas não apresentou qualquer prova disso.
Assim que melhorou um pouco seu estado de saúde, e não podendo arregimentar no Espírito Santo os homens com os quais poderia voltar ao sertão, Arzão retornou, via marítima, para São Paulo, onde ficou junto dos seus. Mostrou as pedras que levara para seu concunhado, Bartolomeu Bueno de Siqueira que, um ano depois (1694), organizou outra bandeira, com diversos parentes, para tentar refazer a jornada de Arzão e descobrir as minas do ouro. Esta bandeira estacionou por um bom tempo em Itaverava, onde diversas minas de ouro foram descobertas.
A proeza de Antônio Rodrigues de Arzão foi registrada e tornou-se lendária, principalmente após o famoso poema “Vila Rica”, de Claudio Manoel da Costa, em homenagem à antiga capital das Minas Gerais. Os feitos de Arzão foram aí eternizados. O poeta se baseara em relatos orais e na tradição que permanecera em toda a região por muitas décadas.
Pouco depois se descobriu ouro em Lavras do Funil, como era chamada esta outra povoação a noroeste de Carrancas. Lavras do Funil desenvolveu-se muito mais do que Carrancas. Ambas ficavam no Caminho Velho, que comunicava a Capitania de São Paulo com as Minas Gerais. Algumas décadas depois, Carrancas tornar-se-ia Freguesia, com a construção da capela, em seguida matriz, de Nossa Senhora da Conceição. Mais algumas décadas e esta freguesia seria transferida para Lavras do Funil, como veremos logo em seguida.
Vista dos campos ondulados e algumas matas próximas a
Carrancas, esta bela região que tanto seduziu os bandeirantes.
Foto: Antônio Carlos Corrêa. |
Arzão prosseguiu em sua marcha e ultrapassou a região que começava a ser desbravada, onde se situa hoje as cidades de Ouro Preto e Mariana e se dirigiu para o nordeste, para uma área denominada de Casa do Casca (próxima à atual Caeté), onde os rios e ribeirões são afluentes do Rio Doce.
Antônio Rodrigues de Arzão foi o primeiro descobridor oficial de ouro nas Minas Gerais, fato registrado pelas autoridades da Coroa portuguesa em Vitória, no Espírito Santo. Para Vitória ele se dirigiu ao sair do território mineiro, acossado pelos índios hostis e pelas doenças, como a malária. Levava consigo algumas amostras do cobiçado mineral. De sua tropa sobraram poucas pessoas, dizimadas pelas doenças ou mortas pelos índios. Suas pepitas, examinadas por especialistas e atestadas como sendo ouro de altíssima qualidade, foram divididas. Metade ficou com o governador que as enviou a Lisboa, onde seriam analisadas por especialistas mais credenciados e mostradas ao rei. A outra metade ficou consigo, que levou consigo de volta para São Paulo.
Confirmada em Lisboa a notícia de que os minerais eram ouro de alta qualidade, Arzão tornou-se, assim, oficialmente, o primeiro descobridor de ouro nas Minas Gerais. É verdade que Borba Gato quase vinte anos antes (1678) já havia descoberto o cobiçado metal, mas a notícia fora mantida em segredo, para não despertar a cobiça de aventureiros e atrair emissários da Coroa portuguesa. Mesmo porque Borba Gato estava envolvido na morte de D. Rodrigo de Castelo Branco (1684), o nobre espanhol que era emissário do rei de Portugal, com o fito de fiscalizar as minerações do Sul do Brasil e as, agora promissoras, novas minas descobertas ao norte da Capitania de São Vicente, território que depois seria a Capitania de Minas Gerais. Também se diz que Garcia Rodrigues Pais havia descoberto ouro em 1686, mas sem documentação. O historiador Antonil aponta que foi um mulato que descobriu ouro no serro do Tripuí (1693), próximo à futura Vila Rica, mas também sem documentação do fato. Outros historiadores, como Orville Derby apontam outros nomes, mas não apresentou qualquer prova disso.
Assim que melhorou um pouco seu estado de saúde, e não podendo arregimentar no Espírito Santo os homens com os quais poderia voltar ao sertão, Arzão retornou, via marítima, para São Paulo, onde ficou junto dos seus. Mostrou as pedras que levara para seu concunhado, Bartolomeu Bueno de Siqueira que, um ano depois (1694), organizou outra bandeira, com diversos parentes, para tentar refazer a jornada de Arzão e descobrir as minas do ouro. Esta bandeira estacionou por um bom tempo em Itaverava, onde diversas minas de ouro foram descobertas.
A proeza de Antônio Rodrigues de Arzão foi registrada e tornou-se lendária, principalmente após o famoso poema “Vila Rica”, de Claudio Manoel da Costa, em homenagem à antiga capital das Minas Gerais. Os feitos de Arzão foram aí eternizados. O poeta se baseara em relatos orais e na tradição que permanecera em toda a região por muitas décadas.
