quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pedro José de Oliveira e Silva, o probo.




Pedro José de Oliveira e Silva (1857-1938).


Poucas pessoas foram apontadas, na história de Dores do Indaiá, como exemplo de probidade como o foi Pedro José de Oliveira e Silva. Desde o testemunho publicado por Carlos Cunha Corrêa em Serra da Saudade, em 1948, até comentários que ouço, com frequência, nos dias atuais, feitos por pessoas que o conheceram, constato que é unânime a afirmação de que Pedro José de Oliveira e Silva foi a pessoa mais honrada e séria que conheceram. Evidentemente, não estou a desmerecer os demais personagens da história dorense, pois homens probos os houve, com certeza, e em número não reduzido. Mas o exemplo legado por Pedro José a todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo cala fundo nos que se aventuram em saber um pouco mais da história desta pequena cidade do Campo Grande mineiro.

Pedro José se eternizou como uma referência de pessoa do bem, cujo único objetivo na vida era ajudar a quem dele necessitasse. Soube promover a concórdia e a tolerância entre as pessoas, soube honrar os compromissos assumidos e, acima de tudo, soube viver para o bem de sua família e de sua comunidade. Visto que essas qualidades são cada vez mais escassas em nosso País, considero que apresentar uma breve biografia, mesmo que muito incompleta e plena de lacunas, é um dever para com todos aqueles que valorizam as grandes virtudes do caráter.


Pedro José de Oliveira e Silva (1857-1938).


Pedro José de Oliveira e Silva foi um homem inserido em seu tempo, mas seguiu um rumo diferenciado da média dos demais cidadãos que viveram nesse período de nossa história. Enquanto a maioria lutava em seu trabalho para obter dinheiro, prestígio, poder, influência e posses, muitas posses, Pedro José nadava um tanto contra a corrente. Teve posses, mas apenas o suficiente para que pudesse criar sua família com dignidade. E não era uma família pequena. Pelo contrário, criou os filhos de forma exemplar e ajudou a criar os netos. Sempre foi um homem com quem os amigos e conterrâneos podiam contar nas horas difíceis. Pedro José se tornou uma lenda de honradez em Dores do Indaiá.

Pedro José de Oliveira e Silva nasceu provavelmente na fazenda Cachoeira, em Dores do Indaiá, em 1857. Seu registro de nascimento revela apenas o nome do rincão natal, a Vila de Dores do Indaiá. Esta fazenda pertencia a seus ancestrais desde sua organização, no início do século XIX, porém não encontramos referência acerca da data correta de sua formação.

A fazenda Cachoeira, segundo relato de Carlos Cunha Corrêa em Serra da Saudade (p. 183), foi organizada por Manuel Alves Cirino, casado com Custódia Jacinta de São José, esta filha legítima de Domingos Gonçalves Machado e Custódia Luiza de Santana. O autor não revela dados sobre a origem de Manuel, mas Custódia era proveniente de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete). Manuel Alves Cirino foi um dos 39 sesmeiros e fazendeiros que fundaram o arraial da Boa Vista, futura Dores do Indaiá, em co-participação com seus sogros Domingos Gonçalves Machado e Custódia Luiza de Santana. Ele consta na relação  dos fundadores já apresentada em post anterior.


Matriz de Queluz no início do século XX.


Queluz foi um sítio polarizador de imigrantes portugueses para o Brasil, no século XVIII, provenientes de diversas localidades do norte de Portugal, notadamente da região do arcebispado do Porto e do de Braga, duas das cidades lusitanas mais antigas, em particular do concelho de Guimarães. Guimarães foi palco da decisiva batalha de São Mamede, em 24 de junho de 1128, na qual o jovem Duque Afonso Henriques, após sangrenta batalha contra as forças do reino de Leão e da Galícia, comandadas por sua mãe, a Duquesa Teresa de Leão e o conde da Galícia, Fernão Peres de Trava (que havia se casado com sua mãe, quando esta ficou viúva do conde D. Henrique de Borgonha, pai de D. Afonso Henriques), tendo derrotado o exército inimigo. A batalha foi ferida defronte o mais belo castelo-fortaleza medieval de Portugal, hoje o mais importante monumento histórico do País: o castelo de Guimarães. Após a batalha, D. Afonso Henriques proclamou a independência do reino de Portugal, anteriormente chamado de Condado Portucalense, libertando-se da vassalagem aos reinos de Leão e Castela.



Conde D. Henrique de Borgonha.
Chefe do Condado Portucalense, antes da 
existência de Portugal. Pai de D. Afonso Henriques, 
o fundador do Estado português.



D. Tereza de Leão, mãe de D. Afonso Henriques,
o fundador do Estado português.


D. Afonso Henriques (Afonso I) (1109-1185). 
Primeiro rei de Portugal. Vencedor da batalha de 
São Mamede, próxima a Guimarães, em 24 de 
junho de 1128, transformando o Condado 
Portucalense no Reino de Portugal.


Estátua de D. Afonso Henriques no 
Castelo de São Jorge em Lisboa, 
réplica da original, que se encontra 
em Guimarães. 

Castelo de Guimarães



Castelo de Guimarães, núcleo inicial da formação de Portugal.



Castelo de Guimarães, visto do alto de uma de suas torres.



Outros locais de emigração de portugueses para o Brasil foram as diversas localidades na Serra da Estrela, as cidades de Lamego, Viseu (e seu distrito de Vouzela, de onde partiu para o Brasil o lendário João Ramalho, genearca das mais antigas famílias do sudeste brasileiro, incluindo a família Corrêa), Coimbra, e também do arquipélago dos Açores, em particular da Ilha do Fayal.


Lamego, Santuário de N.S. dos Remédios. Portugal.



Lamego, interior do Santuário de N.S. dos Remédios. Portugal.

Vouzela, Concelho de Viseu, Portugal. Terra natal do 
maior genearca das grandes famílias do Sudeste 
do Brasil: João Ramalho.


Cidade de Horta, Ilha do Fayal, Arquipélago dos Açores, Portugal.



Mapa do Arquipélago dos Açores, Portugal.


Ilha do Fayal. Arquipélago dos Açores. Portugal.
Foto: Tomás Melo, Flickr.

Dentre esses imigrantes, sobressaiu-se na colonização da margem esquerda do Alto São Francisco, na Capitania de Minas Gerais, a família de Jerônimo da Costa Guimarães. Jerônimo nasceu, em 1698, na Freguesia de São Torcato, termo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga, em Portugal, como relata Fenelon Ribeiro em sua obra Povoamento e Colonização – Centro Oeste Além São Francisco – Dores do Indaiá – Fragmentos da Genealogia do Capitão Amaro da Costa Guimarães (p. 30). Seus antepassados nasceram nas Freguesias de São Torcato e da Costa, ambas no Concelho de Guimarães.


Santuário de São Torcato, Guimarães.


Jerônimo era filho de João Lourenço da Costa Souto (1660-?), natural de Souto, Guimarães, que casou-se em 10/10/1681 com Jerônima Martins Costa (1660-?), nascida em Costa, Guimarães, e falecida em São Torcato. Jerônima era filha de Pedro Dias (1630-1696), que nasceu em Costa, Guimarães, e faleceu em são Torcato, e Maria Martins (1635-?), que também nasceu em Costa, Guimarães, e faleceu em local ignorado em Portugal. Ela era filha de Martim Gaspar e Antônia Gonçalves. Os antepassados de Pedro Dias não foram encontrados.

Queluzito, MG. Matriz de Santo Amaro.