Carrancas
foi se desenvolvendo lenta e preguiçosamente. Tornou-se um dos primeiros
povoados da Comarca do Rio das Mortes (São João Del-Rei). Em 1760 a sede da freguesia foi
transferida para o Arraial de Santana das Lavras do Funil (atual Lavras, a 80
quilômetros noroeste), situação que persistiu até 1814. Em 1721 foi iniciada a
construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Carrancas, por escravos, em pedras de
quartzito, algumas pesando mais de uma tonelada. A igreja se mantém até hoje magnificamente preservada, sendo um patrimônio histórico de Minas Gerais. Seu altar-mor e o teto têm
pinturas de Joaquim José da Natividade, discípulo de Aleijadinho e um dos
grandes mestres do barroco mineiro.
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Uma das grutas da região de Carrancas. Foto de autor desconhecido. |
Matriz de N. S. da Conceição, Carrancas, MG. Foto: Antônio Carlos Corrêa |
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Teto da Matriz de N. Senhora da Conceição de Carrancas, MG. Pinturas de Joaquim José da Natividade, discípulo do Aleijadinho. Foto: Antônio Carlos Corrêa. |
Interior da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Carrancas. Foto: Antônio Carlos Corrêa |
Em
meados do século XVIII, em data imprecisa, vieram outros paulistas de mudança
para Carrancas. Entre eles estava Cornélio Corrêa de Arzão que,
posteriormente, mudaria seu nome para José Corrêa de Arzão por razões ainda
inexplicadas. Pode-se imaginar o motivo, mas são apenas conjecturas. Este
Cornélio era tetraneto de outro Cornélio de Arzão (1584-1636), cujo nome
original era Cornelius Arzam, flamengo de Bruges, na atual Bélgica (eram
chamados de holandeses os imigrantes dos Países Baixos).
Este
Cornélio de Arzão, o flamengo, veio para o Brasil em 1599, trazido pelo sétimo
Governador-Geral do Brasil, D. Francisco de Sousa (1540-1611). Este governante
era um homem inteligente e ambicioso. Queria não somente o desenvolvimento do
pais, agora sob seu comando, mas também o enriquecimento pessoal. Assim, foi
para a Europa (Portugal, Espanha e Flandres) no intuito de contratar técnicos,
engenheiros, carpinteiros, marceneiros e todo tipo de especialistas que
pudessem contribuir, com competência, para a construção de engenhos, casas e
prédios públicos (então feitos de barro batido e sapé) com mais segurança e
mais solidez. Cornélio inicialmente foi levado para Salvador como construtor de
engenhos de açúcar e de trigo, além de outras benfeitorias, inclusive casas.
Enfim, era um excelente técnico e mestre de obras, com um salário elevado. Em
1591, o rei D. Felipe II (então Portugal e Espanha eram um mesmo reino) nomeara
D. Francisco de Sousa, nobre e de passado militar glorioso nas guerras de
África, contra os mouros, quando combatera ao lado do infausto rei D. Sebastião, como o sétimo Governador-Geral do Brasil, em
Salvador. Seu mandato durou de 1591 a 1602. Posteriormente, foi transferido
para São Vicente, como capitão geral e superintendente das capitanias do sul,
cujo mandato foi de 1608 a 1611, quando faleceu. Ao descer para São Vicente,
levara consigo, como auxiliar, o eficiente Cornélio de Arzão. A genealogia de Cornélio de Arzão encontra-se descrita na Genealogia Paulistana de Silva Leme (1905). Ver link abaixo.
No começo correu tudo bem. Enquanto D. Francisco se ocupava das tarefas de descobrimento de novas minas pelo sul e pelas Minas Gerais, Arzão exercia diligentemente seu ofício de mestre de obras e construtor de engenhos de açúcar e trigo em São Paulo de Piratininga, para onde havia se transferido. Tinha um salário excelente de 200 cruzados por mês, o que o tornou um homem rico em pouco tempo. Além de construir engenhos, construía também prédios públicos e foi o primeiro a construir a Matriz da Sé na colina onde se originara São Paulo. Futuramente viria a ser reconstruída já com o nome de Catedral da Sé, que continua a ser a maior referência religiosa dentre as igrejas em São Paulo.
Só havia
um porém: Cornélio de Arzão era cristão-novo, isto é, judeu convertido à fé
católica para fugir aos horrores, torturas e queima pela Inquisição. Apesar de
seu trabalho diligente e probo, entrou em conflitos com os padres Jesuítas, em
1618, quase com certeza por motivos de inveja pessoal, pois os padres não
conseguiram fazer negócios com ele, de acordo com as regras deles, jesuítas.
Cornélio foi submetido a um sumário julgamento pela Inquisição, perdendo todos
os seus bens, confiscados que foram pelo Santo Ofício, isto é, foram
incorporados ao patrimônio da Igreja. Até hoje não se comprovou nenhum crime
que Cornélio tenha perpetrado. Esteve preso por cinco anos em Setúbal, cidade ao sul de Lisboa, Portugal, e sua família
passou por dificuldades. Em 1627 foi libertado e, após retornar ao Brasil, conseguiu uma carta de
sesmaria para um terreno nas cercanias de São Paulo, em área onde é hoje o
município de Cubatão, em 1628/9. Em seu terreno passavam diversos ribeirões e
córregos e era de praxe o pagamento de pedágio ao proprietário quando alguém
precisava transpor as águas em viagem. Os jesuítas, não satisfeitos com o
confisco anterior, e ambicionando as novas terras de Cornélio de Arzão, para
aumentar suas rendas nos pedágios e na exploração das terras (que hoje se acham
entre as mais valorizadas do país, onde se situam indústrias de ponta em
Cubatão), conseguiram nova expropriação de sua sesmaria e a de inúmeros outros
proprietários vizinhos, em situação semelhante. Com isso, fruto da perseguição
injusta e da inveja pelo seu sucesso, e tendo sua condição de
cristão-novo a agravar a situação (para os jesuítas o cristão-novo continuava a
praticar o judaísmo na intimidade de seu lar), Cornélio perdeu praticamente
todos os seus bens, em 1629. Morreu deixando testamento, em 1636, no qual distribuiu o que sobrou para seus familiares. Um exemplo da ignomínia que assolou o
Brasil por dois séculos. O trauma permaneceu na família Arzão.
Cornélio
de Arzão havia se casado com Elvira Rodrigues, filha do sertanista e
bandeirista, Martim Rodrigues Tenório de Aguilar, castelhano de Sevilha e, ele
também, cristão-novo, de antigo credo judaico. Martim Rodrigues se casara com
Suzana Rodrigues, neta de João Ramalho e Antônio Rodrigues, dois dos pioneiros
povoadores da Capitania de São Vicente, e troncos das principais famílias do
Sudeste brasileiro. Existem fortes indícios de que, tanto João Ramalho quanto
Antônio Rodrigues, também seriam de origem judaica. Martim Rodrigues foi, além
de comerciante estabelecido em São Paulo de Piratininga, um grande sertanista.
Esteve em expedições pelo Sul. Em 1603 embrenhou-se pelo sertão além
Mantiqueira, chegando a uma região, mais tarde conhecida como Campo Grande, nas cabeceiras do rio São Francisco.
Antes de fazê-lo deixou seu testamento em São Paulo. Foi morto pelos índios nesta mesma região,
provavelmente em 1608, conforme alguns relatos históricos.
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Marc Ferrez. Largo da Sé, em destaque, à dir., a catedral e, à esq. a igreja de São Pedro dos Clérigos. Ca. 1880. |
Cornélio
de Arzão deixou oito filhos que se mudaram para um arraial não distante de São
Paulo, Santana do Parnaíba (aproximadamente 50 quilômetros), que hoje faz parte
da Grande São Paulo, às margens do rio Tietê. Parnaíba era uma das portas para o
sertão do oeste e noroeste, quando se utilizava a via fluvial do Tietê, que
facilitava em muito as expedições. O segundo filho foi Manoel Rodrigues de
Arzão, que se tornou grande sertanista e bandeirante, apresador de índios, então
de grande valor comercial como escravos domésticos e nas fazendas de São Paulo.
Sua bravura (não ficou conhecido como cruel e sanguinário como outros
bandeirantes, entre os quais o temido Domingos Jorge Velho), fê-lo conquistar o
título de Capitão, com o que passou a ser designado Capitão Manoel Rodrigues de
Arzão. Este capitão teve sete filhos. O quarto filho recebeu o mesmo nome do
pai, e também o título de Capitão, sendo então conhecido como Capitão Manoel
Rodrigues de Arzão, o moço, também um sertanista e bandeirante de destaque.
Manoel Rodrigues de Arzão, o moço, foi um dos descobridores de ouro no Serro Frio, atual cidade do Serro, numa bandeira capitaneada por Antônio Soares Ferreira, genro de Fernão Dias, em 1700/1701. Deixou inúmeros descendentes nessa localidade. Teve de fugir às pressas da região, demandando o Mato Grosso, por ter se colocado ao lado de um grande amigo, coronel da Coroa portuguesa, outro dos fundadores do Serro Frio, numa contenda que este último teve com um representante do governador da Capitania de Minas Gerais. Para não ser preso e ter seus bens confiscados, já que o conflito assumira proporções gigantescas, e vendo sua própria vida em risco, Manoel Rodrigues de Arzão dirigiu-se com alguns companheiros para o Mato Grosso, onde faleceu alguns anos depois.