 Jerônimo emigrou para o Brasil, mais exatamente para Santo Amaro (atual Queluzito, próximo a Conselheiro Lafaiete, que era chamada Queluz), na Capitania de Minas Gerais, onde se casou com Damiana de Jesus, na Matriz de Santo Amaro de Queluzito, em primeiro de novembro de 1733. Ela era natural da Freguesia de São Miguel de Urrós, vale do Arouca, bispado de Lamego, Portugal. Este casal teve dez filhos, mas citarei apenas os que estiveram diretamente envolvidos com a colonização da margem esquerda do Alto Rio São Francisco, já que ali foram os primeiros a se estabelecer, inicialmente como colonos e, depois, como donos de sesmarias. Foram os seguintes: Joaquim da Costa Guimarães (2º. filho), José da Costa Guimarães (4º. filho), Páschoa Maria de Jesus (5ª. filha), João da Costa Guimarães (6º. filho) e Amaro da Costa Guimarães (8º. filho).


Queluzito, MG. Matriz de Santo Amaro.


Páschoa Maria de Jesus (1741-1815) permaneceu em Queluz, onde faleceu em 1815, e não participou diretamente da colonização desta região acima citada. Páschoa casou-se com Luiz de Almeida, em 1761, na Matriz de Santo Amaro, em Queluzito, tendo ambos falecido em 1815, nesta cidade.

Segundo pesquisas do estudioso em genealogia, Sr. Iácones Batista Vargas, este casal teve, uma filha, Custódia Luiza de Sant’Anna, que se tornou proprietária da fazenda Cachoeira, localizada próximo à Serra da Saudade, em Dores do Indaiá. Consultando o testamento de Jerônimo da Costa Guimarães, pai de Páscoa, encontramos o seguinte: "Deixo a minhas duas netas e afilhadas Custódia e Josefa, filhas de minha filha Páscoa, vinte mil réis a cada uma." Constatamos, assim, que Páscoa teve duas filhas. Não obtivemos ainda informações sobre Josefa. Nesta época, com dois mil réis se adquiria uma boa vaca ou boi.
 
É importante ressaltar que o Sr. Iácones Batista Vargas realizou sua pesquisa cartorial em Pitangui, dados que gentilmente enviou-me há pouco mais de um ano. O casal Custódia Luiza de Sant'Anna e Luiz de Almeida teria tido duas filhas: Teodora Cândida de São José, casada com Felisberto Moreira da Silva, natural de Curral del Rey, e Eufrásia Silvéria de São José, casada com João Ignácio de Oliveira Braga, natural de Queluz.

Os estudos de genealogia são complexos e, muitas vezes, encontramos informações contraditórias. É o que ocorre no presente caso, quando Carlos Cunha Corrêa, o autor do livro Serra da Saudade, relata (p. 183), como vimos acima, que a fazenda Cachoeira foi organizada por Manuel Alves Cirino, em parceria com seus sogros, tendo ele se casado com Custódia Jacinta de São José, filha legítima de Custódia Luiza de Sant’Anna e Domingos Gonçalves Machado. Seus dados foram obtidos na declaração encontrada no testamento desta mesma Custódia Jacinta de São José. Este casal teve apenas uma filha, Ana Jacinta de São José, que, posteriormente, contraiu núpcias com Manuel Carvalho de Campos. Estes teriam gerado descendência e continuaram residindo na fazenda Cachoeira.

Essas informações conflitantes podem fazer-nos levantar a hipótese de que Custódia e Domingos tenham tido mais de uma filha, e não apenas Ana Jacinta de São José, como afirmado por Carlos Cunha Corrêa. De qualquer forma, a fazenda Cachoeira seria propriedade do casal Domingos e Custódia, ela filha de Páschoa Maria de Jesus, irmã do capitão Amaro da Costa Guimarães, um dos fundadores de Dores do Indaiá e tendo também como proprietários Manuel Alves Cirino e Custódia Jacinta de São José, este último também um dos fundadores do arraial.

Domingos e Custódia se deslocaram para a região da Serra da Saudade na mesma ocasião que seus tios haviam aí se estabelecido. Esta é a região esquerda do Alto São Francisco, onde hoje é o território de Dores do Indaiá, Estrela do Indaiá, Luz e Serra da Saudade. A origem da fazenda Cachoeira teria como base um provável desmembramento da sesmaria de Joaquim da Costa Guimarães, ou de seu irmão José da Costa Guimarães, ambos irmãos do capitão Amaro.

Para que se tenha ideia da imensidão de terras que os irmãos Costa Guimarães possuíam, concedidas em sesmarias pelo governo da Capitania de Minas Gerais, em 1785 (já moravam na região, como colonos, desde 1765), transcrevemos o texto de Carlos Cunha Corrêa, em Serra da Saudade (pp. 165-166):

"Deve notar-se que todo o território que vai do S. Francisco à Serra da Saudade, compreendido entre os ribeirões Jorge Grande e Antas e cabeceiras do ribeirão dos Porcos, foi ocupado pela família Costa Guimarães e a ela concedida por sesmaria.

Assim, no mesmo mês de junho de 785, foi expedida a carta de sesmaria a favor de João da Costa Guimarães (provavelmente irmão do Cap. Amaro), em terras que prosseguiam para o Poente, dizendo-se: ...”morador da parte dalém do Rio S. Francisco chamada do Bom Sucesso que ele está cultivando na dita paragem (h) aperto de vinte anos e tem avultada criação de gado vacum e cavalar, sendo DOS PRIMEIROS POVOADORES daquele continente...” etc. E foram-lhe concedidas três léguas em quadra", confrontando da parte do Nascente com Amaro da Costa Guimarães e do Poente com terras de Joaquim da Costa Guimarães, do Norte com o ribeirão das Antas e do Sul com o ribeirão denominado Jorge do Meio” (27 de junho de 785).

A de Joaquim da Costa Guimarães, também de 3 léguas em quadra, confrontava ao Nascente com João da Costa Guimarães, ao Poente com a Serra do Indaiá e suas vertentes, ao Norte com José da Costa Guimarães, e ao Sul procurando a ponta da Serra sertão devoluto.

A de José da Costa Guimarães (3 léguas em quadra) confrontava ao Nascente com os herdeiros do defunto Victorino, ao Poente com o sertão devoluto Serra do Indaiá, ao Norte com o ribeirão dos Porcos e Serra das Saudades, e ao Sul com Joaquim da Costa Guimarães (27 de junho de 785)."

Território aproximado concedido em sesmarias aos irmãos Costa Guimarães.
Dados e figura extraídos de Serra da Saudade, de Carlos Cunha Corrêa,
1948, (pp. 165-167). A fazenda Cachoeira ficava próxima à Mata da Eufrásia,
origem da linhagem dos Oliveira de Dores do Indaiá.


Como vimos, os Costa Guimarães são provenientes da Freguesia de São Torcato, termo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga, em Portugal e vieram para o Brasil, provavelmente, no início do século XVIII (não encontrei dados precisando as datas). Repetindo, o primeiro da linhagem desta família a aportar no Brasil, foi Jerônimo da Costa Guimarães (1698-1790). Portanto, se associarmos as versões de Carlos Cunha Corrêa e de Iácones Batista Vargas, Ana Jacinta de São José seria bisneta de Jerônimo, neta de Páschoa, e filha de Custódia Luiza de Sant’Anna.

Ana Jacinta casou-se com Manuel Carvalho de Campos e teve quatro filhos: 1- Maria Jacinta, casada com José Ferreira Palhares; 2- Francisca, casada com Manuel Ferreira Palhares; 3- Maria do Carmo, casada com Custódio da Costa Gontijo; 4- Joaquim Teles de Carvalho, casado com Carlota Delfina dos Santos.