Manoel Rodrigues de Arzão, o moço, foi um dos descobridores de ouro no Serro Frio, atual cidade do Serro, numa bandeira capitaneada por Antônio Soares Ferreira, genro de Fernão Dias, em 1700/1701. Deixou inúmeros descendentes nessa localidade. Teve de fugir às pressas da região, demandando o Mato Grosso, por ter se colocado ao lado de um grande amigo, coronel da Coroa portuguesa, outro dos fundadores do Serro Frio, numa contenda que este último teve com um representante do governador da Capitania de Minas Gerais. Para não ser preso e ter seus bens confiscados, já que o conflito assumira proporções gigantescas, e vendo sua própria vida em risco, Manoel Rodrigues de Arzão dirigiu-se com alguns companheiros para o Mato Grosso, onde faleceu alguns anos depois.
O sétimo
filho do Capitão Manoel Rodrigues de Arzão, o velho, portanto irmão do Capitão
Manoel Rodrigues de Arzão, o moço, foi Antônio Rodrigues de Arzão, o primeiro descobridor oficial do ouro nas Minas Gerais,
como descrevemos acima. É de se notar que todos os Arzão (houve outros, que não
cabe aqui ficar a descrever) se destacaram como grandes sertanistas e
bandeiristas, mas não ficaram conhecidos pela fama de cruéis e sanguinários,
ou genocidas, como o prof. Rubens Fiúza, de Dores do Indaiá, deixa claramente
disposto em suas obras “O Diamante do
Abaeté e outros contos” e “Do São
Francisco ao Indaiá”. Basta pesquisar os grandes historiadores do Brasil,
em particular da Capitania de Minas Gerais, que nada é encontrado de
desabonador em relação à família Arzão.
O quinto
filho de Cornélio de Arzão foi o Capitão-Mor Braz Rodrigues de Arzão
(1621-1695), outro grande sertanista e bandeirista que, inicialmente se
destacou em missões no extremo Sul do Brasil. Acompanhou depois a bandeira de
Domingos Barbosa Calheiros à Bahia, em 1658, onde a expedição sofreu sério
revés, tendo sido quase toda dizimada pelos índios paiaiás. Voltou Braz a São
Paulo. Em 1671, atendendo ao pedido do governo baiano, que solicitava a ajuda
de bandeirantes paulistas na guerra contra os bravios e temidos tapuias,
retornou à Bahia em nova bandeira, capitaneada por ele e por Estêvão Ribeiro
Baião. Havia uma guerra declarada entre os colonos baianos e a nação tapuia, o
que rendeu aos expedicionários inúmeros fracassos anteriores. Desta vez, foram
vitoriosos na empreitada, conseguindo expulsar o gentio para áreas mais a oeste
e milhares deles migraram para as regiões do Centro-Oeste e Amazônia brasileiras.
Retornou a São Paulo onde entrou em conflito com os padres jesuítas em torno da
questão do aprisionamento de índios. Os jesuítas eram contra o aprisionamento e
o povo a favor, pois precisava de sua mão de obra nas fazendas. O conflito foi
resolvido pacificamente. Mais uma vez, em 1679, foi designado para acompanhar
os desdobramentos da fundação da Colônia do Sacramento, no extremo sul. Houve
revezes na luta contra espanhóis e índios. Em 1680, Braz retornou
definitivamente a São Paulo, onde exerceu funções de administrador de minas e
de comunidades indígenas até sua morte, em 1695.
A
primeira filha do Capitão-Mor Braz Rodrigues de Arzão, Maria Rodrigues de Arzão
(1653-1741), casou-se com Antônio Gomes Corrêa. Dos sete filhos que teve o
casal, o segundo foi Manoel Corrêa de Arzão (1671-1741), casado com Maria de
Lima (1651-1741). Este casal teve cinco filhos. O terceiro foi Guilherme de
Arzão (1696-1741), que se casou com Escolástica Borges de Aguiar (?-1769). Guilherme
e Escolástica tiveram dois filhos: Cornélio Corrêa de Arzão (1738-1810) e
Estêvão Corrêa de Arzão (1749-?). Por esta época já havia desaparecido a era do
bandeirismo, restando apenas alguns sertanistas corajosos que rasgavam os
sertões da Capitania de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, agora não mais em
busca de escravos índios, mas à procura do ouro e pedras preciosas. Persistiam
também algumas guerras contra tribos de indígenas, notadamente caiapós, da
etnia tapuia, ainda residentes nos territórios do Campo Grande (Alto São
Francisco) e da Farinha Podre (atual Triângulo Mineiro). Essas tribos
mantiveram uma renhida luta pela sua sobrevivência na região, até que foram
definitivamente exterminadas ou expulsas das terras, em meados do século XVIII. Os remanescentes
fugiram para as regiões do Centro-Oeste e Amazônia brasileiras.
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Igreja Matriz de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo.
No início do século XVII serviu como ponto de partida para
as bandeiras que utilizavam o rio Tietê.
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Foram,
provavelmente, os irmãos Cornélio Corrêa de Arzão e Estevão Corrêa de Arzão quem se mudaram de Santana do Parnaíba
para Carrancas, em Minas Gerais, em busca de melhores oportunidades de
trabalho. Não se sabe exatamente em que ano, mas acreditamos que tenha sido por
volta da quarta ou quinta décadas do século XVIII. Cornélio casou-se, em
Carrancas com Francisca de Souza, cuja família também viera de Santana do Parnaíba, em 23 de julho de 1756. Pouco antes, entre 1754 e 1756, mudara seu nome
para José Corrêa de Arzão. Sua esposa era sua prima em segundo grau e houve
necessidade de se solicitar autorização eclesiástica para o casamento, conforme os
costumes legais de então, quando religião e assuntos de Estado se confundiam. Os
motivos dessa mudança de nome não foram encontrados em cartórios locais,
cabendo-nos apenas especulações de que Cornélio queria se ver livre do estigma
do nome. Possivelmente, a história de
sua família fosse bem conhecida entre os paulistas de Carrancas, além da inevitável
associação com seu tetravô Cornélio de Arzão e o judaísmo. Os pais dela eram: Carlos Martins de Souza e Tomásia Borges de Aguiar,
ambos de Santana do Parnaíba e que também haviam migrado para Carrancas. O casamento se deu na Igreja Nossa Senhora da
Conceição de Carrancas. Tais dados foram recentemente coletados pelas pesquisadoras paulistanas Bartyra Sette e Regina Moraes Junqueira, no Projeto Compartilhar, já disponível pela
internet, desde 13/05/2012, quando fizeram aportes à famosa obra Genealogia Paulistana, de Luiz Gonzaga
da Silva Leme, de 1905, a mais importante obra de genealogia das famílias das
regiões Sudeste e Sul do Brasil, desde o Descobrimento por Pedro Álvares
Cabral.
Fecha-se,
assim, o ciclo paulista da família Arzão e começa o ciclo mineiro da família
Corrêa de Arzão.
Igreja Matriz de Santana, de Lavras, fundada em 1754, onde se casou Manoel Corrêa de Souza. Foto da década de 1960. Autor desconhecido. |
Igreja Matriz de Santana, de Lavras.
Foto da década de 1980.
Autor desconhecido. |
O casal Cornélio/José
Corrêa de Arzão e Francisca de Souza teve 8 filhos:
1- Joaquim José Corrêa,
nascido em 27 de abril de 1754, portanto, dois anos antes do casamento de seus
pais, o que revela um relacionamento íntimo do casal anterior ao casamento. Casou-se
Joaquim com Maria Gomes da Rocha, em 22 de outubro de 1775, ela filha de Luiz Gomes e Ignez Clara de Jesus, da família Artur da
Rocha, de Carrancas. Este casal provavelmente permaneceu em Carrancas. Por
ocasião do batismo de Joaquim José Corrêa, seu pai já assinava como José Corrêa
de Arzão.
2- Manoel Corrêa de Souza, batizado em 20
de dezembro de 1758, não havendo referência à data de seu nascimento. Em 7 de
abril de 1780, portanto, com 22 anos,
casou-se com Maria Andreza de Jesus, filha de Francisco Gomes da Cunha e Ana
Gomes da Rocha, também da família Artur da Rocha, de Carrancas. O casamento se deu na Matriz de Santana, em Lavras do Funil. Foi ele um dos
fundadores de Dores do Indaiá, como veremos na postagem a seguir.
3- Ana Francisca de Souza, batizada em 4
de agosto de 1760. Aos 28-10-1777 casou-se com Manoel da Silva Chaves, filho de
João Pires da Costa e Francisca da Silva Chaves, neto paterno de Domingos
Gonçalves da Estrada e Maria Pires, da freguesia de Santa Eulália, Concelho de
Bastos do Arcebispado de Braga, neto materno de Manoel da Silva Chaves e
Bernarda Rodrigues, da freguesia de São João Del-Rey. O casamento se deu na
capela de Nazaré, filial da Vila de São João Del-Rey.
4- Luiz,
nascido em 10 de julho de 1763. Não há mais informações sobre Luiz.