Custódio da Costa Gontijo, veio com sua mãe, Maria Silvéria do Sacramento, e irmãos, em 28 de março de 1847, para a fazenda Cachoeira, logo após o falecimento de seu pai, João Evangelista da Costa Gontijo, no antigo vilarejo chamado Doce, atual município de Moema. Um dos fundadores de Moema foi Manoel da Costa Gontijo, provavelmente irmão de João Evangelista. Portanto, nesta versão de Carlos Cunha Corrêa, a fazenda Cachoeira já existia e sua proprietária seria sua sogra, Ana Jacinta de São José.

Uma hipótese que aventei para esta divergência é que a fazenda Cachoeira tenha sido propriedade de um consórcio de pessoas da mesma família, estando à frente da propriedade Custódia Luiza de Sant’Anna, mas sua formação teria cabido a seu genro Manuel Alves Cirino. Após a concessão das sesmarias na Capitania de Minas Gerais, era muito comum que seus proprietários dividissem partes desse grande terreno, os vendessem ou estabelecessem consórcios, quer dizer, se associassem a pessoas da família, ou mesmo a estranhos, já que era absolutamente inviável a administração de tão extensos territórios. Reiteramos, Manuel Alves Cirino participou na fundação do Arraial da Boa Vista, núcleo do futuro arraial de Dores do Indaiá.

Onze anos após sua chegada à fazenda, a filha de Ana Jacinta de São José, Maria do Carmo, casou-se com Custódio da Costa Gontijo, conforme certidão no cartório de Dores do Indaiá, transcrita por Carlos Cunha Corrêa (p. 163):

"Certifico que aos 7 de junho de 1858, na fazenda da Cachoeira, solenemente receberam-se em Matrimônio perante mim que lhes dei as bênçãos nupciais os contraentes Custódio da Costa Gontijo, filho legítimo do finado João Evangelista da Costa Gontijo e D. Maria Silvéria do Sacramento, natural de Bom Despacho, com D. Maria do Carmo Carvalho, filha legítima de Manuel Carvalho de Campos e D. Ana Jacinta de São José, natural desta freguesia de Dores do Indaiá, branca. Foram padrinhos José Jacinto Rodrigues Zica e Elias Pinto Coelho. Cachoeira, 7 de junho de 1858. O vig.° João Batista de Aguiar."

Daí em diante, Carlos Cunha Corrêa não aprofundou seus estudos sobre esta fazenda.

Voltando às pesquisas do Sr. Iácones Batista Vargas, como vimos, Custódia Luiza de Sant’Anna era filha de Páschoa Maria de Jesus, irmã do capitão Amaro da Costa Guimarães. Como também já foi citado, o pai de Páschoa foi Jerônimo da Costa Guimarães. Vamos agora nos aprofundar um pouco mais na genealogia de Páschoa, do capitão Amaro e seus irmãos.

Jerônimo era filho de João Lourenço da Costa Souto (1660-?), natural de Souto, Guimarães, que casou-se em 10/10/1681 com Jerônima Martins Costa (1660-?), nascida em Costa, Guimarães, e falecida em São Torcato. Jerônima era filha de Pedro Dias (1630-1696), que nasceu em Costa, Guimarães, e faleceu em são Torcato, e Maria Martins (1635-?), que também nasceu em Costa, Guimarães, e faleceu em local ignorado em Portugal. Ela era filha de Martim Gaspar e Antônia Gonçalves. Os antepassados de Pedro Dias não foram encontrados.

Brasão de São Torcato. Guimarães.


Brasão da Freguesia de Costa, Guimarães.


Capela de São Torcato, Guimarães, Braga, Portugal.

João Lourenço da Costa Souto era filho de João Lourenço (homônimo do filho) (1630-?), que nasceu em Souto, Guimarães, e faleceu na mesma localidade, casou-se em 1650 com Maria Francisca (1630-?), que nasceu em Souto, Guimarães e faleceu na mesma localidade. Não foram encontrados os seus antepassados.

Martim Gaspar (1595-?) nasceu em São Torcato e era filho de Gaspar Gonçalves e Helena Gonçalves, e se casou em 1620, na mesma localidade, com Antônia Gonçalves (1602-1675), nascida e falecida em São Torcato. Antônia era filha de Salvador Gonçalves e Perpétua Gonçalves Pires.

Gaspar Gonçalves (1565-?) nasceu em São Torcato e se casou em 1590, na mesma localidade, com Helena Gonçalves (1565-?) que também nasceu em São Torcato. Seus antepassados não foram encontrados.

Salvador Gonçalves (1575-?) nasceu em São Torcato e casou-se duas vezes. Primeiramente, casou-se com Perpétua Gonçalves Pires (?-1612), nascida e falecida em São Torcato. Este casamento ocorreu em 12/11/1600, na mesma localidade. Ela era filha de João Pires e Catarina Pires. Este casamento durou apenas 12 anos, em função do falecimento de Perpétua. O segundo casamento ocorreu em 01/05/1613, também em São Torcato, sendo Margarida Gaspar a segunda esposa de Salvador. Ela era filha de Gaspar Gonçalves e Ana Luís. Ele era filho de Domingos Gonçalves e Filipa Gonçalves Pires. Provavelmente, Salvador e Perpétua eram primos em primeiro grau.

Domingos Gonçalves (1545-?) nasceu em São Torcato e se casou com Filipa Gonçaves Pires (1545-?) na mesma localidade. Não foram encontrados seus antepassados.

João Pires (1609-?) nasceu e morreu em São Torcato, assim como sua esposa Catarina Pires (1575-?). Também não foram encontrados os antepassados deste casal.

A obtenção de tais dados, tão aprofundados, da genealogia de Pedro José de Oliveira e Silva, só foi possível graças à pesquisa da historiadora Avelina Maria Noronha de Almeida, de Conselheiro Lafaiete, e divulgados em seu blog na internet (http://avelinagenguimaresgmailblogs.blogspot.com.br/). Ela é uma descendente de Jerônimo da Costa Guimarães, o pai do Capitão Amaro, de Páschoa (ancestral de Pedro José) e dos demais irmãos colonizadores da região do Alto São Francisco, que, como vimos, emigrou de Portugal para Queluz, atual Conselheiro Lafaiete. Como vocês podem constatar, chegamos a 9 gerações de antepassados de Pedro José de Oliveira e Silva, missão que, até há bem pouco tempo, considerávamos muito difícil de ser conseguida. Os interessados podem acessar o blog da historiadora Avelina, que é deveras interessante e instrutivo, além de ser uma mostra perfeita do que é capaz de produzir uma pesquisa sistemática e paciente. A autora se baseou, principalmente, no site de genealogia norte-americano, cujo link é o seguinte:
http://www.familysearch.org/.

Já que escrevi tanto sobre a localidade de São Torcato, da freguesia de Guimarães, arcebispado de Braga, Portugal, vejamos quem foi São Torcato. Ele é um santo português, nascido em Guimarães, tendo vivido entre os séculos VII e VIII. Foi descendente de família nobre romana, os Torquatus. Desde sua juventude se mostrou um homem pio e virtuoso. Em decorrência da sua sabedoria, que o levava à firmeza e à eloquência na defesa de sua doutrina, ele deu motivação à realização do XVI Concílio de Toledo, em 693, quando foi aclamado arcebispo de Braga e, em seguida, do Porto e de Dume. Nesta época, a Península Ibérica vivia sob o reinado visigodo, que se iniciara desde a queda do Império Romano, no IV século d.C.