5- Catarina de Sene de Jesus, batizada em
maio de 1765. Casou-se em Campanha, filial da freguesia de Lavras, aos 29 de
abril de 1784 com José Marques Viana, natural de Barbacena, filho de João
Marques Viana e Izabel Francisca de Jesus. Esta família encontra-se no Capítulo
2º., sob a designação de “João Pereira Temudo”, na Genealogia Paulistana, de Silva Leme.
6- Ricardo Correa de Arzão, batizado aos 17
de novembro de 1766. Aos 12 de fevereiro de 1789 casou-se com Theodora Angélica
da Rosa, filha de Bartolomeu da Rosa e Teresa Maria de Jesus, na Matriz de N.S.
de Carrancas.
7- Jorge, batizado em 24 de junho de 1769.
Não há mais informações sobre Jorge.
8- José, batizado em 26 de dezembro de 1770.
Não há mais informações sobre José.
9- Antônio Corrêa de Souza, não há
referência quanto à data de seu nascimento. Em 26 de setembro de 1804, casou-se
com Teresa Maria de Jesus, filha de André Gonçalves da Fonseca e Ana Teresa de
Jesus, na Matriz de Santa Ana (Santana), em Lavras do Funil.
O segundo
filho de Cornélio/José Corrêa de Arzão, Manoel Corrêa de Souza, em 1788, com 30
anos, solicitou e obteve do governador da Capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses,
uma sesmaria na região do Campo Grande, Alto São Francisco. Não existem
referências dos motivos que levaram Manoel a fazer este pedido, mas
provavelmente teria sido uma grande oportunidade para melhorar de vida, já que, seja
em Carrancas ou Lavras do Funil, havia uma saturação de pessoal e mão-de-obra, a
produção do ouro estava em franco declínio e o futuro sorria para os criadores
de gado. Consultamos a obra da historiadora paulista Marta Amato, autora do livro "A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Carrancas e sua História", publicado em São Paulo, pela Ed. Loyola, em 1996, e não encontramos nenhuma sesmaria, entre os anos de 1718 a 1795, pertencente a alguém da família Arzão. Acreditamos que os Arzão, de Carrancas, tenham sido comerciantes ou tenham exercido alguma outra profissão na própria cidade e que não tenham sido fazendeiros. Descobrimos também que os nomes de José Corrêa de Arzão e Estevão Corrêa de Arzão estão relacionados entre os moradores de Carrancas que assinaram uma petição, em 1760, dirigida ao bispo de Mariana, D. Manoel da Cruz, no sentido de transferir a Matriz de Carrancas para a igreja de Sant'Ana, em Lavras do Funil. Tal pedido se deu em função do desconforto que a Matriz de Carrancas proporcionava aos fiéis vindos, em sua maioria, das fazendas e povoados nas redondezas. Destacavam que a Matriz estava situada em terreno de particular, no meio de sua fazenda, sem adro e sem comodidade para poderem andar procissões. Carrancas tinha, então, em torno de 500 moradores, ao passo que em Lavras do Funil havia mais de 1000. Isso exigia dos moradores de Carrancas, que se dirigiam a Lavras, uma permanência de, pelo menos, dois dias na cidade, em função da distância. Em contrapartida, tinham oportunidade não só de uma melhor assistência em sua fé religiosa católica, como também acesso a um comércio muito mais variado, médico, dentista e outros suportes que uma cidade como Carrancas não lhes propiciava. O pedido foi atendido e a paróquia de Carrancas foi transferida para Lavras do Funil, no mesmo ano. Tal petição encontra-se publicada no livro de Marcio Salviano Vilela intitulado "A Formação Histórica dos Campos de Santana das Lavras do Funil", que veio a lume em Lavras, pela Editora Indi, em 2007. De se ressaltar que, entre os signatários de tal petição, encontramos os nomes de Bartolomeu Bueno do Prado e seu cunhado Diogo Bueno da Fonseca, dois dos maiores desbravadores da região do Campo Grande, a oeste das cabeceiras do Rio São Francisco. Ambos tinham familiares residindo em Carrancas (família de seu sogro), São João Del Rei e Pitangui.
Bartolomeu Bueno do Prado foi um nome que se destacou na história da Capitania de Minas Gerais quando, a pedido do governador José Antônio Freire de Andrade, em 1757, comandou uma grande expedição no combate aos quilombolas em toda a região do Campo Grande. Na oportunidade, o paulista, descendente de bandeirantes famosos, destruiu os quilombos de Parnaíba, Indaial (próximo a Dores do Indaiá), Bambuí, serra da Marcela e Canastra. Esses quilombos eram liderados pelo Quilombo do Ambrósio, localizado num morro entre os atuais municípios de Tiros e São Gotardo, também destruído. Na volta para a região de São João Del Rei, ainda destruiu quilombos em Sapucaí e o grande quilombo do Canalho, em 1759 e 1760. Bartolomeu aprisionou centenas de negros, que trouxe consigo para Vila Rica, onde os entregou ao governador para que fossem novamente repartidos entre os fazendeiros a fim de trabalhar como escravos.