Em 711, os mouros muçulmanos invadiram a Península Ibérica e, em menos de dois anos, haviam dominado quase todo o território, à exceção do norte, próximo aos Pireneus, a Galícia e o norte do atual Portugal. O chefe mouro Tarik enviou seu general Muça para conquistar toda esta região e espalhar o credo muçulmano por todo lado. Entretanto, encontrou a obstinada resistência do arcebispo, disposto a lutar pela sua crença e impedir que seus fiéis abandonassem o Cristianismo. O encontro entre os dois líderes, os muçulmanos com um poderoso exército, e os cristãos contando apenas com 276 combatentes, se deu em Guimarães.

Torcato fez um discurso com tal veemência que Muça, possuído pelo ódio, desembainhou a espada e desferiu um golpe fatal sobre o arcebispo. Em seguida, todos os seus companheiros foram massacrados. De acordo com a lenda, isso ocorreu em 26 de fevereiro de 715 ou 719. Segundo a tradição, o corpo de Torcato foi, posteriormente, encontrado intacto, sem sinais de decomposição, em um bosque, entre flores do campo e sob um monte de pedras. Ao ser exumado, brotou uma fonte de água caudalosa, que se mantém até hoje e é chamada de Fonte de São Torcato.

Quando seu corpo foi descoberto, as pessoas não sabiam quem era. Um dos homens que participou do evento deu uma sacolada no rosto do santo, cuja marca persistiu, quando ouviu-se uma voz: “Cuidado, que está aqui Torcato”. Como não houvesse água para lavar o corpo, decidiram retirá-lo do local, e foi aí, neste momento, que começou a brotar milagrosamente a água.


Altar onde está sepultado São Torcato, Guimarães.


Neste local foi erigida uma capelinha em sua honra. Seu corpo hoje se encontra sepultado em uma câmara de vidro, no Santuário de São Torcato. Quando seu corpo era transportado para a cidade por meio de uma junta de bois, a partir de determinado local os animais não andaram mais, empacando. Isso levou os moradores da região a erigir uma igreja neste local para que o corpo lá permanecesse. Portugal sempre foi um país de uma forte fé católica e São Torcato é um dos principais santos da terra lusitana. Tal relato nos é transmitido pela historiadora Avelina Maria Noronha de Almeida, em seu blog.


Matriz de Bom Jesus de Braga, arcebispado de Braga, Portugal.


Voltando, novamente, ao tema dos descendentes de Páschoa Maria de Jesus, também vimos que, nas pesquisas de Iácones Batista Vargas, Custódia teve duas filhas: Teodora Cândida de São José, casada com Felisberto Moreira da Silva, natural de Curral del Rey, e Eufrásia Silvéria de São José, casada com João Ignácio de Oliveira Braga,  natural de Queluz. João Ignácio era filho do capitão Manoel José Braga, natural de Oliveira de Azeméis, Distrito do Porto e Arcebispado de Braga, Portugal. Segundo Iácones, dele descendem os Carvalho, os Couto (de Luz, MG) e os Tonaco. O capitão era casado com Ana Thereza de Jesus, natural da Ilha do Fayal, Arquipélago dos Açores, Portugal.


Oliveira de Azeméis, Distrito do Porto, Portugal. Igreja Matriz.


Matriz de Oliveira de Azeméis, Distrito do Porto, Portugal.
Oliveira de Azeméis, Distrito do Porto, Portugal. Centro histório.


Eufrásia Silvéria de São José teria inspirado o nome com o qual foi batizada a Mata da Eufrásia, no atual município de Estrela do Indaiá, então pertencente a Dores do Indaiá. Ela e seu esposo João Ignácio de Oliveira Braga tiveram uma filha, Clara Cândida de São José, que se casou com seu primo em primeiro grau, Bernardo José da Silva (falecido em 1871), filho de Teodora Cândida de São José, irmã de Eufrásia, e Felisberto Moreira da Silva.

Clara e Bernardo tiveram cinco filhos: Pedro José de Oliveira e Silva (1857-1938), nosso biografado; Eufrásia Cândida de São José, nascida em 1860, casada com Virgílio da Costa Gontijo; Theodora Cândida de São José, nascida em 1863, casada com João Ignácio da Silva Tonaco; João Ignácio de Oliveira (e Silva), nascido em 1866, casado com Maria Firmina do Carmo; José Ignácio de Oliveira e Silva, nascido em 1869.

Pedro José, filho mais velho de Bernardo e Clara, perdeu o pai com 14 anos, em 1871. Provavelmente ajudou sua mãe a criar seus quatro irmãos. O resultado foi uma grande, bela, conceituada e honrada família. Todos eles tornaram-se pessoas do bem.

Não existem dados quanto à juventude de Pedro José. Como nasceu e foi criado em fazenda, muito provavelmente começou a fazer pequenos negócios com gado e foi economizando seu dinheirinho. Conheceu Anna Theodora de Mendonça (Dona) ainda jovem. Ela era filha de um dos mais conceituados personagens da história de Dores do Indaiá, na segunda metade do século XIX, João Joaquim da Cunha, e, como de hábito em toda a região, o casamento ocorria com pouco conhecimento entre os nubentes. Geralmente o pai do jovem interessado procurava o pai da moça e propunha a união sagrada. Caso não houvesse maiores empecilhos, a efeméride ocorria em idade muito precoce. A mulher em torno dos 13 para 14 anos, no máximo 20. O homem na faixa de seus vinte e poucos anos.

Como assinalei acima, Anna Theodora era filha de João Joaquim da Cunha e Maria José Carolina de Moura. De acordo com Carlos Cunha Corrêa, sobrinho de Anna, irmã de sua mãe Maria Theodora de Mendonça (Mindola), Maria José Carolina de Moura era filha de holandês. O Sr. Iácones Vargas encontrou referências cartoriais, em Dores do Indaiá, de que seu pai chamava-se Felício “Gonçalves dos” Reys e sua mãe Bernarda Maria da Silva. Seu testamento foi lavrado na Vila de Dores do Indaiá, em 22 de fevereiro de 1884. Se a informação de Carlos Cunha Corrêa estiver correta, o nome do pai de Maria José teria sido, provavelmente, modificado, talvez propositalmente, já que sua origem seria holandesa. Pergunta ainda sem resposta: seria um judeu batavo ou flamengo que veio para a região do Alto São Francisco em busca dos diamantes dos rios Indaiá e Abaeté? São especulações que requerem maiores investigações.


Anna Theodora de Mendonça (Dona), na sua única 
foto conhecida. Instantâneo que a pegou de surpresa, 
pois não gostava de ser fotografada. Sentada, 
ao seu lado, está sua neta Cecy de Oliveira 
com uma de suas filhas ao colo. Ao fundo vê-se o 
casarão em que viveram Pedro José e Dona 
em Dores do Indaiá. Ca. 1936/37. 
Foto: Waldemar de Oliveira.


Pensionato das alunas provenientes de outras cidades para estudar
na Escola Normal de Dores do Indaiá. Tornou-se depois Classes Anexas.
Em outubro de 1959 o prédio foi destruído num incêndio acidental. Ficava
ao lado da casa de Pedro José de Oliveira e Silva, na atual Praça
prof. Waldemar de Almeida Barbosa.
Foto de autor desconhecido. S/d.