Concluímos, assim, que os irmãos Arzão, de Carrancas, não só conheciam os desbravadores do Campo Grande como deveriam ter sido seus amigos e recebido deles muitas informações quanto à topografia, qualidade da terra, clima, meios de acesso, quais seriam os primitivos habitantes da região. Mais do que tudo, a absolutamente necessária informação sobre a segurança para os que se aventurassem na região com o intuito de aí se estabelecerem em sesmarias. Provavelmente, receberam do desbravador a informação tranquilizadora de que a região já estava pacificada (leia-se que os caiapós, ou tapuias, já tinham sido expulsos ou mortos, e os quilombolas destruídos ou aprisionados). Assim, qualquer morador de Carrancas que se dispusesse poderia solicitar uma sesmaria ao governador e se aventurar naquelas então longínquas plagas, a fim de se estabelecer e contribuir para criar uma civilização onde antes era terra selvagem. Imperava ainda, bem o sabemos, o banditismo e o aventureirismo facinoroso vinculados à prospecção do diamante e seu contrabando na região dos rios Indaiá e Abaeté. Mas isso não era motivo suficiente para impedir que novos colonos se estabelecessem naquelas ubérrimas terras.
Sem perspectivas em Carrancas ou Lavras do Funil, tomado de coragem para enfrentar o território ainda semi-deserto, no fim do mundo, povoado ainda por caiapós e quilombolas desgarrados, com a região entre os rios Indaiá e Abaeté convulsionada pelos conflitos advindos do garimpo clandestino de diamantes, lá foi Manoel Corrêa de Souza e sua esposa Maria Andreza de Jesus, como Dom Quixotes, encarar o futuro desconhecido. Levaram consigo três filhos, quatro escravos, alguns animais domésticos, umas vacas, muares e cavalos, e tomou da “Picada de Goiás”, em 1787/8, em direção ao Campo Grande. Saiu de Carrancas, não precisou passar por São João Del-Rei, já que havia uma trilha que passava por Lavras do Funil e a região onde hoje é Ribeirão Vermelho, uma belíssima área onde ainda naqueles tempos se encontrava a mata atlântica, tomou rumo noroeste, cruzou as campinas ao sul de Oliveira e, dias depois, alcançou Pitangui, então uma importante vila aurífera da Capitania. Daí pegou uma variante da “Picada de Goiás” em direção ao Paracatu, aberta por um consórcio chefiado por Domingos de Brito, em 1736, e já muito utilizada por caixeiros-viajantes, contrabandistas de ouro e diamantes, soldados do governador da Capitania com o fito de estabelecer a ordem e punir criminosos, criadores de gado, enfim todo tipo de gente que precisava se deslocar (a picada comunicava o Centro-Oeste, Goiás e Mato-Grosso, à Capitania de Minas Gerais e ao Rio de Janeiro). Atravessou o rio São Francisco na “Passagem do Piraquara” e alcançou o planalto ondulado por suaves colinas, lindas campinas, com mato ralo e algumas matas fechadas, então chamado de Campo Grande. Antes de atingir a belíssima e azulada Serra da Saudade, mas tendo-a a emoldurar o belo panorama, Manoel Corrêa de Souza tomou posse de sua sesmaria, às margens do ribeirão dos Patos. Começava aí, na sua casa e terras, na sua Fazenda dos Patos, uma nova epopeia.
Bartolomeu Bueno do Prado foi um nome que se destacou na história da Capitania de Minas Gerais quando, a pedido do governador José Antônio Freire de Andrade, em 1757, comandou uma grande expedição no combate aos quilombolas em toda a região do Campo Grande. Na oportunidade, o paulista, descendente de bandeirantes famosos, destruiu os quilombos de Parnaíba, Indaial (próximo a Dores do Indaiá), Bambuí, serra da Marcela e Canastra. Esses quilombos eram liderados pelo Quilombo do Ambrósio, localizado num morro entre os atuais municípios de Tiros e São Gotardo, também destruído. Na volta para a região de São João Del Rei, ainda destruiu quilombos em Sapucaí e o grande quilombo do Canalho, em 1759 e 1760. Bartolomeu aprisionou centenas de negros, que trouxe consigo para Vila Rica, onde os entregou ao governador para que fossem novamente repartidos entre os fazendeiros a fim de trabalhar como escravos.