João Joaquim da Cunha era descendente de Antônio Theodoro de Mendonça (Nico Teodoro), homem muito conhecido e respeitado em toda a região. Segundo o prof. Waldemar de Almeida Barbosa, em sua obra Dores do Indaiá do Passado (p. 27), de 1964, Antônio Theodoro de Mendonça foi o vereador mais votado nas primeiras eleições para a Câmara Municipal, em 1885, quando a vila tornou-se cidade de Dores do Indaiá. Recebeu 691 votos. Era natural de Pitangui, mas residia nas proximidades da atual cidade de Abaeté, tendo sido o doador do patrimônio desta cidade. Na verdade, ele doou terras que pertenciam a seu irmão menor, Teodoro Janeiro de Mendonça, com a condição de que este, quando atingisse a maioridade, deveria passar a escritura de doação. Nico Teodoro era filho de português, o capitão Antônio Theodoro de Mendonça, seu homônimo, e de funesta memória, em função de ter sido um dos dizimeiros da Província de Minas Gerais (coletor dos dízimos para o governo provincial, que repassava uma pequena parte para a manutenção da Igreja). Este capitão Antônio Theodoro de Mendonça, homem bravo, cruel e temido, foi assassinado na fazenda do Tigre, atual cidade de Abaeté, em 1835, quando acabara de expropriar a fazenda de um ex-militar, sua esposa e três filhos, que deviam os dízimos. Esses fatos estão muito bem relatados no livro História de Abaeté  - Temperada com um pouco de sal e pimenta, de autoria do Dr. José Alves de Oliveira (Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1970, pp. 83-98).

Nico Teodoro deixou filhos ilustres, entre eles o dr. Domingos Theodoro de Mendonça, que foi juiz de direito em Pitangui.


João Joaquim da Cunha (1810-1890).
Descendente de Nico Theodoro de Mendonça e do
Capitão Antônio Theodoro de Mendonça. Pai de
Maria Theodora de Mendonça, Anna Theodora 
de Mendonça (Dona) e Modesto Joaquim da Cunha, 
entre outros filhos. Ancestral das famílias
Oliveira, Cunha, Teles, Carvalho, entre outras.
Foto de autor desconhecido, colhida em meados 
da década de 1880, pouco após ficar viúvo de
Maria José Carolina de Moura. Eram proprietários 
da fazenda Capão Grande. Fonte: Carlos Cunha
Corrêa, em Serra da Saudade.


João Joaquim da Cunha e Maria José Carolina de Moura tiveram 11 filhos: Jerônimo, Antônio Boaventura, Modesto, Pedro, Hornélia, Bernarda, Maria Theodora (Mindola), Carlota, Lidroneta, Anna (Dona) e Amador. Por razões desconhecidas, em seu testamento, Maria José Carolina de Moura legou a fazenda do Capão Grande, na margem do Ribeirão dos Porcos a apenas cinco filhos: Maria Theodora (Mindola), casada com Luiz Corrêa de Souza, meus bisavós paternos; Lidroneta, casada com Carlos Theodoro da Costa; Modesto Joaquim da Cunha, Pedro Theodoro de Mendonça e Amador Theodoro de Mendonça. O herdeiro remanescente foi seu marido João Joaquim da Cunha. O fato de Maria José possuir uma fazenda desse porte reforça nossa impressão de que ela herdara um patrimônio construído por seus pais em alguma atividade paralela à agropecuária.





Peças de porcelana que pertenceram a Maria José Carolina
       de Moura, esposa de João Joaquim da Cunha. Acervo de
       Selma Corrêa de Queiróz, sua bisneta, residente
em Dores do Indaiá.


Um dos filhos de João Joaquim da Cunha e Maria José Carolina de Moura foi Modesto Joaquim da Cunha, casado com Clara Theodora Mendonça Cunha. Este casal, Modesto e Clara, teve vários filhos. Um deles foi Aurora Theodora de Mendonça, casada com Francisco Pinto de Oliveira (Chico Italiano), natural de San Giovanni, uma aldeia localizada próximo a Nápoles, Itália. Ambos deram origem às grandes linhagens dos Teles, Carvalho e Oliveira (esta não é a mesma linhagem de Pedro José), de Dores do Indaiá. Uma das filhas de Chico Italiano e Aurora Theodora de Mendonça foi Clarinda Theodora de Oliveira, casada com Belmiro Teles de Carvalho, que deixou grande descendência em Dores do Indaiá. Outro filho de Modesto Joaquim da Cunha foi Francisco Agnelo (Chico Agnelo), patriarca de grande descendência em Dores do Indaiá.




Francisco Pinto de Oliveira (Chico Italiano) e 
Aurora Theodora de Mendonça, filha de Modesto 
Joaquim da Cunha e neta de João Joaquim da Cunha.
Foto de autor desconhecido. S/d.
Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa.


Clarinda Theodora de Oliveira, filha de 
Chico Italiano Aurora Theodora de Mendonça.
Bisneta de João Joaquim da Cunha. 
Casada com Belmiro Teles de Carvalho.
Foto de autor desconhecido. S/d. 
Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa.



Belmiro Teles de Carvalho, casado com
Clarinda Theodora de Oliveira.
Este casal uniu as linhagens
Cunha, Oliveira, Teles e Carvalho.
Foto de autor desconhecido. S/d.
Foto do acervo de Ângela e Mônica Corrêa.

Não conseguimos descobrir a data do casamento de Pedro José de Oliveira e Silva com Anna Theodora de Mendonça (Dona), mas certamente ocorreu na cidade de Dores do Indaiá. O casal teve oito filhos, a saber:

1- João Ignácio da Silva (1891-1957), casado com Amazília Maria de Oliveira (1895-1969), sua prima em primeiro grau, meus avós maternos;

2- Clara Cândida de São José (Mundinha), casada com José Lopes de Oliveira;

3- José Ignácio de Oliveira (Zé da Carlota), casado com Carlota de Oliveira;

4-   Otaviano de Oliveira, solteiro;

5-   Carlos de Oliveira Santos, casado com Maria Aleluia Teles de Carvalho;

6-   Maria José de Oliveira (Cota), casada com Simeão José de Oliveira;

7-   Zita de Oliveira, casada com Custódio de Oliveira;

8-   Aurora de Oliveira, casada com Luiz Ribeiro Corrêa.



João Ignácio da Silva (1891-1957).
Filho primogênito de Pedro José. 
Avô materno do autor.


Amazília Maria de Oliveira (1895-1969).
Esposa de João Ignácio, seu primo em 
primeiro grau (filha de João Ignácio de 
Oliveira e Silva). Avó materna do autor.


São os seguintes os demais irmãos de Pedro José de Oliveira e Silva e seus filhos (dados fornecidos pelo Sr. Iácones Batista Vargas):

Eufrásia Cândida de São José (com 11 anos em 1871), casada com Virgílio da Costa Gontijo (primos, ele filho de Pedro da Costa Gontijo e Clara Petronilha de São José, irmã de Bernardo José da Silva). São os pais de:
      1. Marcondes da Costa Gontijo.
      2. Eloy da Costa Gontijo.
      3. Veraldina da Costa Gontijo (de Faria, “Mulatinha”), casada com         
          Marcondes de Souza Faria.
      4. Alzimira Maria da Conceição.

      Theodora Cândida de São José (com 8 anos em 1871). Primeira esposa de seu primo João Ignácio da Silva Tonaco (filho de Antônio Theodoro da Silva Tonaco e Custódia Luiza de Santana , sendo ela irmã de Clara Cândida de São José, filhas de João Ignácio de Oliveira Braga e Eufrásia Silvéria de São José). Tiveram quatro filhos:
     1. Frederico Tonaco Sobrinho. Mudou-se para Uberaba-MG
     2. Cristina, casada com Dâmaso, avós de Dona Branca.
     3. Clara, casada com seu primo Epaminondas Tonaco. 
   4. Maria Teodora, casada com Irineu, irmão de Dâmaso, pais de Rosa, casada com Joaquim Venâncio, pais de Selma, esposa do médico Dr. João Dário Ribeiro.

     João Ignácio de Oliveira (ou João Ignácio de Oliveira e Silva, com 5 anos em 1871), casado com Maria Firmina do Carmo. Pais de:

        1. Paulino José de Oliveira e Silva, casado com Joaquina Maria de Morais
      2. José de Oliveira e Silva (“José Inácio”), casado com Julieta Maria da Fonseca. Pais de Pedrinho Inácio, João Inácio, Zico Inácio.
       3. Amazília Maria de Oliveira, casada com João Ignácio da Silva (seu primo, filho de Pedro José), minha avó materna.
     4. Maria de Oliveira (“Mariquinha”), casada com Marcondes da Costa Gontijo.
        5. Alzira de Oliveira, casada com Victo Ferreira Coelho.
        6. Paulo de Oliveira. Faleceu solteiro, estudante de Medicina.
        7. Auta de Oliveira, casada com Mário Martins.
     8. João Inácio de Oliveira (“Joãozinho”, filho póstumo), casado com Geralda Morais de Oliveira.
      9. José Ignácio de Oliveira e Silva (com 2 anos e meio em 1871).  



Paulo de Oliveira, falecido aos
21 anos, em Ouro Preto, de mal
súbito, quando calçava os sapatos
pela manhã, sentado em sua cama,
em república de estudantes.
Foto do acervo de Cecy de Oliveira.

Pedro José foi construindo seu patrimônio aos poucos. Com o tempo adquiriu a fazenda das Condutas, a poucos quilômetros da cidade de Dores do Indaiá. Esta fazenda fazia parte da antiga sesmaria de Manoel Corrêa de Souza, o Correinha, que formou a fazenda dos Patos. Com a morte do Correinha, em 1836, seu filho e testamenteiro, João Corrêa de Souza, teve de vender parte da propriedade para quitar dívidas que o pai contraíra para ajudar na construção da Matriz de São Sebastião, na vila. Não encontramos, ainda, os dados sobre a data em que foi formada a fazenda das Condutas, desmembrada da velha fazenda dos Patos.


Ao tempo de Pedro José, Dores tinha a mesma aparência
que nesta foto de 1945. Ao centro uma grande depressão
arborizada, escavada pelo riacho das Condutas que formava
a Fonte do Povo, onde as lavadeiras usualmente lavavam
as roupas dos habitantes. Foto d
o acervo 
de D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca)
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.

Na fazenda das Condutas, Pedro José criou grande parte de sua família, incluindo os netos. Era um homem corretíssimo em seus negócios. Não gostava de ficar devendo a ninguém, honrando seus compromissos geralmente antes das datas de seus vencimentos. A progenitora do autor, Maria de Oliveira, filha de João Ignácio da Silva, seu filho mais velho, nasceu nesta propriedade e ali foi criada, bem como muitos de seus irmãos e primos. Apesar de ser um homem com problemas cardíacos, o que sempre o fragilizou para as atividades agropecuárias, lutou bravamente para se manter saudável, na medida do possível, seguindo os tratamentos médicos recomendados, a fim de honrar seus compromissos e criar sua prole. Sempre que alguém solicitava sua ajuda, o fazia prontamente. Até emprestava dinheiro para aqueles amigos mais necessitados, em momentos de aperto, sempre a juros abaixo do mercado. Nunca foi seu objetivo prejudicar alguém ou ter lucro com as dificuldades de quem quer que seja. Não se tem notícia de algum conflito de terras em que tenha se envolvido. Recebia os vizinhos e as pessoas que vinham para negociar gado de forma extremamente cortês, em sua fazenda.

Por volta de 1930 (ainda não obtive a data precisa), Pedro José, já cansado de tanta labuta, vendeu a propriedade para seu filho mais velho João Ignácio da Silva, avô materno do autor, com a concordância dos demais filhos. Ainda não consegui descobrir os termos da negociação. Assim, Pedro José e Dona mudaram-se para Dores do Indaiá, onde já possuíam um casarão bem próximo à Escola Normal Oficial Francisco Campos, defronte à atual Praça prof. Waldemar de Almeida Barbosa. Era uma casa enorme, com muitos quartos. Com o casal, também se mudaram vários netos, inclusive Maria de Oliveira, como já citado, progenitora do autor. Ele fazia questão de que seus netos e netas estudassem e se desenvolvessem na vida. Dentre os seus netos que com eles moraram e estudaram, podemos citar, além de Maria de Oliveira, os seguintes irmãos: Mario de Oliveira, Leny de Oliveira e Dirce de Oliveira; e os primos Cecy de Oliveira, Maria Alice de Oliveira, Lucy de Oliveira, Clara de Oliveira, Evandro de Oliveira, José de Oliveira Carvalho (futuramente tornou-se um dos professores mais respeitados da cidade), Pedro Teles de Oliveira (conhecido como Pedico, futuro farmacêutico e professor), e muitos mais que, para não cansar o leitor, não vou aqui enumerar.  



Classe de aula da profa. Iracema Duffles Teixeria Lott (irmã do Marechal Lott).
Ca. 1926. Nesta época, Pedro José já chamara a si a tarefa de educar vários
de seus netos, inclusive a mãe do autor, Maria de Oliveira, e sua prima,
Cecy de Oliveira. Aqui vistas na segunda linha da primeira coluna à direita
(Maria tem apenas parte do rosto aparecendo por trás da aluna
que está à sua frente). Foto de autor desconhecido. Foto do acervo
de Maria de Oliveira.


Detalhe da fotografia anterior, ampliada. Maria de Oliveira e 
Cecy de Oliveira, sentadas na mesma carteira, 
atrás da colega de branco que está à frente da foto. Foto
do acervo de Maria de Oliveira.


Relata Evandro de Oliveira, que conviveu com todos nesta casa, que Maria de Oliveira, mãe do autor, sendo a mais velha de todos os jovens estudantes, era uma espécie de “gerente”: administrava o rebuliço de jovens estudantes e punha ordem na casa. Sempre usando da persuasão amiga, mas com autoridade. Todos a respeitavam muitíssimo. Esta “gerência” perdurou até 1937, quando ela se graduou na Escola Normal Francisco Campos, casando-se com nosso pai, Dilermando Corrêa de Souza, logo em seguida.


Escola Normal Francisco Campos à época de Pedro José (1934)
Esta é a visão que ele tinha da escola de sua casa, já que era 

vizinho de muro da edificação à direita da foto, o Pensionato
São José, posteriormente Classes Anexas.
Foto de autor desconhecido e pertencente ao acervo

de Ângela e Mônica Corrêa.


Era a década de 1930 e a Escola Normal vivia seu apogeu. Havia professores de várias partes do Brasil e até um de origem alemã, o prof. Schmidt, que montara ali laboratórios de química, física e biologia. Pedro José e Dona, por viver numa casa tão grande, reservaram um quarto para aluguel a três professoras da Escola. Eram do Rio de Janeiro, as irmãs Iracema, Jacira e Juracy Duffles Teixeira Lott, irmãs do futuro Marechal Henrique Duffles Teixeira Lott, importante personagem de nossa era republicana, após o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. A casa era uma referência na cidade. Todos a conheciam pelo respeito e honradez infundidos pelo seu proprietário.


A Igreja Matriz de N.S. das Dores à época de Pedro José.
Na parte de trás havia duas torres, posteriormente
 incompreensivelmente demolidas por causa de goteiras.
Ca. 1928. Foto de autor desconhecido e pertencente a
o acervo 

de D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca)
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.

Eram famosas as cadernetas de armazém do Pedro José. Faziam-se as compras fiado, durante o mês, e, ao final do mesmo, era certo que seriam pagas antes de seu vencimento. Eram em número de três ou quatro cadernetas.