Concluímos, assim, que os irmãos Arzão, de Carrancas, não só conheciam os desbravadores do Campo Grande como deveriam ter sido seus amigos e recebido deles muitas informações quanto à topografia, qualidade da terra, clima, meios de acesso, quais seriam os primitivos habitantes da região. Mais do que tudo, a absolutamente necessária informação sobre a segurança para os que se aventurassem na região com o intuito de aí se estabelecerem em sesmarias. Provavelmente, receberam do desbravador a informação tranquilizadora de que a região já estava pacificada (leia-se que os caiapós, ou tapuias, já tinham sido expulsos ou mortos, e os quilombolas destruídos ou aprisionados). Assim, qualquer morador de Carrancas que se dispusesse poderia solicitar uma sesmaria ao governador e se aventurar naquelas então longínquas plagas, a fim de se estabelecer e contribuir para criar uma civilização onde antes era terra selvagem. Imperava ainda, bem o sabemos, o banditismo e o aventureirismo facinoroso vinculados à prospecção do diamante e seu contrabando na região dos rios Indaiá e Abaeté. Mas isso não era motivo suficiente para impedir que novos colonos se estabelecessem naquelas ubérrimas terras.
Sem perspectivas em Carrancas ou Lavras do Funil, tomado de coragem para enfrentar o território ainda semi-deserto, no fim do mundo, povoado ainda por caiapós e quilombolas desgarrados, com a região entre os rios Indaiá e Abaeté convulsionada pelos conflitos advindos do garimpo clandestino de diamantes, lá foi Manoel Corrêa de Souza e sua esposa Maria Andreza de Jesus, como Dom Quixotes, encarar o futuro desconhecido. Levaram consigo três filhos, quatro escravos, alguns animais domésticos, umas vacas, muares e cavalos, e tomou da “Picada de Goiás”, em 1787/8, em direção ao Campo Grande. Saiu de Carrancas, não precisou passar por São João Del-Rei, já que havia uma trilha que passava por Lavras do Funil e a região onde hoje é Ribeirão Vermelho, uma belíssima área onde ainda naqueles tempos se encontrava a mata atlântica, tomou rumo noroeste, cruzou as campinas ao sul de Oliveira e, dias depois, alcançou Pitangui, então uma importante vila aurífera da Capitania. Daí pegou uma variante da “Picada de Goiás” em direção ao Paracatu, aberta por um consórcio chefiado por Domingos de Brito, em 1736, e já muito utilizada por caixeiros-viajantes, contrabandistas de ouro e diamantes, soldados do governador da Capitania com o fito de estabelecer a ordem e punir criminosos, criadores de gado, enfim todo tipo de gente que precisava se deslocar (a picada comunicava o Centro-Oeste, Goiás e Mato-Grosso, à Capitania de Minas Gerais e ao Rio de Janeiro). Atravessou o rio São Francisco na “Passagem do Piraquara” e alcançou o planalto ondulado por suaves colinas, lindas campinas, com mato ralo e algumas matas fechadas, então chamado de Campo Grande. Antes de atingir a belíssima e azulada Serra da Saudade, mas tendo-a a emoldurar o belo panorama, Manoel Corrêa de Souza tomou posse de sua sesmaria, às margens do ribeirão dos Patos. Começava aí, na sua casa e terras, na sua Fazenda dos Patos, uma nova epopeia.
Ao fundo, a Serra da Saudade. Em primeiro plano, o Morro do Palhano. Foto: altoabaeté. |
Não sabemos se ele tinha conhecimento disso, mas passara por territórios onde, 180 anos antes, seu ancestral, o bandeirante Martim Rodrigues Tenório de Aguilar, o sevilhano cristão-novo, havia trilhado com sua bandeira paulista e encontrara a morte numa certeira flechada de índios caiapós. Simples coincidência ou um carma que estava destinado a cumprir? Jamais o saberemos.
Na próxima postagem vamos ver no que deu a aventura de Manoel Corrêa de Souza, um homem simples, forte, corajoso, que soube arrostar todos os perigos, que enfrentou a rusticidade da terra, a falta de conforto, as ameaças e perigos de toda sorte, a distância da civilização, longe do conforto da religião, em condições sanitárias precárias, sem assistência de saúde, para tentar construir um novo futuro. Para si e para seus descendentes. Um bravo, um pioneiro que deixou um grande legado.
Parece que sou seu parente por causa da família Theodoro Costa por parte da minha avó sou bem mineiro mesmo sendo de esquerda acredito em tradição e honra e a história deve ser estudada como a do grande Arzão e seus descendentes no qual fico satisfeito em saber que junto com o capitão Amaro é também meu ancestral,inclusive desconfio da origem do senhor Amaro pelo fato de ter uma árvore genealógica muito misteriosa e cheia de buracos no século do batismo forçado e ele apesar de se assumir como cristão velho acredito que tinha antepassados judeus e era de uma região notoriamente marrana ou pelo menos parte dela,me interesso não só por este assunto te garanto muito antes desta historinha de passaporte nada contra mas levo mais a sério raízes e identidade.
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