Outra visão da Igreja Matriz de N.S. das Dores.
Aqui em sua parte traseira (Ca. 1928). Foto de autor desconhecido

e pertencente ao acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães 
(D. Branca) e disponibilizada na internet por Eduardo 
Caetano Guimarães.

Era procurado para conselhos os mais variados e pelas mais variadas pessoas. Participava de movimentos religiosos e sociais filantrópicos promovidos na cidade. Nunca se soube de sua participação em movimentos de política partidária, nunca se envolveu em politicagens, apesar de ter sido vereador na cidade no início da década de 1930. Tinha suas convicções políticas, mas as guardava para si. Oferecia suas opiniões a quem lhe viesse pedi-las, sem nada impor, sem doutrinações, sem partidarismos. Não era um oráculo, mas sua opinião recebia o respeito de quem a ouvia. E, geralmente, pela sua sabedoria, equilíbrio e moderação, suas ponderações acabavam por se revelar as melhores. Era um mestre na arte de orientar na solução de conflitos.

Nos tempos de Pedro José ainda existia a Matriz de S. Sebastião,
na praça de mesmo nome, aqui vista ao fundo.
Demolida em 1937, num gesto absurdo de insensibilidade
e falta de respeito para com a preservação do patrimônio
arquitetônico da cidade. 1928. Foto de autor desconhecido

e pertencente ao acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães 
(D. Branca) e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano 
Guimarães.

Sua casa era movimentada o dia todo. Sua cozinha não parava de funcionar. A qualquer hora do dia em que chegasse alguém, e que não tivesse havia almoçado, delicadamente, Pedro José solicitava às suas funcionárias que esquentassem a comida para servir ao forasteiro. Sempre sobrava comida do almoço para as eventualidades, que não eram eventuais, eram a regra. Da chaminé de sua cozinha estava sempre a sair um rolinho de fumaça.

Outra visão da Praça de S. Sebastião com sua igreja,
quando de acontecimentos religiosos ao tempo de Pedro José.
Foto s/d, 
de autor desconhecido e pertencente a
acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães 
(D. Branca) e disponibilizada na internet 
por Eduardo Caetano Guimarães.


Pedro José sempre lutou por justiça social e era conhecido por sua honestidade pessoal, sua caridade e benemerência. Tratava os mendigos que chegavam famintos à sua casa da mesma forma que os demais parentes e amigos. Não foram poucas as vezes em que se testemunhou a presença de um mendigo almoçando nas dependências de sua casa.

Dentre suas funcionárias, duas se destacaram por serem consideradas como membros da família: Tereza, a mãe, e Tôca, a filha. Ambas descendentes de antigos escravos que moravam no bairro Cerrado, em Dores do Indaiá. Sobreviveram aos seus patrões e foram personagens que o autor conheceu quando, ainda criança, viveu em Dores do Indaiá.

Pedro José tinha o hábito de, diariamente, ler o jornal Lar Católico, tal era sua devoção religiosa. Não perdia as missas na Matriz, aos domingos, chovesse facas e canivetes. Pode-se imaginar a vida febril no cotidiano da casa, com tanta gente aí morando, notadamente jovens, entrando e saindo. Nunca se ouviu a voz de Pedro José ralhando com algum neto. Em função de seus problemas cardíacos, era quase sagrado o respeito e o silêncio mantidos dentro da residência. Frequentava ele os consultórios de seus médicos regularmente, seguindo fielmente suas prescrições. Era hipertenso e cardiopata, como dissemos.

A religiosidade popular dos dorenses
era marcante. Aqui em uma das
frequentes procissões saídas da Matriz.

Foto de autor desconhecido e pertencente a
acervo de D. Maria das Dores Caetano Guimarães 
(D. Branca) e disponibilizada na internet 
por Eduardo Caetano Guimarães.



Em meados de setembro de 1938, Pedro José foi acometido de um acidente vascular cerebral (AVC), mantendo-se em estado torporoso por quinze dias. Quinze dias de sofrimento para ele e para os seus. Segundo Evandro de Oliveira, que presenciou o acontecimento, faleceu Pedro José às 20 horas do dia 30 de setembro de 1938. Baixou um silêncio, como um véu, sobre a casa e a cidade.

Praça da Escola Normal ao tempo de Pedro José (Ca. 1928). 
Foto de autor desconhecido e pertencente ao acervo de 
D. Maria das Dores Caetano Guimarães (D. Branca) 
e disponibilizada na internet por Eduardo Caetano Guimarães.

Meu pai, Dilermando Corrêa de Souza, já casado com Maria de Oliveira, há quase um ano, era proprietário de um bar e sorveteria, do outro lado da praça, na esquina da Rua Goiás com Rua 15 (atual Av. Francisco Campos), em sociedade com seu irmão Omar Corrêa e seu cunhado Mário de Oliveira. Chamava-se Sorveteria Polar. Poucos anos depois (ele já havia vendido o negócio), tornou-se regionalmente conhecido como Bar do Zebuzeiro quando, em plena euforia da criação e comercialização do gado da raça zebu, ouvia-se o espoucar de garrafas de champagne por ocasião do fechamento de um grande negócio. Foram anos de “Paris é uma festa”, como magistralmente descrito por Ernest Hemingway, na Paris dos loucos anos 20. Isto em Dores do Indaiá, mantendo-se as suas devidas proporções. Em pleno sertão do Campo Grande. Pois bem, imediatamente após o último suspiro de Pedro José, Evandro correu para avisar Dilermando do ocorrido. Silenciosamente, as portas de aço do estabelecimento foram fechadas e todos se dirigiram à residência do defunto. Luto na cidade, luto em todas as casas. Sua morte causou verdadeira comoção, como geralmente ocorrem com grandes personalidades da política, das letras ou das artes. Seu sepultamento, pelo grande número de pessoas presentes, revelou o quanto era querido e respeitado por seus concidadãos.


A herança que legou para seus descendentes não foi material, seus bens não eram muitos, foi o exemplo de probidade.

Casa onde funcionou o Bar e Sorveteria Polar, propriedade de 
Dilermando Corrêa de Souza, pai do autor, e de seus sócios 
Omar Corrêa (seu irmão) e Mário de Oliveira (seu cunhado), 
entre 1937-1939. Posteriormente, tornou-se  o Bar do Zebuzeiro, 
local de grandes festas quando do fechamento de negócios 
vultosos com gado Zebu, no início da década de 1940. 
Esquina de Rua Goiás e Rua 15 (atual Av. Francisco Campos). 
S/d. Autor desconhecido.

Anna Theodora de Mendonça sobreviveu-lhe por menos de um ano. Em 29 de junho de 1939 juntou-se ao seu companheiro de toda uma vida em sua morada eterna.
Um exemplo de vida, um modelo de cidadão! Desses que não se fazem mais!

* * *

Posfácio

Ao encerrar a biografia deste grande homem que deve servir de exemplo para as gerações atuais e futuras, não poderia deixar de fazer alguns comentários sobre seu legado. A influência de Pedro José de Oliveira e Silva sobre sua descendência foi de tal ordem que, quase sem exceções, a família Oliveira, de certa forma, seguiu-lhe os passos. Quase todos os seus descendentes, que hoje chegam à 6ª. ou 7ª. geração, se revelaram pessoas do bem. São inúmeros os exemplos de figuras desta família que se destacaram e se destacam como pessoas de grande probidade, escrupulosidade, civismo, de grande honestidade no trabalho, além de bons  pais de família, bons esposos e filhos, cumpridores de suas obrigações para com suas comunidades, das quais participam em inúmeras atividades beneficentes. São empresários, ruralistas, artistas, profissionais liberais, professores, funcionários públicos, intelectuais, trabalhadores autônomos, etc. Quase todos são exemplos para suas respectivas comunidades e são respeitados por elas. Não gostaria de citar aqui este ou aquele nome para não ser injusto com os não citados, por lapsos de memória. Os Oliveira não se destacam pela ânsia do poder, do luxo, da riqueza, da glória. Pelo contrário, na maioria, são pessoas simples, não diria humildes, pois são briosos de seus direitos e orgulhosos do berço no qual nasceram. São, isto sim, pessoas comedidas, discretas, ponderadas, que não amam os holofotes da publicidade ou a fama mundana. São atitudes de sabedoria, seguramente herdadas de Pedro José de Oliveira e Silva. Não conheço, na história das famílias que tenho estudado, um exemplo como esse, de sobriedade e respeitabilidade, impressa em seus membros desde o momento de seu nascimento. É como se fosse uma marca d’água que vem impressa na testa do bebê, ao nascer, e o acompanha por toda sua existência. É admirável, e não quero aqui fazer qualquer auto-apologia, por ser membro desta grande família, encontrar linhagens como estas. A discrição é o mais evidente sinal de sabedoria que os Oliveira cultivam, desde quando nascem até o dia em que se vão deste vale de lágrimas.

Encerrando, quero escrever algumas palavras sobre minha mãe, Maria de Oliveira Corrêa (1913-1950), aquela que talvez tenha melhor encarnado o espírito do bem, infundido por seu avô Pedro José de Oliveira e Silva. Maria nasceu na fazenda das Condutas, de seu avô, como ademais alguns de seus tios e vários de seus irmãos e primos. Estudou as primeiras letras na fazenda com professores itinerantes que tinham essa nobre missão. Quando chegou a idade de continuar os estudos, já de segundo grau, Pedro José vendeu a fazenda para meu avô, João Ignácio da Silva, pai de Maria. Mas, Pedro José fez questão de levar a neta querida para sua casa em Dores do Indaiá com quem viveu até ela se casar. João Ignácio, era um homem por demais simples, preso a princípios do século XIX, e assaz teimoso, tanto que não permitiu que algumas de suas filhas estudassem, partindo do velho e ancestral princípio de que mulher aprende as prendas domésticas em casa, para o matrimônio, que ocorria quando eram muito jovens. Pedro José fez questão de levar Maria consigo, pois a amava e percebia nela o talento para aprender, estudar e crescer intelectualmente, além de ter excepcionais dotes artísticos. Também percebeu nela o sentido da liderança positiva e educativa. Assim, deu a ela a incumbência de coordenar toda a vida pessoal e estudantil dos outros netos que vieram morar em sua casa da cidade para que pudessem receber educação mais esmerada nas boas escolas da cidade de Dores do Indaiá. A Escola Normal Oficial Francisco Campos havia sido inaugurada em 1928 e Maria logo foi nela matriculada, por volta de 1930/31. João Ignácio não teve como se contrapor à decisão de seu pai, um monumento à sabedoria. Assim, Maria tornou-se, como relatei anteriormente, a “gerente” de toda a mocidade esfuziante representada por seus irmãos e primos que circulavam ou moravam na casa de Pedro José e Dona. Foram anos inesquecíveis para quem ali viveu, como o atestam os inúmeros depoimentos que ouvi durante toda a minha vida, e ainda ouço, pois várias das testemunhas insuspeitas estão vivas e lúcidas. Maria passou a ser respeitada, assim como Pedro José o era, nas suas devidas proporções, mesmo pela idade. Também ela se tornaria uma referência como pessoa do bem, e destacou-se pela sua candura, meiguice, solidariedade para com todos, dedicação aos estudos e à família, infundindo respeito e alegria por onde passava. Pedro José tornou-se o alter ego de Maria. Ela foi a encarnação do bem, a maior herança de seu avô. Herança que ela soube transmitir a todos os seus, aos amigos, conhecidos e a quem quer que seja que a conhecesse.


Maria de Oliveira (1913-1950).

Maria de Oliveira casou-se com seu primo em segundo grau, Dilermando Corrêa de Souza, em 18 de dezembro de 1937, data do aniversário dele. Deixou a casa de Pedro José para se casar e residir com Dilermando em uma casa próxima. Até o trabalho de Dilermando, o já citado Bar e Sorveteria Polar, se localizava defronte à casa de Pedro José e Dona. Era uma evidente manifestação de que os vínculos não haviam sido rompidos, muito pelo contrário, ambos queriam e amavam estar bem próximos aos avós tão queridos. Posso imaginar a emoção e o sentimento de perda que Maria teve quando do passamento de seu tão querido avô Pedro José. Tenho certeza que foi um evento arrasador para ela.


Maria de Oliveira  e Dilermando Corrêa de Souza.
Foto oficial de seu casamento, em 18 de dezembro de 1937, 
Dores do Indaiá.

Reza o dito popular que as pessoas boas não vivem muito. Assim foi com Maria de Oliveira. Da mesma forma como seu avô, era portadora de problemas cardíacos desde jovem. As causas não foram bem determinadas, talvez a doença de Chagas, então endêmica na região. Ou o fator heredo-constitucional, já que os casos de cardiopatias e hipertensão na família Oliveira são inúmeros. Em seu primeiro parto, em 1942, quase havia perdido a vida em decorrência de uma flebite que a prostrou no leito por seis meses, em Dores do Indaiá. Quando de meu nascimento, Dilermando e Maria moravam em Barretos, São Paulo. Os médicos recomendaram a eles que ela fosse assistida num grande centro médico-hospitalar. Assim, meu pai a levou para São Paulo, onde na Maternidade São Paulo, unidade da Universidade de São Paulo, em Bela Vista (Bexiga), cheguei ao mundo, em 1944.

Maria sobreviveu ainda por seis anos. Teve seu terceiro filho (o primeiro veio a falecer menos de 24 horas após nascido), meu irmão Dilermando Corrêa Filho, em Luz, Minas Gerais, para onde meus pais haviam se mudado em fins de 1948, para que pudesse ser melhor assistida pelo seu médico de confiança, Dr. Tácito Guimarães. Em 1950, não suportando mais seu sofrimento atroz, provocado pela insuficiência cardíaca, veio a falência múltipla de órgãos. Faleceu às 10,30 horas de 12 de agosto de 1950. Foi sepultada em Dores do Indaiá, no jazigo da família Oliveira, onde repousavam seus queridos avós Pedro José e Dona. Continuam juntos até hoje, onde quer que estejam.

Quando criança, aprendi que na constelação de Orion havia três estrelas: as três Marias. Em meu imaginário infantil acreditava que eram minha mãe e meus bisavós, Pedro José e Dona, a olhar por nós.

 Continuo ainda hoje a acreditar. E sei que olham por todos nós de nossa família!

* * *

Serei eternamente grato pela contribuição na elaboração deste texto aos primos Evandro de Oliveira e Clara de Oliveira, e Tia Dirce de Oliveira Bernardes.

* * *

Para quem desejar saber mais sobre o que foi apresentado nesta postagem, sugiro acessar os links abaixo.

Quem desejar conhecer a história de Portugal este é o melhor link da internet: a História Essencial de Portugal, apresentada pelo grande e falecido prof. José Hermano Saraiva:


Aqui, a história da formação do reino de Portugal, de condado ao reino. História de D. Afonso Henriques (D. Afonso I), o fundador do reino português:


Excelente blog sobre Portugal e suas belezas:


Documentário sobre Oliveira de Azeméis:


Documentário sobre o Castelo de Guimarães: